Ceará Acontece: Médico suspeito de crimes sexuais é preso em Fortaleza

sábado, 20 de julho de 2019

Médico suspeito de crimes sexuais é preso em Fortaleza


Após sair da Delegacia Geral, o prefeito foi levado à Perícia Forense para fazer exame de corpo de delito (Imagem: Captura de tela)
Primeiro, expulso do partido político e afastado da gestão da Prefeitura Municipal de Uruburetama. Depois, proibido de exercer a Medicina pelos próximos seis meses. Agora, preso. Em menos de uma semana, José Hilson de Paiva, 70, foi alvo de sanções administrativas e penais. As medidas começaram a ser tomadas após o Sistema Verdes Mares exibir vídeos de pacientes sendo abusadas sexualmente dentro do consultório pelo médico e prefeito afastado.

Após ampla divulgação na mídia acerca do caso que tomou repercussão nacional, o Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE) requereu a prisão preventiva de José Hilson, investigado pelos crimes contra a dignidade sexual. Na manhã de ontem, o Poder Judiciário decretou a prisão do suspeito. Por volta das 14h e acompanhado pela defesa, Paiva se apresentou às autoridades policiais, na Delegacia Geral da Polícia Civil do Estado do Ceará, no centro da Capital e recebeu voz de prisão.
  
A reportagem apurou que prefeito e defesa já se preparavam para que ele concedesse um depoimento ainda pela manhã. Quando José Hilson soube que a Justiça havia decretado sua prisão, ele passou mal e teve que ser socorrido por um outro médico. Logo após o atendimento, encontrou com a defesa novamente e seguiram para o Centro de Fortaleza. O suspeito depôs na Delegacia Geral perante o delegado Marco Aurélio, diretor do Departamento de Polícia do Interior Norte (DPI) e da delegada do Município de Cruz, Joseanna Oliveira.

De acordo com Joseanna Oliveira, no interrogatório, José Hilson confessou que o método usado nas pacientes durante as consultas ginecológicas não estão previstos na literatura médica. Conforme a policial civil, o prefeito afastado alegou que fazia o registro sem a autorização das mulheres para se proteger de possíveis ataques de rivais políticos.

“Inicialmente, segundo ele informou, para se proteger de falsas denúncias de abuso, porque se tornou prefeito e tinha medo de opositores implantarem alguém para fazer uma denúncia falsa”. A prática de filmar pacientes, contudo, se tornou uma constante. “Depois, ele disse que isso virou um vício, uma espécie de fetiche, e ele disse que não conseguia mais parar”, detalhou a delegada.

Ainda no decorrer do depoimento à Polícia, o médico informou que “procurou ajuda para tentar curar o fetiche”, disse Joseanna Oliveira, complementando que o suspeito indicou ter parado de gravar as consultas após assumir a Prefeitura de Uruburetama. “De 2017 para cá, depois que se tornou prefeito, não teve mais tempo de consultar e deixou de filmar. No entanto, manteve as filmagens em um HD, que sumiu, não sabendo dizer como foi”, revela.

José Hilson de Paiva descartou que a esposa e ex-prefeita de Uruburetama, Maria das Graças Cordeiro de Paiva, tivesse conhecimento dos abusos sexuais cometidos por ele. “A esposa que costumava acompanhá-lo nos atendimentos não tinha ciência que ele filmava e gravava. Ela nunca participou de nada, apesar de algumas vezes ela ter entrado com paciente dentro do consultório, mas ela saía quando ele ia examinar as pacientes”, frisou a delegada.

Autorização

Na decisão da Justiça há também pedido de busca e apreensão em endereços localizados tanto em Fortaleza quanto na cidade de Uruburetama. A medida autoriza apreender computadores, celulares, tablets, HDs externos, CDs e DVDs gravados, receituários médicos, prescrições, agendas de consultas, além de demais objetos relacionados aos fatos delituosos.

O juiz José Cleber Moura de Nascimento justificou a necessidade de apreender os objetos porque há “hipótese de que o delito tenha sido praticado contra inúmeras vítimas, cujo êxito das investigações requer a consecução de provas que só poderão ser obtidas por meio de autorização judicial e busca e apreensão”. Fica autorizado que os servidores possam “arrombar portas, gavetas, cofres, móveis e equivalentes, caso não sejam voluntariamente abertos”.

Ainda na tarde de ontem, duas viaturas da Polícia Civil do Ceará chegaram à casa do prefeito afastado da atual gestão de Uruburetama. Por volta das 14h30 foi dado início ao cumprimento do mandado de busca e apreensão. Conforme apurado pela reportagem, uma variedade de documentos, aparelho de DVD e CDs foram apreendidos no local. A diligência teve duração aproximada de uma hora e trinta minutos. Um policial civil informou ao Sistema Verdes Mares que nenhum computador foi recolhido.

As consultas eram filmadas pelo próprio médico. Não se sabe ao certo quantas mulheres foram vítimas do suspeito. Nos 63 vídeos que o Sistema Verdes Mares teve acesso é possível perceber, pelo menos, 17 pacientes diferentes. A gravidade concreta da conduta do suspeito foi destacada pelo Poder Judiciário, considerando que “os supostos crimes foram praticados em momentos de fragilidade e vulnerabilidade das vítimas durante consultas médicas”.

O advogado de José Hilson de Paiva, Leandro Vasques, informou ao Sistema Verdes Mares que quando seu cliente tomou conhecimento do decreto prisional, “prontamente se apresentou à Polícia judiciária. Agora aguardará que a defesa maneje as medidas judiciais, uma vez que a vemos como carente de contemporaneidade com fatos apurados, além destes estarem sufocados pelo instituto da decadência”, afirmou.

Vítimas se dizem ‘aliviadas’

Sensação de ‘voz ouvida’ e dever cumprido. Quando as vítimas do médico José Hilson de Paiva foram informadas sobre a prisão do suspeito, elas comemoram: “Foi como se, finalmente, alguém tivesse acreditado em mim”, disse uma das mulheres. Anos depois de sofrerem os abusos sexuais, as pacientes de Paiva disseram ter visto a Justiça começar a ser feita. “Eu descobri que são muitas vítimas. Não foram só aquelas que foram filmadas, tem algumas que não foram filmadas. Ele nos expôs ao ridículo e deixou sequelas. Depois que eu vi as filmagens, aumentei a dosagem do remédio que tomo para meus problemas de nervos. Não quero que ele fique preso só alguns dias”, contou outra vítima. Também entrevistada pela reportagem, outra mulher destacou que com a divulgação do caso e a prisão, ela acredita que este médico não cometerá mais crimes contra ninguém: “Apesar de tudo, a Justiça de hoje valeu. Ele nunca mais vai fazer com ninguém o que fez comigo e várias outras”.

*DN/Segurança


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