Há longínquos cinco anos, escrevi este texto. Não se trata, portanto de um
posicionamento oportunista ou recente, mas ele voltou à minha cabeça ontem,
quando eu li o documento dos autoproclamados blogueiros progressistas, que
tem, no seu item “f”, a seguinte proposta para a “democratização da
informação”:
f) Democratizar a distribuição de verbas
públicas de publicidade, que deve ser baseada não apenas em critérios
mercadológicos, mas também em mecanismos que garantam a pluralidade e a
diversidade. Estabelecer uma política pública de verbas para blogs. (o grifo
NÃO é meu).
Pois é: os blogueiros
progressistas querem dinheiro do governo para disseminar a informação pela
internet. Muito justo. Afinal, o governo já gasta bilhões em propaganda com a
Globo, Record, Folha de SP… Por que não destinar uma merrequinha para os “blogs
sujos”, que são verdadeiros Dons Quixotes para levar a informação imparcial,
corrigindo as distorções do malvado “PiG” (que, engraçado, também vive à custa
do governo)?
Tá bom, chega de ironias
bestas. O assunto é: você sabe quanto, onde e como o poder público gasta em
propaganda? Fácil responder: muito, no lugar errado e da pior forma. O
princípio constitucional da publicidade dos atos de governo é usado como
desculpa para verdadeiras farras do boi, enriquecendo agências de propaganda e
veículos (pequenos, médios e grandes). O dever de manter a população informada
sobre o que o poder público está fazendo por nós foi substituído por peças
publicitárias caríssimas que só servem para enaltecer QUEM está governando, muito
embora exista também o princípio constitucional da impessoalidade na
Administração Pública.
Sim, claro, eles não colocam o
nomezinho deles no anúncio, mas, como você bem sabe, a propaganda é a arte de
fazer coisas parecerem maiores, melhores e mais bonitas do que realmente são,
com o objetivo de fazer o consumidor adquiri-las. E, se há uma coisa na qual
não podemos ser ludibriados ou iludidos, esta é a administração do Estado e dos
seus recursos. Sim, pois o dinheiro é nosso.
Não somos “consumidores” do
governo A ou B, somos PARTE DELE. Portanto, as informações devem chegar a nós
de forma clara, objetiva e até CHATA, de tão fria e transparente. Façamos uma
analogia: imagine que o síndico do teu prédio resolva “informar” os condôminos
não através de maçantes boletins de papel, mas por meio de um programa semanal
que entraria nas TVs dos moradores via antena coletiva do prédio; para tanto,
ele contrataria uma produtora de vídeo com o dinheiro do condomínio e ficaria
lá, todo pimpão, dando uma de “Lula do prédio”. Certamente, seria decapitado na
reunião de condomínio em que tivesse apresentado tal sandice, e sua cabeça
seria colocada em uma bandeja na porta do apartamento dele.
Não há qualquer sentido em se
gastar UM NÍQUEL em propaganda governamental, e desafio qualquer um (exceto os
partidos políticos, é claro!) a tentar me convencer do contrário. Os atos de
governo devem ser impessoais, transparentes e públicos, e SÓ. Não devem ser
bonitos ou feios, grandes ou pequenos, de fulanos ou beltranos. Esses juízos de
valor devem ser feitos pelas pessoas, sem qualquer tipo de induzimento por
artifícios publicitários.
Não há como lutar por uma
imprensa independente e vigilante se esta mesma imprensa vive à custa de quem
deveria denunciar. Como eu disse em outro texto, pode procurar UMA nota
negativa sobre as Casas Bahia na imprensa, você nunca vai encontrar. Afinal, ela
é o maior anunciante privado brasileiro.
Por tudo isso (e muito mais),
me parece bastante claro que a blogosfera progressista, em vez de lutar contra
esse sorvedouro abjeto de recursos públicos, prefere lutar para garantir seu
lugar na festa.
Esta é uma briga muito grande,
exige uma mobilização-monstro, mas que eu participaria com o maior prazer. E
você, cidadão comum que quer ver o dinheiro público menos mal gasto, não
toparia?
Nenhum comentário:
Postar um comentário