A esperança de um bom inverno
que invadiu o coração do sertanejo, aos poucos começa a se desfazer, no
Interior do Ceará. A alegria com a chegada de boas chuvas, na segunda quinzena
de janeiro passado, aos poucos começa a se transformar em preocupação. O sol
persiste quente, as nuvens se desfizeram e o tempo permanece desfavorável para
a ocorrência de precipitações.
No campo, os agricultores já
reclamam da falta de chuva. “Estava bom, corremos para preparar a terra e
plantar”, disse o produtor rural Manoel Alves, do Sítio Estrada, zona rural de
Iguatu. “Plantei um hectare de milho e outro de feijão, mas a lavoura começa a
murchar e parece que vou perder tudo, se não chover logo”, disse.
Gravidade
O presidente do Sindicato dos
Trabalhadores Rurais de Iguatu, Evanilson Saraiva, confirmou o quadro de
preocupação entre os agricultores. “Infelizmente, a situação começou a ficar
crítica”, disse. “Muita lavoura vai se perder nos próximos dias”.
Até ontem, fevereiro registrava
um déficit médio de chuva de 64%, segundo a Fundação Cearense de Meteorologia e
Recursos Hídricos (Funceme). Em média, choveu apenas 45mm. O esperado para o
período é de 127mm. Diferentemente de janeiro (pré-estação chuvosa) que
registrou pluviometria acima 97% da média histórica do mês que é de 98.7mm.
Fevereiro é o primeiro mês da
quadra chuvosa, que vai até maio. No próximo dia 20, a Funceme vai divulgar o
segundo prognóstico, para os meses de março, abril e maio. De acordo com o
meteorologista, David Ferran, a tendência é de ocorrer chuva abaixo da média
para o período. “Os índices devem permanecer parecidos com os divulgados no
primeiro prognóstico”, disse. “O El Niño continua intenso e deve afetar o
sistema de chuva no Semiárido nordestino”.
Percentuais
Caso as previsões sejam
confirmadas será o quinto ano seguido de chuvas abaixo da média, no sertão
cearense. Em 20 de janeiro passado, a Funceme divulgou a primeira previsão para
os meses de fevereiro, março e abril, em três categorias. Os dados indicaram
que havia 65% de probabilidade de as chuvas ficarem abaixo da média; 25% em
torno da média e 10% acima da média. Há um mês, o presidente da Funceme,
Eduardo Sávio, mostrava cenário desfavorável por causa da presença do El Niño
(aquecimento das águas superficiais do Oceano Pacífico). “A análise dos campos
atmosféricos e oceânicos de grande escala, além dos resultados de modelos
numéricos globais e estatísticos indicam uma persistência da situação que já
estamos vivendo, de escassez de chuvas”, disse.
Adversidade
Dados da Funceme mostram que há
municípios que não registraram chuva neste mês: Granjeiro, Jucás, Saboeiro e
Massapê são exemplos. Outros tiveram reduzida pluviometria: Penaforte (1mm),
Altaneira (2.6mm), Aiuaba (3mm) e Tarrafas (4mm). Curiosamente, entre os dias
15 e 30 de janeiro passado houve boas chuvas em Aiuaba e Saboeiro, na região
dos Inhamuns, enchendo riachos e rios, mas, neste mês de fevereiro, o quadro
ficou totalmente adverso. “Não tivemos chuva e quem plantou com aquela forte
esperança de um bom inverno, demonstra preocupação porque a lavoura já sente a
estiagem”, disse a coordenadora da Empresa de Assitência Técnica e Extensão
Rural (Ematerce), em Saboeiro, Aparecida Lavor. Depois de quase 20 dias sem
chuva, vem o ataque de lagartas e a folha da plantação já começa a murchar.
O meteorologista David Ferran
esclareceu que permanece a previsão de chuvas localizadas nas regiões Centro e
Norte do Estado, mas frisou que, em ano de ocorrência do El Niño, os estudos
demonstram que as precipitações vão sendo reduzidas a partir de março.
Desfavorável
O deslocamento do sistema
Vórtice Ciclônico de Altos Níveis (VCAN), nas duas últimas semanas, foi
desfavorável à continuidade das chuvas que banharam o sertão cearense no
decorrer da segunda quinzena de janeiro. A preocupação é maior porque será o
quinto ano seguido de estiagem e os reservatórios estão perdendo volume.
Atualmente, a média dos 153 reservatórios monitorados pela Companhia de Gestão
dos Recursos Hídricos (Cogerh) é de 12,8%. Um índice extremamente baixo para
enfrentar mais um período longo de escassez de chuva.
Se o atual quadro de chuvas
abaixo da média, sem recarga nos açudes, persistir nos próximos três meses, o
Ceará vai enfrentar um cenário ainda mais grave de desabastecimento nas áreas
urbanas. “O governo faz o monitoramento semanal da situação e está adotando as
medidas necessárias”, frisou o titular da Secretária de Recursos Hídricos
(SRH), Francisco Teixeira. Com a perda de água nos reservatórios, o programa de
adutoras emergenciais deve ficar comprometido com o passar do tempo. Além da
distribuição por carros-pipa e perfuração de poços profundos, o governo deve
buscar alternativas.
Regiões que eram críticas, como
os Inhamuns (Tauá, Quiterianópolis) e Sertões de Crateús, ganharam um alento
com as chuvas em janeiro, que contribuíram para a cheia de pequenos e médios
açudes na região, assegurando o abastecimento de áreas urbanas até o fim deste
ano. Já em outras regiões, onde o quadro é crítico e não houve recarga (Sertão
Central e Vale do Jaguaribe), o cenário é de preocupação, não obstante os
investimentos em perfuração e instalação de adutoras.
Até mesmo a população de
Iguatu, na Região Centro-Sul do Estado, que se mantinha em uma situação
confortável, agora está preocupada. O Açude Trussu, que abastece a cidade e
Acopiara, não teve recarga até o momento e acumula apenas 22%.
Mais informações:
Funceme:
Telefone: (85) 3101- 1117
www.funceme.br
Cogerh
Telefone: (85) 3218- 7024
Fonte: Diário do Nordeste – via
Sobral Agora
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