Ceará Acontece: Após pressão de moradores Câmara de Uruburetama abre sessão para votar afastamento de prefeito denunciado por abusar de mulheres

segunda-feira, 15 de julho de 2019

Após pressão de moradores Câmara de Uruburetama abre sessão para votar afastamento de prefeito denunciado por abusar de mulheres


Movimentação em frente à Câmara de Uruburetama durante sessão que vota processo de afastamento do prefeito — Foto: JL Rosa/ SVM
Em sessão extraordinária, a Câmara Municipal de Uruburetama avalia, nesta segunda-feira (15), a abertura de um processo de afastamento contra o prefeito e médico do município José Hilson de Paiva (PC do B), denunciado por abusar sexualmente de pacientes e filmar os crimes. Os 11 vereadores da casa legislativa, que está em período de recesso, foram convocados extraordinariamente para a reunião após repercussão de matéria exibida no Fantástico, neste domingo (14), sobre o caso.

O G1 teve acesso a 63 vídeos, filmados pelo próprio médico, com as pacientes vítimas dos abusos. A reportagem ouviu seis vítimas em duas cidades e teve acesso a boletins de ocorrência. Hilson, de 70 anos, atendia em clínica particular e hospitais públicos.

A presidente da Câmara, Maria Stela Gomes Rocha, conhecida como “Tete”, disse ter "ficado em choque" ao se deparar com os vídeos. O vereador de Uruburetama Diego Barroso, da base política do prefeito Hilson de Paiva, afirmou que vai pedir o afastamento do gestor após as denúncias. Nove dos 11 vereadores compareceram à sessão nesta segunda.

Moção de repúdio

Ao abrir a sessão na Câmara, a presidente pediu "perdão ao povo de Uruburetama". "Peço aqui, em público, perdão ao povo de Uruburetama, porque não foi só eu, foram 78% que escolheram esse senhor pra administrar Uruburetama não tendo [ele] nenhuma responsabilidade de administrar seu próprio matrimônio”.
Moradores pedem por afastamento do prefeito e médico de Uruburetama, no Ceará. — Foto: João Pedro Ribeiro/TV Verdes Mares

Uma moção de repúdio contra o prefeito foi apresentada na sessão. O documento afirma que “o prefeito maculou a imagem do município de Uruburetama” e destaca que o posicionamento da Câmara, neste caso, é uma "questão de moralidade pública".

“A Câmara Municipal de Uruburetama repudia publicamente as condutas imorais por ele complementadas no exercício da medicina, que ensejou na violenta prática de abuso sexual contra várias mulheres dos municípios de Uruburetama e Cruz”, ressalta a moção, lida durante a abertura da sessão.
Hospital de Uruburetama, com quadro do prefeito e médico denunciado por abuso sexual José Hilson Paiva — Foto: JL Rosa/ SVM
O prefeito filmava, sem o consentimento das mulheres, o falso atendimento médico. Em alguns casos, enquanto as mulheres estavam nuas, ele colocava a boca nos seios das mulheres sob o pretexto de extrair impurezas e penetrava nelas afirmando que precisava "desvirar" o útero das pacientes.

Para profissionais da Associação Médica Brasileira que assistiram aos vídeos, Hilson Paiva "claramente" abusa das mulheres.

Denúncias desde 1986

As denúncias de abuso contra o prefeito ocorrem desde 1986. Nas denúncias mais recentes, em 2018, o médico foi absolvido e denunciou as mulheres por calúnia e difamação. Três delas pediram desculpas para evitar serem processadas; uma quarta negou.
Prefeito de Uruburetama, José Hilson — Foto: Prefeitura de Uruburetama/Divulgação
"Para o processo [de calúnia e difamação contra as pacientes] ser arquivado, as vítimas teriam que pedir desculpa pra ele. Quando chegou na minha hora, eu disse: 'Eu não vou pedir desculpa, você quem deve me pedir desculpa'", relata a mulher, sem se identificar.

O prefeito nega ter realizado qualquer prática de abuso. Para ele, as denúncias são uma estratégia de políticos de oposição para afastá-lo.

"Eu nunca fiz nada forçado. Nada à força, não tive nada forçado. Isso é uma jogada da oposição. Querem me derrubar."

O prefeito alega ter tido relações sexuais consentidas com algumas mulheres, mas nega que tenham ocorrido em consultórios médicos. Quando abordado pela reportagem em Uruburetama e questionado por que filmava as pacientes, Hilson diz apenas que o repórter "perguntou demais" e deixa o local da entrevista.

Por meio de nota, o advogado do prefeito afirma que o cliente teve conhecimento dos vídeos apenas por "ouvir dizer", que "aguarda as mídias para uma manifestação mais concreta sobre o caso" e que irá ao Ministério Público para saber sobre a veracidade do material.

O Ministério Público está ouvindo vítimas do médico e afirmou que "medidas judiciais estão sendo tomadas visando elucidar todas as condutas delitivas e punir rigorosamente o responsável".
 *Informações: G1CE




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