A deputada eleita Janaina
Paschoal (PSL) ao lado do senador Magno Malta (PR) e do presidenciável
Bolsonaro (PSL) (Foto: Fernando Frazão/Agência
Brasil)
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Eleita com dois milhões de
votos deputada estadual por São Paulo e confiante na derrota do PT nas eleições
presidenciais para Jair Bolsonaro (PSL), Janaina Paschoal não contém sua
felicidade. Em entrevista à BBC News Brasil, fica evidente também sua surpresa
com o enorme assédio após a eleição.
Desde que conquistou seu
mandato com votação recorde para o cargo, embalada pelo reconhecimento pela
atuação no impeachment de Dilma Rousseff (PT), ela não para de receber ligações
pedindo emprego e apoio político. "É surreal", diz, aos risos.
Sua equipe de gabinete, ela
pretende montar "tecnicamente". Por isso, todos que a procuram são
orientados a encaminhar o currículo. Já o apoio político ela reserva apenas a
Bolsonaro. Na disputa pelo governo de São Paulo, que está sendo travada em
segundo turno por João Doria (PSDB) e Márcio França (PSB), decidiu ficar
neutra, pois quer ter independência para fiscalizar o que for eleito. E espera
que a votação expressiva lhe garanta apoio para presidir a Assembleia
Legislativa, mesmo sem realizar qualquer articulação política.
Sua confiança também é grande
na vitória de Bolsonaro, que lidera com folga as pesquisas de intenção de voto.
Janaina não vê ameaça à candidatura na ação movida pelo PT após denúncias de
uso ilegal do WhatsApp para propaganda eleitoral, veiculada pelo jornal Folha
de S.Paulo.
"A ação é uma piada, não
tem nada. (...) Como é que cria um pânico na população sem fundamento nenhum?
Isso sim é crime", acusou.
Caso Bolsonaro seja confirmado
presidente, Janaina dispensa qualquer cargo e defende a nomeação do juiz
federal Sergio Moro para o STF (Supremo Tribunal Federal). Apesar de críticos
verem o candidato como "uma ameaça à democracia", a jurista rechaça
que Bolsonaro seja autoritário e diz que ele governará para a
"pluralidade".
Por outro lado, ao ser
confrontada com suas declarações de incentivo à violência, deixa claro seu
distanciamento.
"Eu tenho pedido ponderação
desde sempre. Não sou o que se possa chamar de uma bolsonarista. (…) Passei a
apoiá-lo porque não quero o PT de volta e vi nele a força suficiente para fazer
frente a isso, força que não vi nos outros", contou.
Confira abaixo os principais
trechos da entrevista.
BBC News Brasil - Em 2014, o
PSDB questionou no TSE a eleição de Dilma Rousseff. Agora, o PT entrou com uma
ação contra a candidatura de Bolsonaro. Como a senhora vê essa judicialização
das eleições?
Janaina Paschoal - No caso das
ações que foram propostas contra o PT, seja o impeachment, seja a ação
eleitoral, havia elementos, documentação, os desvios de dinheiro das estatais,
investigações da Lava Jato já em andamento, colaborações premiadas. Eram ações
com fundamento, não dá para comparar.
O mundo político tem uma
mentalidade muito diferente do mundo jurídico. O jurídico tem que se lastrear
em fatos, em documentos. Não adianta pegar uma matéria (sobre o disparo de
mensagens no WhatsApp) que não tem nada, entrar com uma ação com nada, para querer
desestabilizar uma candidatura, meu Deus.
Quem é petista está com o PT e
não abre. Pode aparecer a prova que for, o cidadão continua dizendo amém. Eu
nunca fui assim e nunca serei. Então, quando eu li a matéria (da Folha de
S.Paulo), eu fiquei preocupada e fiquei aguardando algum tipo de documentação.
Liguei para o advogado que faz a representação eleitoral do partido (PSL) e ele
disse: "Pô, Janaina, estou tão surpreso quanto você".
