Quantos amigos conquistamos no
percurso de uma vida? Poucos, pouquíssimos! Os dedos de uma mão podem ser mais
do que suficiente para contar as amizades verdadeiras. Claro, podemos contar
inúmeros colegas, pessoas mais próximas, etc. Mas amigos de verdade são raros,
pois a amizade é restrita às relações especiais, únicas na vida.
Há os amigos da infância, da
adolescência. Os caminhos trilhados nem sempre permitem manter tais amizades. É
o meu caso: as constantes mudanças de estados, cidades e bairros, me fez perder
contato. A distância geográfica, as dificuldades inerentes ao imperativo de
viver em novos ambientes nem sempre acolhedores, bem como o pleno envolvimento
no cotidiano da nova realidade da vida, etc., talvez expliquem o distanciamento
e a perda dos amigos de outrora. As condições de comunicação eram outras,
reduzidas basicamente à correspondência física – não havia internet, e-mail,
facebook, nem mesmo telefone residencial (imagino que hoje é muito mais fácil
manter contato com os amigos distanciados geograficamente). Restaram apenas as
recordações, as doces lembranças de uma época.
As vicissitudes da vida
separaram-me dos amigos antes mesmo que a amizade criasse raízes mais fortes e
produzisse frutos fecundos. Por onde andará o meu amigo do ginasial, como era
chamado naquele tempo, íamos ao Angico Club, na festa do caju. Não consigo
lembrar o seu nome, mas recordo do seu rosto moreno e do esforço para manter o
cabelo à John Travolta. E aquele amigo cuja mãe incorporava Cosme e Damião?
Lembro-me do Miguel, amigo de caminhadas pelas ruas do centro da cidade, quando
parávamos nas pastelarias e nos deliciávamos sem nos incomodar com a higiene
nada acolhedora do ambiente. Outros sábados, íamos ao centro cultural Dário
Campos Feijó. Por onde andará o amigo dos tempos de serenata que participávamos
na boa companhia do pároco da cidade, nas noites de lua cheia, das andanças
pela vida noturna em outras cidades, quando burlávamos as regras da maioridade?
E a amiga que estimulou os meus primeiros passos na militância política e por
quem inadvertidamente me apaixonei? Onde estarão os amigos do tempo da
Pastoral... Por onde andarão os amigos do primeiro grau do antigo Ginásio?
Os amigos estão presentes, seja
nas recordações ou nas possibilidades do reencontro. O certo é que uma
verdadeira amizade permanece, ainda que o tempo e as condições dificultem ou
impossibilitem o encontro físico. O advento da internet permitiu reencontrar
alguns, mas o passar dos anos revelou-se desgastante. Tentei resgatar e manter
contato, mas as respostas nem sempre foram positivas – e, em alguns casos,
prevaleceu o silêncio. Compreendo, não somos mais o que fomos no passado; nos
transformamos, somos outros em novas realidades e com novas amizades – ainda
que o que vivemos resista em nós, um passado que teima em se fazer presente.
As potencialidades da
comunicação via internet não mudaram o que já estava sedimentado. Em outras
palavras, as amizades do passado parecem ter parado no tempo – o reencontro via
Facebook, por exemplo, não mudou o caráter nem a qualidade das mesmas. A
presença dos amigos via virtual não supriu a ausência real. O tempo e a
distância geográfica, além daquela construída pela diferença dos caminhos
percorridos, produziram efeitos nem sempre positivos. Embora a amizade
permaneça, guardada afetuosamente em algum lugar do eu, ela não é vivenciada.
Ficaram apenas as recordações, porém significativas.
