Cláudio Aritana, apontado como
o líder do esquema criminoso(Foto: Reprodução/MPCE)
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Responsável por movimentações
financeiras de R$ 4 milhões em um ano e meio, por compra de casa lotérica, dez
residências e dois veículos, além de gerenciar venda de celulares. A história
seria de um próspero empresário se não tivesse ocorrido toda dentro do Centro
de Execução Penal e Integração Social Vasco Damasceno Weyne (Cepis), antiga
CPPL 5, em Itaitinga, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). Em operação
deflagrada nesta sexta-feira, 17, o Núcleo de Investigação Criminal (Nuinc), do
Ministério Público do Ceará (MPCE), desbaratou esquema criminoso liderado pelo
detento Cláudio Aritana Lopes Santos, o homem que entrou no sistema prisional
acusado de abuso sexual e saiu conhecido como "dono da cadeia", de
acordo com os investigadores.
"Essa história é o enredo
de um filme. Uma pessoa que começou a cometer crimes ainda jovem, crimes
sexuais, contra o patrimônio, entrou no sistema como estelionatário e, entre
2002 e 2017, passou à condição de dono da cadeia. Ele ingressou com as mãos
quase vazias, não estavam vazias porque tinha sua principal arma:
celulares", comentou o promotor de Justiça Manuel Pinheiro.
Batizada de Laranjas, a
operação revelou um esquema exercido principalmente por quatro ex-companheiras
do detento, auto-apelidado de "Don Juan". Ele usou celulares para
ganhar poder e fortuna dentro da unidade. Os golpes inicialmente eram feitos
por meio de ligações telefônicas, nas quais ele convencia as vítimas a
transferir dinheiro para contas das amantes dele.
"Aos poucos ele montou uma
rede de detentos nas celas vizinhas e ensinou a aplicar golpes de estelionato.
Primeiro os mais simples, aqueles de fingir sequestro, e em certo momento ele
foi sofisticando", explicou Pinheiro. Já com enriquecimento financeiro por
meio dos estelionatos, Aritana comprou uma casa lotérica, aprendeu como
funcionava a empresa e passou a aplicar golpes em empresários do ramo.
Ele se passava por funcionário
da Caixa Econômica Federal e conseguia convencer funcionários a transferirem
dinheiro para as contas de suas amantes. "Pelo relato dos visitantes ele
aprendeu como funcionava cada detalhe da lotérica, as características das máquinas
e do sistema, então passou a aplicar golpes mais lucrativos em casas lotéricas
no Interior e outros estados", completou o promotor de Justiça.
Diversificação de negócios
Além dos golpes financeiros, a
segunda fonte de renda ilícita de Aritana era dentro do presídio. Ele conseguiu
manter fluxo de drogas e celulares para o interior do Cepis. Lá, ele vendia os
produtos e o pagamento era feito fora das muralhas. Normalmente, motociclistas
pegavam o dinheiro e levavam até as amantes do "Don Juan".
As mulheres centravam o
dinheiro dos dois negócios do detento, transferiam os montantes entre elas para
dificultar o rastreamento e aplicavam os recursos em imóveis, carros e joias.
"Elas depositavam de forma fracionada para não chamar atenção do Coaf (Conselho
de Controle de Atividades Financeiras), circulavam entre as contas como forma
de evasão e, ao final, adquiriam bens e registrava em nomes de laranjas",
revelou Pinheiro. A estimativa dos investigadores é que, entre janeiro de 2017
e junho do ano passado, Aritana movimentou R$ 4 milhões.
Festa
Até então considerado um preso
comum, o detento passou a ser investigado como responsável por um grande
esquema criminoso quando apareceu na televisão em junho de 2017. Ele
supostamente pagava colegas da Cepis para que pintassem quadros e assinava como
se tivesse pintado junto. Para mostrar suas obras, ele financiou uma exposição
de arte enquanto estava preso. Segundo os investigadores, telas, pincéis,
tintas e até o buffet foram pagos pelo detento. Os supostos trabalhos
artísticos garantiram a ele remissão de pena. Ele foi solto em 5 de julho de
2017.
A exposição de arte despertou
interesse dos MPCE. Nas investigações, os promotores descobriram um esquema
envolvendo os agentes e até diretores do presídio. "Qual a fonte de
receita que ele tinha? Foi aí que, dentro do contexto da Operação Masmorras
Abertas, surgiu o desdobramento que foi a Operação Mecenas, na qual uma das
linhas de investigação é lavagem de dinheiro, e a operação de hoje é um desses
desdobramentos", explicou Pinheiro.
A Operação Mecenas e Masmorras
Abertas foram deflagradas em março e abril de 2018, respectivamente, e tiveram
como alvos os funcionários das unidades prisionais cearenses. De acordo com os
investigadores, eles facilitavam a entrada de celulares e drogas. Um dos
beneficiados seria Aritana. Inclusive, o detento conseguia
"patrocinar" a entrada de bebidas e carnes para churrascos em datas
comemorativas, como Réveillon, aponta o MPCE.
Após as duas primeiras
operações, a Justiça autorizou quebra de sigilos bancários e fiscais do
detentos e dos suspeitos de serem operadores do esquema. "Na Operação
Mecenas, vimos quatro registros de escrituras fotografados por um detento. Eles
deram origem a essa operação", disse Plácido Rios, procurador-geral de
Justiça do Ceará (PGJ).
Os documentos tinham o nome de
dois familiares de Aritana. "Eles se apresentaram espontaneamente e
revelaram que eram laranjas. Em seguida, pedimos as quebras de sigilo bancário
e fiscal, foi quando ficou comprovado que não tinham renda para terem tais
bens", completou Pinheiro.
Dono da cadeira
Aritana cumpriu 15 anos de
prisão no Ceará. Além dos estupros, ele foi condenado por estelionato e
extorsão. Beneficiado com liberdade condicional, ele fugiu para São Paulo, onde
voltou a cometer crimes e foi recapturado. Atualmente, está preso lá.
Na Operação deflagrada nesta
sexta-feira, foram cumpridos mandados de prisão preventiva em Quixadá,
Fortaleza e São Paulo. Nesta última cidade, o mandado foi contra uma das
amantes dele. Na Capital cearense, o alvo foi um escritório no Centro que
funcionava como cartório clandestino. Em Quixadá, o mandado de busca e
apreensão foi cumprido na casa de uma outra amante de Aritana.
A primeira fase da operação é
considerada concluída. Ao todo, 11 pessoas foram denunciadas. Além de Aritana,
Brena Kézia, Danyelle Stefane, Glaubênia Rodrigues e Judite Raiany, apontadas
como ex-companheiras dele, e Ana Paula Barbosa, Antônia Flávia, Claudimar
Santos, Daniel David Lopes, Edna da Silva e Maria Creusa Lima, apontados como
laranjas.
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