Aí quando eu fui ler a ação (do
PT), a ação é uma piada, não tem nada. Eles anunciaram na matéria que havia
contratos de milhões (que seriam pagos ilegalmente por empresários que apoiam
Bolsonaro para disparo de mensagens), que já tinham os documentos. Aí eles
entraram com uma ação mencionando a matéria. Cadê os contratos? Isso é muito
importante, não pode fazer brincadeira com coisa séria.
A partir da reportagem da
Folha, o Ministério Público deveria abrir uma investigação para apurar?
Eu acho que tem que apurar o
que eles (o PT) estão alegando. Isso é denunciação caluniosa. Você não pode
propor uma ação sem nenhum elemento. Como é que cria um pânico na população sem
fundamento nenhum? Isso, sim, é crime.
Eles (petistas) estão tentando
fazer crer que pessoas que abraçaram a candidatura fizeram isso por algum tipo
de interesse. Não aceitam que o povo não quer mais eles. O povo está votando em
Bolsonaro menos pelo Bolsonaro e mais pelos absurdos que o PT fez. Democracia
para eles (petistas) é só quando as pessoas concordam com eles.
O ministro Luiz Fux chegou a
dizer que o uso de fake news nas eleições poderia anular o pleito, e há de fato
uma proliferação de notícias falsas. A senhora concorda que isso pode anular
uma eleição?
Olha, em 2014, o PT mentiu no
Nordeste até dizer chega, dizendo que (os outros candidatos) iam cortar o Bolsa
Família. Armaram tudo e mais um pouco, (mas os ministros do TSE) não anularam
2014.
Agora querem anular? Que diabo
de fake news estão falando? Que o relógio do Haddad é caro (referência à
notícia falsa de que Haddad teria um relógio de R$ 450 mil da marca Patek
Philippe)? É brincadeira, isso é piada, piada. Eu quero saber quais são as fake
news, quero que o Haddad mostre.
O TSE já determinou a retirada
de dezenas de links com notícias falsas. Uma delas dizia que mamadeiras com
bicos de borracha em forma de pênis seriam uma invenção de Haddad distribuída
pelo PT em creches.
E os vídeos do Haddad falando
que Bolsonaro é torturador (referência à propaganda eleitoral do PT que mostra
cenas de tortura e cita declarações antigas de Bolsonaro se dizendo favorável a
prática)? Isso não é fake news? E tudo que inventaram sobre mim? Desculpa, só
consideram fake news coisas que vêm de um lado. Mais mentiroso que o PT,
impossível.
Quero saber quem define o que é
fake news. Eles perderam o monopólio do discurso e não estão aguentando porque
são totalitaristas, porque acharam que tinham um plano de poder para a América
Latina e que estava tudo dominado, e o povo brasileiro é inteligente demais
para se deixar dominar por essa gente.
Alguns analistas consideram que
um governo Bolsonaro seria uma ameaça à democracia, por exemplo, por causa do
seu discurso de incentivo à violência e de desrespeito às minorias e à
imprensa. A senhora vê algum risco à democracia?
Olha, o contato que eu tive com
ele foi um contato muito positivo. Ele não se mostrou uma pessoa autoritária,
ele me ouviu, ele recuou em algumas posições.
Por exemplo, da ideia de
colocar dez ministros no Supremo (ampliando a atual composição). Quando eu
disse a ele que isso era inconstitucional, imediatamente ele retirou essa
proposta.
A senhora acha que ele fez essa
proposta por falta de conhecimento?
Acho que sim. Na medida em que
veio uma professora de Direito e diz para ele que não é correto, ele
automaticamente acatou. Isso não é comportamento de uma pessoa autoritária, vou
além, de uma pessoa machista.
Ele está bastante consciente de
que está sendo eleito por uma pluralidade, eu não perco uma oportunidade
inclusive de dizer isso a ele publicamente. Essa pluralidade vai cobrá-lo.
Então, eu não vejo nenhum risco.
Risco para a democracia eu vejo
se o PT voltar, por tudo que eles já demonstraram que são capazes de fazer,
inclusive essa palhaçada (a ação no TSE), eu não tenho outra palavra para isso.
A imprensa é fundamental em uma
democracia e faz parte do seu trabalho também matérias negativas. Mas qualquer
matéria negativa a Bolsonaro, ele imediatamente desqualifica como fake news.
