Movimentação em frente à Câmara
de Uruburetama durante sessão que vota processo de afastamento do prefeito —
Foto: JL Rosa/ SVM
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Em sessão extraordinária, a
Câmara Municipal de Uruburetama avalia, nesta segunda-feira (15), a abertura de
um processo de afastamento contra o prefeito e médico do município José Hilson
de Paiva (PC do B), denunciado por abusar sexualmente de pacientes e filmar os
crimes. Os 11 vereadores da casa legislativa, que está em período de recesso,
foram convocados extraordinariamente para a reunião após repercussão de matéria
exibida no Fantástico, neste domingo (14), sobre o caso.
O G1 teve acesso a 63 vídeos,
filmados pelo próprio médico, com as pacientes vítimas dos abusos. A reportagem
ouviu seis vítimas em duas cidades e teve acesso a boletins de ocorrência.
Hilson, de 70 anos, atendia em clínica particular e hospitais públicos.
A presidente da Câmara, Maria
Stela Gomes Rocha, conhecida como “Tete”, disse ter "ficado em
choque" ao se deparar com os vídeos. O vereador de Uruburetama Diego
Barroso, da base política do prefeito Hilson de Paiva, afirmou que vai pedir o
afastamento do gestor após as denúncias. Nove dos 11 vereadores compareceram à
sessão nesta segunda.
Moção de repúdio
Ao abrir a sessão na Câmara, a
presidente pediu "perdão ao povo de Uruburetama". "Peço aqui, em
público, perdão ao povo de Uruburetama, porque não foi só eu, foram 78% que
escolheram esse senhor pra administrar Uruburetama não tendo [ele] nenhuma
responsabilidade de administrar seu próprio matrimônio”.
Moradores pedem por afastamento
do prefeito e médico de Uruburetama, no Ceará. — Foto: João Pedro Ribeiro/TV
Verdes Mares
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Uma moção de repúdio contra o
prefeito foi apresentada na sessão. O documento afirma que “o prefeito maculou
a imagem do município de Uruburetama” e destaca que o posicionamento da Câmara,
neste caso, é uma "questão de moralidade pública".
“A Câmara Municipal de
Uruburetama repudia publicamente as condutas imorais por ele complementadas no
exercício da medicina, que ensejou na violenta prática de abuso sexual contra
várias mulheres dos municípios de Uruburetama e Cruz”, ressalta a moção, lida
durante a abertura da sessão.
Hospital de Uruburetama, com
quadro do prefeito e médico denunciado por abuso sexual José Hilson Paiva —
Foto: JL Rosa/ SVM
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O prefeito filmava, sem o
consentimento das mulheres, o falso atendimento médico. Em alguns casos,
enquanto as mulheres estavam nuas, ele colocava a boca nos seios das mulheres
sob o pretexto de extrair impurezas e penetrava nelas afirmando que precisava
"desvirar" o útero das pacientes.
Para profissionais da
Associação Médica Brasileira que assistiram aos vídeos, Hilson Paiva
"claramente" abusa das mulheres.
Denúncias desde 1986
As denúncias de abuso contra o
prefeito ocorrem desde 1986. Nas denúncias mais recentes, em 2018, o médico foi
absolvido e denunciou as mulheres por calúnia e difamação. Três delas pediram
desculpas para evitar serem processadas; uma quarta negou.
Prefeito de Uruburetama, José
Hilson — Foto: Prefeitura de Uruburetama/Divulgação
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"Para o processo [de
calúnia e difamação contra as pacientes] ser arquivado, as vítimas teriam que
pedir desculpa pra ele. Quando chegou na minha hora, eu disse: 'Eu não vou
pedir desculpa, você quem deve me pedir desculpa'", relata a mulher, sem
se identificar.
O prefeito nega ter realizado
qualquer prática de abuso. Para ele, as denúncias são uma estratégia de
políticos de oposição para afastá-lo.
"Eu nunca fiz nada forçado.
Nada à força, não tive nada forçado. Isso é uma jogada da oposição. Querem me
derrubar."
O prefeito alega ter tido
relações sexuais consentidas com algumas mulheres, mas nega que tenham ocorrido
em consultórios médicos. Quando abordado pela reportagem em Uruburetama e
questionado por que filmava as pacientes, Hilson diz apenas que o repórter
"perguntou demais" e deixa o local da entrevista.
Por meio de nota, o advogado do
prefeito afirma que o cliente teve conhecimento dos vídeos apenas por
"ouvir dizer", que "aguarda as mídias para uma manifestação mais
concreta sobre o caso" e que irá ao Ministério Público para saber sobre a
veracidade do material.
O Ministério Público está
ouvindo vítimas do médico e afirmou que "medidas judiciais estão sendo tomadas
visando elucidar todas as condutas delitivas e punir rigorosamente o
responsável".
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