As gestões municipais têm até o
fim deste ano para finalizarem seus Planos Municipais de Saneamento Básico
(PMSB). Os projetos já deveriam ter sido concluídos desde 2017, mas um decreto
federal prorrogou por mais dois anos o prazo.
A partir de 2020, o documento
será uma exigência para obter acesso aos recursos da União e da administração
pública federal. A questão mais uma vez é: as gestões municipais vão conseguir
concluir o PMSB a tempo ou mais uma vez a data limite será adiada por pressão
dos prefeitos?
Onze anos após o lançamento do
marco regulatório do saneamento básico no Brasil, ainda há grandes desafios a
serem vencidos. A responsabilidade legal de elaboração dos planos é das
prefeituras.
O arquiteto e urbanista Paulo
César Barreto observa, entretanto, que não basta elaborar os projetos, definir
metas e prioridades a partir de um diagnóstico.
"É preciso
implementá-los", pontuou. "Alguns já foram elaborados, mas nunca
foram executados e outros já exigem atualizações", pondera.
Para elaborar e executar o
planejamento é necessário além da vontade política, recursos e equipe técnica
capacitada. Tais necessidades os municípios não dispõem.
O Plano inclui quatro
vertentes: coleta de lixo, drenagem de águas pluviais, tratamento e
distribuição de água e esgotamento sanitário.
Cobertura
A Companhia de Água e Esgoto do
Ceará (Cagece) atua em 152 dos 184 municípios cearenses. A cobertura de esgoto
nessas cidades apresenta taxa de 42,40%. Já na Capital do Estado chega a 62%.
A situação de Quixadá é
considerada crítica. Menos de 15% dos imóveis despejam seus dejetos
corretamente FOTO: ALEX PIMENTEL
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Entre 2015 e 2018, a rede de
esgoto no Estado foi ampliada em quase 360 quilômetros, segundo dados da
Companhia. Das 152 cidades atendidas pela Cagece, 53 já concluíram os seus PMSB
e, em outras 66, os projetos estão em andamento. As ações incluem articulações
com Secretaria das Cidades, prefeituras e Associação dos Municípios do Estado
do Ceará (Aprece) para elaboração de planos em cidades com até 20 mil
habitantes.
A Fundação Nacional de Saúde
apoia a realização de planos em cidades que têm sistemas autônomos de
abastecimento de água e esgoto. De acordo com o órgão, no Ceará, já foram
elaborados mais de 30 PMSB e há expectativa de seleção de mais 21 cidades,
cujos convênios estão em análise em Brasília.
A coordenadora de Concessão da
Cagece, Michelyne de Oliveira, explicou que a Companhia firmou convênios de
cooperação técnica com as prefeituras.
"Por operar água e esgoto,
temos informações e contribuímos com a elaboração dos planos", disse.
"Elaborar o plano de saneamento já é um desafio, pois é preciso recursos
financeiros e colocá-lo em andamento já é outra dificuldade ainda maior".
O presidente da Aprece, Nilson
Diniz, observa que os municípios não têm condições de sozinhos elaborar os seus
planos e muito menos executar as obras. "É uma questão complexa, que exige
conhecimento técnico e muitos recursos financeiros", pontuou. "Não
adianta só ter uma lei, definindo prazos, se não houver liberação de verba por
parte do Governo Federal".
A Cagece mantém a expectativa
de investimento em esgotamento sanitário para os próximos quatro anos de
aproximadamente R$ 300 milhões. Além da ampliação do sistema de esgotamento
sanitário da cidade de Maracanaú, está prevista a execução de nova rede
coletora de esgotos em Itaitinga e Marco.
Desafios
Com cerca de 270 mil
habitantes, em Juazeiro do Norte, apenas 22,86% da população utiliza a rede de
esgoto disponível, segundo a Cagece. O índice de cobertura da rede coletora é
de 36,42%. Ou seja, parte dos moradores tem acesso, mas não quer se interligar
ao sistema e acaba utilizando fossas sépticas ou valas irregulares. É o caso do
comerciante Antônio Guimarães, que mora no bairro Franciscanos, na cidade
caririense. "Se eu for fazer isso aqui, vou ter que quebrar o piso e ainda
pagar mais caro. Fica difícil", admite.
Já no Crato, que possui
aproximadamente 130 mil habitantes, a empresa responsável pela coleta de esgoto
é a Sociedade Anônima de Água e Esgoto do Crato (Saaec). Lá, segundo o Sistema
Nacional de Informações sobre Saneamento, até 2017, o Município atingiu 63,54%
do índice de coleta. Apenas 0,67% deste esgoto é tratado.
No bairro Parque Recreio, por
exemplo, o sistema de esgotamento não comporta o crescente número de casas
construídas nos últimos anos em algumas das suas ruas, causando a sobrecarga do
esgoto. "Quando chove, inunda tudo. É cocô boiando, rato morto",
denuncia a dona de casa Edileuda de Oliveira.
A situação da maior cidade do
Centro do Estado, Quixadá, é considerada crítica. De acordo com a administração
municipal, há relutância da maior parte da população em ligar o esgoto
doméstico à rede instalada pela Cagece. Menos de 15% dos imóveis despejam seus
dejetos corretamente. Em alguns casos a tubulação passa na porta das casas, mas
os moradores preferem utilizar tubos clandestinos desaguando no Rio Sitiá.
Iguatu, na região Centro-Sul do
Ceará, conta apenas com 14% de serviço de esgotamento sanitário, que atende a
área central e mais dois bairros (João Paulo II e Cajazeiras). A falta de
saneamento básico é um problema antigo que parece não ter solução a médio prazo
e traz transtornos para os moradores. A cidade é polo da região, com mais de
100 mil habitantes, mas carece de coleta de rede de esgoto, galerias pluviais e
aterro sanitário.
A dona de casa Marlene Guedes,
todos os dias pela manhã passa a vassoura no meio fio para escoar a lama que se
acumula na canaleta. "Se a gente não limpar, fica pior", disse. Em
vários bairros da cidade, a água servida das casas, oriundas de pias, chuveiro,
lavanderias são despejadas no meio da rua e seguem junto às calçadas. Ou pior,
escorre para as lagoas e para o Rio Jaguaribe.
*Via DN/Regional
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