Embora não tenha conseguido
manter uma comunicação mais intensa com os amigos do passado, ainda que tenha
reencontrado alguns deles no espaço virtual, tive milhares de “amigos” nos
últimos anos. Primeiro foi o Orkut, um dia desativado e, após muita
resistência, substituído pelo Facebook. Neste, adotei o critério de utilizar
para fins acadêmicos – divulgação das revistas, blogs, artigos, livros,
atividades e eventos acadêmico, culturais e políticos. Assumi, então, uma
perspectiva crítica e democrática – o que me trouxe dissabores, pois as pessoas
partem do princípio de que concordamos com tudo o que publicamos, sem
perceberem o objetivo de proporcionar o debate e a reflexão crítica.
No período em que usei este perfil
cheguei a ter mais de 4.500 “amigos”. “Ganhei” milhares de “amigos”, mas sem
qualquer ilusão quanto ao significado deste fenômeno. De certa forma, tornei-me
uma pessoa pública. Mas isto começou a exigir maior dedicação e,
consequentemente, mais tempo conectado. Não estou entre os que pensam que o
Facebook substitui as amizades reais, ou seja, que o usuário da rede social
termina por priorizar a vida virtual aos amigos reais. Na verdade, se isto
ocorre – e quando acontece – apenas confirma o isolamento, a solidão.
De fato, o Facebook pode
fortalecer laços de amizades existentes, bem como facilitar o desenvolvimento
de novos relacionamentos. Por outro lado, o caráter da relação virtual induz a
maior espontaneidade, favorece desencontros, atitudes irreflexivas e mesmo
abusos. Nem sempre o bom senso e o respeito prevalecem. A virtualidade pode
favorecer a petulância e o desrespeito. Indivíduos que nem conhecemos, e
provavelmente jamais os conheceremos, consideram-se no direito de exigir
explicações, de julgar precipitadamente e determinar vereditos. Felizmente são
casos isolados, mas haja paciência!
Comecei a refletir sobre tudo
isto, sobre as vantagens e desvantagens de ter um perfil com milhares de
“amigos”. Quais os interesses? O que há de comum entre nós? Os amigos pessoais,
conhecidos e aqueles com os quais estabeleci uma relação mais intensa, ainda
que no âmbito virtual, estavam “perdidos” entre tantos. Então, comecei a ser
mais criterioso, mais seletivo. Percebi o trabalho e dificuldade de selecionar
os “amigos”. Decidi, então, desativar o perfil. Num simples click perdi milhares
de amigos! Como as “amizades” são efêmeras!
Mas não me rendi aos argumentos
de um amigo bem próximo, contrário às redes sociais. Para ele, o melhor mesmo é
evitar, o quanto possível, navegar pela internet e, especialmente, não ter
Facebook. De fato, se refletirmos bem sobre o que deixamos de fazer e o quanto
a internet nos ocupa, talvez esse meu amigo tenha razão. No entanto, a internet
oferece possibilidades que justificam o tempo utilizado. O importante é ter
autodisciplina e saber dosar bem o uso do tempo, sem ficar refém do Facebook
nem deixar de fazer outras coisas importantes. Afinal, há vida também fora do
Facebook – embora alguns estejam tão envolvidos que parecem ter esquecido a
senha!!!
Quantos aos amigos reais,
espero reencontrá-los pessoalmente ou mesmo no âmbito virtual. O mais
importante, porém, é que os sentimentos de amizade permanecem vivos. Inovações
tecnológicas são fundamentais, mas não mudam o essencial! O tempo, a distância
e a ausência de contato não suprimiram a amizade. Ainda que ausentes e
distantes geograficamente, os amigos permanecem presentes. Apesar das
dificuldades, consegui manter contato com alguns deles e não esqueci os que não
vejo há anos!
Afora o passado, há o presente,
o tempo em que vivemos. Neste, é fundamental as amizades construídas nos
últimos anos. Triste do indivíduo que não tem amigos reais, ainda que os dedos
das mãos sejam suficientes para contá-los. Para ter milhares de amigos virtuais
bastam apenas alguns clicks; para perdê-los também. No entanto, é muito mais
complexo ter amizades reais e duradouras! O importante é saber discernir bem os
amigos e “amigos”, realidade e virtualidade!
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