Após sair da Delegacia Geral, o prefeito foi levado à Perícia Forense para fazer exame de corpo de delito (Imagem: Captura de tela) |
Primeiro, expulso do partido
político e afastado da gestão da Prefeitura Municipal de Uruburetama. Depois,
proibido de exercer a Medicina pelos próximos seis meses. Agora, preso. Em
menos de uma semana, José Hilson de Paiva, 70, foi alvo de sanções administrativas
e penais. As medidas começaram a ser tomadas após o Sistema Verdes Mares exibir
vídeos de pacientes sendo abusadas sexualmente dentro do consultório pelo
médico e prefeito afastado.
Após ampla divulgação na mídia
acerca do caso que tomou repercussão nacional, o Ministério Público do Estado
do Ceará (MPCE) requereu a prisão preventiva de José Hilson, investigado pelos
crimes contra a dignidade sexual. Na manhã de ontem, o Poder Judiciário
decretou a prisão do suspeito. Por volta das 14h e acompanhado pela defesa,
Paiva se apresentou às autoridades policiais, na Delegacia Geral da Polícia
Civil do Estado do Ceará, no centro da Capital e recebeu voz de prisão.
A reportagem apurou que
prefeito e defesa já se preparavam para que ele concedesse um depoimento ainda
pela manhã. Quando José Hilson soube que a Justiça havia decretado sua prisão,
ele passou mal e teve que ser socorrido por um outro médico. Logo após o
atendimento, encontrou com a defesa novamente e seguiram para o Centro de
Fortaleza. O suspeito depôs na Delegacia Geral perante o delegado Marco
Aurélio, diretor do Departamento de Polícia do Interior Norte (DPI) e da
delegada do Município de Cruz, Joseanna Oliveira.
De acordo com Joseanna
Oliveira, no interrogatório, José Hilson confessou que o método usado nas
pacientes durante as consultas ginecológicas não estão previstos na literatura
médica. Conforme a policial civil, o prefeito afastado alegou que fazia o
registro sem a autorização das mulheres para se proteger de possíveis ataques
de rivais políticos.
“Inicialmente, segundo ele
informou, para se proteger de falsas denúncias de abuso, porque se tornou
prefeito e tinha medo de opositores implantarem alguém para fazer uma denúncia
falsa”. A prática de filmar pacientes, contudo, se tornou uma constante.
“Depois, ele disse que isso virou um vício, uma espécie de fetiche, e ele disse
que não conseguia mais parar”, detalhou a delegada.
Ainda no decorrer do depoimento
à Polícia, o médico informou que “procurou ajuda para tentar curar o fetiche”,
disse Joseanna Oliveira, complementando que o suspeito indicou ter parado de
gravar as consultas após assumir a Prefeitura de Uruburetama. “De 2017 para cá,
depois que se tornou prefeito, não teve mais tempo de consultar e deixou de
filmar. No entanto, manteve as filmagens em um HD, que sumiu, não sabendo dizer
como foi”, revela.
José Hilson de Paiva descartou
que a esposa e ex-prefeita de Uruburetama, Maria das Graças Cordeiro de Paiva,
tivesse conhecimento dos abusos sexuais cometidos por ele. “A esposa que
costumava acompanhá-lo nos atendimentos não tinha ciência que ele filmava e
gravava. Ela nunca participou de nada, apesar de algumas vezes ela ter entrado
com paciente dentro do consultório, mas ela saía quando ele ia examinar as
pacientes”, frisou a delegada.
Autorização
Na decisão da Justiça há também
pedido de busca e apreensão em endereços localizados tanto em Fortaleza quanto
na cidade de Uruburetama. A medida autoriza apreender computadores, celulares,
tablets, HDs externos, CDs e DVDs gravados, receituários médicos, prescrições,
agendas de consultas, além de demais objetos relacionados aos fatos delituosos.
O juiz José Cleber Moura de
Nascimento justificou a necessidade de apreender os objetos porque há “hipótese
de que o delito tenha sido praticado contra inúmeras vítimas, cujo êxito das
investigações requer a consecução de provas que só poderão ser obtidas por meio
de autorização judicial e busca e apreensão”. Fica autorizado que os servidores
possam “arrombar portas, gavetas, cofres, móveis e equivalentes, caso não sejam
voluntariamente abertos”.
Ainda na tarde de ontem, duas
viaturas da Polícia Civil do Ceará chegaram à casa do prefeito afastado da
atual gestão de Uruburetama. Por volta das 14h30 foi dado início ao cumprimento
do mandado de busca e apreensão. Conforme apurado pela reportagem, uma
variedade de documentos, aparelho de DVD e CDs foram apreendidos no local. A
diligência teve duração aproximada de uma hora e trinta minutos. Um policial
civil informou ao Sistema Verdes Mares que nenhum computador foi recolhido.
As consultas eram filmadas pelo
próprio médico. Não se sabe ao certo quantas mulheres foram vítimas do
suspeito. Nos 63 vídeos que o Sistema Verdes Mares teve acesso é possível
perceber, pelo menos, 17 pacientes diferentes. A gravidade concreta da conduta
do suspeito foi destacada pelo Poder Judiciário, considerando que “os supostos
crimes foram praticados em momentos de fragilidade e vulnerabilidade das
vítimas durante consultas médicas”.
O advogado de José Hilson de
Paiva, Leandro Vasques, informou ao Sistema Verdes Mares que quando seu cliente
tomou conhecimento do decreto prisional, “prontamente se apresentou à Polícia
judiciária. Agora aguardará que a defesa maneje as medidas judiciais, uma vez
que a vemos como carente de contemporaneidade com fatos apurados, além destes
estarem sufocados pelo instituto da decadência”, afirmou.
Vítimas se dizem ‘aliviadas’
Sensação de ‘voz ouvida’ e
dever cumprido. Quando as vítimas do médico José Hilson de Paiva foram
informadas sobre a prisão do suspeito, elas comemoram: “Foi como se,
finalmente, alguém tivesse acreditado em mim”, disse uma das mulheres. Anos
depois de sofrerem os abusos sexuais, as pacientes de Paiva disseram ter visto
a Justiça começar a ser feita. “Eu descobri que são muitas vítimas. Não foram
só aquelas que foram filmadas, tem algumas que não foram filmadas. Ele nos
expôs ao ridículo e deixou sequelas. Depois que eu vi as filmagens, aumentei a
dosagem do remédio que tomo para meus problemas de nervos. Não quero que ele
fique preso só alguns dias”, contou outra vítima. Também entrevistada pela
reportagem, outra mulher destacou que com a divulgação do caso e a prisão, ela
acredita que este médico não cometerá mais crimes contra ninguém: “Apesar de
tudo, a Justiça de hoje valeu. Ele nunca mais vai fazer com ninguém o que fez
comigo e várias outras”.
*DN/Segurança
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