Discussões sobre política nas
redes sociais, especialmente a respeito das eleições, têm causado consequências
diretas na vida real de algumas pessoas. Amigos de infância estão brigando,
excluindo um ao outro do convívio pela internet e, nos casos mais graves, até
da relação pessoal. E não é só entre amigos que a coisa está ficando
complicada: o ambiente familiar também está se estremecendo em algumas
situações. Segundo o Safernet, em relação ao mesmo período do ano anterior, o
número de denúncias sobre crimes de ódio na internet mais que triplicou nos
dias próximos da votação (leia mais abaixo).
É o caso da coordenadora de
programação Flávia Lopes, 40 anos, que expõe publicamente seu posicionamento
político em sua página no Facebook. Ofensas pessoais, posts que vão contra os
direitos constitucionais dos brasileiros e xingamentos são motivos suficientes
para exclusão. "Eu tento o diálogo, mas acabo excluindo amigos e parentes
que têm pensamento considerado mesquinho, tacanho e muito agressivo."
Para Célia Leão, consultora de
etiqueta e marketing pessoal, "o respeito precisa imperar, principalmente
entre parentes e amigos. É preciso haver equilíbrio e muito cuidado com o que
for escrever nas redes sociais."
Flávia revelou que, desde o
início do processo eleitoral brasileiro, excluiu três parentes, três amigos de
infância e mais de 20 conhecidos de sua rede social. "Tirei gente da minha
família, como primo e tio. Excluo do Facebook para não ver mais os posts deles
e para que eles não vejam mais os meus. Não é só pelo posicionamento político
ou partidário. Sou contra recados homofóbicos e cartilhas conservadoras."
A efervescência da página de
Flávia no Facebook é tão grande entre os familiares, que a mãe dela disse que
estava preocupada com isso. A declaração foi feita enquanto a reportagem do G1
estava na casa dela, o que gerou risos da filha. "Está vendo? É
sério."
Exclusões
e bloqueios
Apesar de parecer radical nas exclusões, Flávia mantém o bom
humor mesmo diante dos ataques pela internet. "Em uma ocasião, um amigo
postou uma mensagem falsa no Facebook e fui argumentar com ele que aquilo não tinha
procedência. Ele me desafiou a provar o que estava dizendo. Comecei a postar
tudo detalhadamente. Em determinado momento, um amigo dele, que é policial,
começou a me ofender, a me atacar. Tudo bem, deixei de lado, mas um dia esse
cara apareceu na minha página e começou a me atacar em outros posts. Ele parou
quando se deu conta de que estava em minha página e não na do nosso amigo em
comum."
Célia afirmou que é preciso "respirar antes de dar o
'enter' na mensagem e publicar algo numa rede social. Em algumas situações, o
silêncio é a resposta mais contundente, é o melhor ataque."
Flávia lembrou que chegou a ser acusada de receber dinheiro
de um partido para fazer os posts que faz. "Nunca recebi dinheiro de
partido. Não sou defensora de nenhum partido. Teve até quem falasse da minha
vida sexual. Aí eu entrei na brincadeira e comecei a provocar o sujeito que me
atacava até ele parar."
A consultora de etiqueta lembrou que postou em sua página
pessoal um texto, com a temática das eleições, afirmando defender a democracia
e que as pessoas de seu círculo de convívio deveriam se conter para que seus
posts não fossem excluídos. "Fiz um texto enorme falando que a democracia
é respeitar o que o outro pensa. Há liberdade de expressão, mas é preciso ter
limites. Se você discorda de alguém, vá para sua página e discorde lá, nunca
embaixo do post da outra pessoa", disse Célia.
(G1)
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