Isso não é um problema?
Eu não vi nenhuma pretensão
dele de regulamentar (a mídia), muito pelo contrário, ele é defensor da
liberdade de manifestação.
Se eu fosse profissional de
imprensa, estava com medo do PT, porque quem quer regulamentar a imprensa são
eles. São eles que ficam entrando com ação para cancelar inclusive o WhatsApp
(ação foi movida pelo PSOL, que depois recuou).
Bolsonaro também falou que vai
"botar um ponto final em todos os ativismos do Brasil". É uma declaração
estranha em uma democracia, já que a sociedade civil se manifesta por meio de
ativismo. Como a senhora vê essa declaração?
O ativismo, em regra, é cruel.
A pessoa que se declara ativista, embora nem todos tenham dimensão disso, fica
cega com a causa dela. O que eu acho que ele quis dizer foi: "Pelo amor de
Deus, chega desse exagero para um lado ou para o outro". Vamos ter um
pouco de ponderação, que é o que todo mundo quer.
Vamos supor, eu e você somos
feministas. O que quer dizer isso? A gente quer que mulheres sejam respeitadas
por sua dedicação, que tenham seu trabalho reconhecido. Mas a gente não quer
que os homens sejam diminuídos, sejam desrespeitados, não temos ódio dos
homens. O ativismo é algo que coloca ódio.
Mas o discurso do Bolsonaro não
é, muitas vezes, de ódio?
Eu acho que ele perde a
paciência quando ele começa a ser provocado. Eu não senti ódio no discurso
dele. Agora, se você lembrar do meu discurso na convenção (que lançou a
candidatura de Bolsonaro), você vai reconhecer que eu tenho pedido ponderação
desde sempre. Então, eu não sou o que se possa chamar de uma bolsonarista. Acho
que qualquer um que veja o que eu falo, o que eu escrevo, o que eu ensino sabe
disso.
Eu não estou aqui fechando com
Bolsonaro, com qualquer coisa que ele fale ou venha propor. Eu sou uma pessoa
crítica por natureza. O que eu estou querendo dizer é que o discurso de ódio,
muito embora as pessoas insistam em dizer que vem da parte dele, é muito mais
oriundo do petismo.
Ele declarou "vamos
fuzilar a petralhada aqui do Acre" em um comício.
É, eu não gosto desse tipo de
frase. Acho que ele deveria moderar esse tipo de frase, já falei isso a ele
pessoalmente, e às pessoas que fazem parte da campanha.
Eu não faço parte da campanha,
eu passei a apoiá-lo porque não quero o PT de volta e eu vi nele a força
suficiente para fazer frente a isso, força que não vi nos outros.
Caso ele vença a eleição,
nomeará alguns ministros militares. Um general da reserva próximo à campanha, o
Aléssio Ribeiro Souto, declarou que "os livros de história que não tragam
a verdade sobre 64 precisam ser eliminados". Como a senhora vê a formação
de governo com militares e esse tipo de declaração?
Eu não ouvi essa declaração e
não conheço esse senhor. Eu particularmente, até por ter estudado muito a época
da inquisição (quando livros eram queimados), eu sou contra proibir livros.
Acho que os livros ficam livres, quem não concorda que escreva outro. Essa
frase não me agrada.
O fato de colocar militares no
governo não me incomoda. Eu não tenho nenhum preconceito com militares, como
não tenho preconceito com civis. Devem passar pelos mesmos crivos, da idoneidade,
da competência. Se ele conseguir efetivamente montar um ministério enxuto e com
perfil técnico, eu, como brasileira, vou ficar feliz.
Desde o dia que saiu o
resultado da minha eleição, eu não paro de receber pedido de emprego. É um
negócio desesperador. Estou pedindo para as pessoas me mandarem currículo.
Estou tentando avaliar tecnicamente a minha pequena equipe de deputada
estadual.
Como ele está sendo eleito com
muita isenção, com muita independência, eu acredito que ele terá condições de fazer
isso.
E a senhora tem sido uma
interlocutora na discussão dos nomes de possíveis ministros?
