Foco da maioria dos programas
sociais e demais iniciativas empreendidas pelos governos federal e estadual
para combater e reduzir a extrema pobreza, a zona rural do Ceará, apesar de ter
registrado uma diminuição no número de pessoas que vivem nessas condições
precárias - e que põem em xeque até mesmo os conceitos de dignidade -, ainda
concentra o maior número de domicílios cuja renda per capita é de apenas R$ 70.
De todos os domicílios
agrícolas do Estado (aqueles em que pelo menos um membro está empregado no
setor agrícola e 67% da renda do trabalho vem da agricultura), 37,85% abrigam
pessoas em extrema pobreza. A constatação é do Atlas da Extrema Pobreza no
Norte e Nordeste do Brasil em 2010, realizado pelo Fundo Internacional de
Desenvolvimento Agrícola (Fida), em parceria com o Instituto de Pesquisas
Econômicas Aplicadas (IPEA), usando como base os dados do Censo 2010.
Segundo o levantamento, 15,9%
dos domicílios cearenses estavam em situação de extrema pobreza em 2010, dos
quais 34,14% eram agrícolas. "Se você olhar dados mais recentes, tanto de
zonas urbanas como rurais, o número de pobres e extremamente pobres declinou,
mas essa relação de concentração da pobreza na rural continua", avalia o
coordenador do Laboratório de Estudos da Pobreza (LEP), do Programa de
Pós-Graduação em Economia (Caen) da Universidade Federal do Ceará (UFC) João
Mário França.
Proporção
Essa relação, acrescenta, se
repete em toda a região Nordeste e também no Norte do País. "Talvez a
própria característica das pessoas, que têm instrução muito baixa, pouca
qualificação e vive praticamente da agricultura de subsistência, ficam
dependentes de programas como o Bolsa Família", diz França, buscando
justificativas para a pobreza quase histórica dessas regiões brasileiras.
E mesmo com a melhora nos
índices de pobreza, citada anteriormente pelo pesquisador, contextos recentes como
elevação do desemprego e a possibilidade de cortes ou estagnação no Bolsa
Família podem trazer, mais uma vez, aumento do número de pessoas nessa
condição. "E tem ainda outro aspecto que vai fazer com que a pobreza
aumente, que é a inflação. O poder real de compra das pessoas está diminuindo
bastante", pontua.
A única maneira de reduzir a
pobreza a longo prazo no Estado, e também nas duas regiões mais castigadas pela
miséria, defende França, é atuar em várias frentes, mantendo as atuais
estratégias (programas de assistência) e investindo em infraestrutura, saúde e
educação. "Mas, com a crise que o País está vivendo agora, não tem recurso
para fazer isso", pondera.
Outros índices
No Ceará, depois dos domicílios
agrícolas, são os não agrícolas rurais (localizados em áreas oficialmente
rurais, mas sem qualquer membro do domicílio trabalhando na agricultura) que
concentram os maiores índices de extrema pobreza, com 30%, enquanto 9,45% é o
total de unidades nessa condição dentro da categoria dos domicílios não
agrícolas urbanos (situados em áreas oficialmente urbanas e sem qualquer membro
do domicílio empregado na agricultura).
A extrema pobreza no Ceará fica
distante da situação de estados como o Maranhão, que concentra 43% dos domicílios
assim. Entretanto, o nosso Estado não se isenta de problemas como a quantidade
de crianças pobres e falta de estratégia em ações contra a miséria.
Por
Jéssica Colaço
Fonte:
Diário do Nordeste
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