Ceará Acontece: 'Queimaram o único meio de trabalho da família', diz dona de caminhão carregado com frangos incendiado em onda de ataques no Ceará

terça-feira, 8 de janeiro de 2019

'Queimaram o único meio de trabalho da família', diz dona de caminhão carregado com frangos incendiado em onda de ataques no Ceará


Caminhão carregado com cerca de 2 mil frangos foi queimado por criminosos em Caucaia, na Grande Fortaleza — Foto: Arquivo Pessoal
A proprietária de um caminhão carregado com 2 mil frangos vivos, que foi incendiado durante a onda de ataques criminosos no Ceará, lamentou o ocorrido e afirmou que ainda não conseguiu contabilizar todo o prejuízo. Rosângela Freitas disse que o transporte era o único material de trabalho para sustentar a família há cerca de 20 anos.
Desde quarta-feira (2), criminosos realizaram ataques coletivos, prédios públicos, comércios e agências bancárias. Foram 159 ataques confirmados em 39 cidades. O Governo do Ceará confirmou que 168 pessoas foram presas. A Força Nacional foi chamada para reforçar a segurança no estado.

O ataque prejudicou a renda da cearense. O caminhão carregado com frangos vivos foi interceptado por bandidos e incendiado na madrugada de sábado (5), quarto dia da onda de violência, na cidade de Caucaia, Região Metropolitana de Fortaleza. Bandidos ordenaram que o motorista e o ajudante deixassem o veículo, jogaram combustível e atearam fogo.

Conforme Rosângela, todos as galinhas que seriam vendidas e transportadas para um comércio no município morreram queimadas. Ela disse, ainda, que o incêndio a prejudicou e que está sem trabalhar nos últimos dias.

"Como continuar a trabalhar agora?", disse. Rosângela comentou também que não conseguiu contabilizar todo o prejuízo, mas que ficou sem nenhum meio para trabalhar e garantir o sustento da família.
Policiais militares fazem a segurança dentro dos ônibus em Fortaleza após série de ataques — Foto: Sistema Verdes Mares

Rotinas alteradas

Além de Rosângela, a onda de ataques no Ceará alterou a rotina de moradores de diversos bairros da capital e do interior. A costureira Claudiana da Silva, por exemplo, conta que foi difícil até comprar alimento nos últimos dias devido ao medo de novos ataques. Ela mora ao lado de um supermercado que foi metralhado por bandidos no Bairro Vila Velha, em Fortaleza.

“Eu só percebi que algo estava errado quando vi um helicóptero sobrevoando aqui e várias viaturas da polícia passando. Precisei fazer compras, mas só consegui ir no outro dia à noite (depois do ataque). Espero que tudo fique bem logo”, afirmou.

Já a comerciante Adelaide Santos, 43, contou que precisava fazer uma atualização cadastral na Caixa Econômica Federal, na Avenida Francisco Sá, mas desistiu devido ao meno de novas ações. A agência também foi alvo dos bandidos.

Serviços públicos afetados

Por conta da onda de violência, a coleta de lixo em alguns bairros da Grande Fortaleza foi suspensa. Além disso, o transporte público sofreu com interrupções e alterações nas rotas. Lojas da Enel, empresa distribuidora de energia, suspendeu o atendimento na sexta-feira.

Caminhões de lixo precisaram escoltados por guardas municipais nesta terça-feira (8) para conseguir realizar a coleta de lixo regular na cidade.
Guardas municipais escoltam caminhões de lixo em Fortaleza após ataques — Foto: Theyse Viana/Sistema Verdes Mares

O borracheiro Amarildo Albuquerque, de 48 anos, conta que a situação no Bairro Presidente Kennedy, em Fortaleza, ficou complicada devido à falta de coleta de lixo pelo bairro. A empresa Ecofor Ambiental tirou de circulação os veículos na capital depois que um caminhão compactador foi totalmente destruído por um incêndio.

“Por causa do tanto de lixo acumulado, aparece muito inseto. De dia, é mosca; de noite, é tanta muriçoca que quase não deixa a gente dormir. Ainda conforme o borracheiro, o serviço de coleta não é visto no bairro desde a última quarta-feira (2), quando as facções criminosas iniciaram a ofensiva. “E a gente que sofre com isso”, lamenta.

Perto dali, na Rua Frei Odilon, a paisagem urbana muda com o acúmulo de lixo, que chega a tomar parte da via e dificulta a passagem de pedestres. O aposentado Francisco Mendes, de 56 anos, encontrou uma solução para o problema, ainda que de forma temporária. Há cinco dias vendo os resíduos se avolumarem na frente de sua residência, ele decidiu contratar um carroceiro para fazer a retirada do material.

“O mau cheiro que vinha do lixo não deixava nem a gente comer direito. Aí foi preciso tirar um dinheiro do meu próprio bolso para que aqui ficasse um pouco mais limpo. A gente enquanto cidadão já paga tanto imposto para tanta coisa e quando surge um gasto a mais pode pesar no orçamento, principalmente no do aposentado”, justificou.
Ceará registra série de ataques criminosos — Foto: Infográfico: Juliane Monteiro/G1

Ações contra o crime

A Força Nacional enviu tropas para tentar conter a violência no Ceará e iniciou o policiamento nas ruas no sábado (5). Após a chegada dos agentes, os ataques reduziram na capital cearense e Região Metropolitana. Apesar disso, ainda houve registro de ações criminosas na capital e no interior.

Desde quarta-feira (2), ocorreram 159 ações contra coletivos, prédios públicos, comércios e agências bancárias. O governador Camilo Santana informou nesta terça-feira que a polícia capturou 168 pessoas envolvidas nos crimes. Vinte prisões ocorreram nas últimas horas, segundo o governador. "Outras [pessoas] estão em investigação e poderão ser presas a qualquer momento", disse.
*Fonte: G1/CE




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