Depois de ele sofrer o
atentado, eu não tive mais contato com ele. Meu contato é mais com o general
(Augusto) Heleno (que Bolsonaro pretende indicar como ministro da Defesa).
Agora, ele sabe que, se quiser
me ouvir em alguma medida, vou estar à disposição para conversar com ele,
sobretudo sobre os quadros da minha área, jurídica.
Além do Ministério da Justiça,
o próximo presidente terá, ao longo do mandato, duas indicações para o Supremo.
A senhora indicaria que nomes para esses cargos?
Se eu fosse presidente da
República, eu nomearia o juiz Sergio Moro para ministro do Supremo.
Para Ministro da Justiça, eu
prefiro não opinar (sobre outros nomes), mas não acho que seria uma decisão
inteligente colocar o Sergio Moro, porque ele é muito importante no Poder
Judiciário.
Colocá-lo na cúpula do
Judiciário seria uma decisão inteligente, tirá-lo do Judiciário, não.
A senhora aceitaria uma
nomeação, se no futuro for indicada ao Supremo?
Nesses quatro anos eu estou
comprometida com o povo de São Paulo. Eu dei minha palavra e não acho legal
trair essa palavra.
Ainda sobre os cargos de
ministro, a senhora acha que Bolsonaro, caso eleito, deveria fazer uma
composição balanceada com homens, mulheres, brancos e negros?
Eu acredito fortemente na
importância da representatividade. Eu sei que há mulheres competentes nas mais
diversas áreas, e negros e negras também.
Então não seria uma questão de
colocar só para dizer que tá (no governo), mas o esforço, o desejo de procurar
esses quadros, porque são muitos, para poder prestigiar essa
representatividade.
Acho que a representatividade é
importantíssima para a evolução moral, inclusive, e espiritual de uma nação. Se
ele quiser contar com minhas sugestões, eu vou ter a representatividade como um
norte.
Qual será sua prioridade como
deputada estadual?
Primeiro, eu entendo que é
necessário, sob o ponto de vista da divisão de poderes, fortalecer o
Legislativo estadual, porque nos últimos anos houve um papel muito secundário
do Legislativo, como se o Executivo pudesse dar ordens no Legislativo.
Principalmente por isso não
declarei apoio a nenhum dos candidatos (que disputam o governo de São Paulo no
segundo turno). Está todo mundo achando estranhíssimo, todo dia eu recebo dez
telefonemas de cada lado me pedindo (risos), é tão engraçado.
A senhora está surpresa com
esse assédio?
Muito surpresa. Eu estou
achando uma coisa absurda (risos). Liga uma pessoa: "Olha, se a senhora
quiser gravar um vídeo para o candidato A, o candidato A aceita". Depois
de dois minutos, liga outra: "Se a senhora quiser gravar um vídeo para o
candidato B, o candidato B aceita". Eu penso: "Nossa, isso não é
real, isso não está acontecendo".
Eu já falei em tudo que é rádio
que você possa imaginar que eu vou me manter neutra, porque eu acredito
verdadeiramente que o papel de um deputado estadual é também fiscalizar o
Executivo, e fica muito difícil fazer essa fiscalização se eu subir no palanque
de alguém, se eu ficar gavando videozinho pra alguém.
E os telefonemas começam assim:
"E a senhora não vai querer ser presidente da Assembleia?" (mais
risos). Aí eu falo assim: "Não é que eu vou querer, é que 2 milhões de
pessoas votaram em mim, então eu acho que essa presidência é algo natural. Eu
acho que o povo me elegeu presidente".
Aí a pessoa diz: "Então,
doutora, mas para a senhora ser presidente a senhora vai ter que conversar com
as pessoas".
Eu respondo: "Olha, eu li
o regimento interno e eu percebi que, para ser presidente, eu tenho que me
candidatar, e os meus colegas têm que votar ou não votar em mim. Então, é o
seguinte, vota se quiser. Se não quiser, que explique para os dois milhões
porque não votou em mim".
E isso o dia inteiro, é surreal
(risos). Peço suas orações para ter força, porque o negócio não é fácil.
Fonte: UOL
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