Duna na década de 1990, quando
a praia ainda não era tão conhecida nacionalmente - FOTO: JOÃO JUSTINO
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Tão icônica quanto Jericoacoara,
é a Duna do Pôr do Sol da praia conhecida nacionalmente. O espetáculo da
natureza visto do alto da faixa de areia é responsável por atrair, todos os
dias, centenas de turistas que se acomodam na praia para observar o sol sumir
lentamente em meio ao mar. No entanto, quem tem o privilégio de acompanhar essa
cena com maior frequência atesta que a duna já não é mais a mesma de outrora.
"Minha lua de mel foi
aqui, há 15 anos. Retornei neste ano para comemorar as Bodas de Cristal e notei
que ela está bem menor", observa a paraibana Camila Calixto. A percepção
da nutricionista tem fundamento.
Na década de 1980, a Duna do
Pôr do Sol, que já foi considerada uma das mais charmosas e altas do Ceará,
tinha cerca de 60 metros. Hoje, essa altura está reduzida à metade. Até mesmo
quem só viu o famoso cartão postal através de fotos, identifica: a duna está
sendo degradada e vem diminuindo ano a ano.
O coordenador de cartório
Cândido Oliveira Filho trouxe a família de São Paulo para conhecer o
"paraíso", como ele classifica a Praia de Jericoacoara. "Amigos
que já tinham visitado Jeri me indicaram e depois eu fui pesquisar na internet.
Vi várias fotos, lindas por sinal, e decidi vir com a toda a família. O local é
encantador, um paraíso, mesmo que a duna esteja bem menor do que a gente
observou pelas fotos da internet", descreve o turista paulista.
De acordo o técnico da
Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace) e doutorando na
Universidade Estadual do Ceará (Uece), Gustavo Gurgel, a duna "está
perdendo cerca de 6% de seu volume e da sua área por ano". O número é
ainda mais alarmante quando se percebe o aumento dessa redução. "Somente
no último ano, a Duna já perdeu quase cinco metros de altura e mais de 1.200
metros quadrados de seu volume", diz o pesquisador.
Diante do atual nível de erosão
e degradação da duna, Gustavo é enfático em afirmar que "se nenhuma medida
efetiva for adotada rapidamente, a Duna vai desaparecer".
Causas
Pesquisas da Universidade
Federal do Ceará (UFC) apontam que a notável migração da Duna do Pôr do Sol, em
Jericoacoara, foi incrementada a partir de 2001, "possivelmente estando
relacionada aos impactos do homem, que interage com a dinâmica dos ventos e o
aumento da temperatura global". Gustavo Gurgel explica que, ao longo dos
últimos anos, os corredores de ação eólica, os quais são responsáveis por
alimentar as dunas, "perderam suas funções".
O estudioso reitera que os
"corredores não conseguem mais levar a quantidade de areia necessária para
garantir a manutenção da faixa. Desta forma, não está havendo alimentação da
duna".
Providências
Diante deste cenário
considerado "preocupante", a Semace está realizando um estudo na área
para viabilizar um plano de manejo na unidade ambiental. Gurgel revela a
intenção de implantar técnicas de manejos ambientais em Jericoacoara, para,
assim, "reativar as funções dos corredores eólicos, possibilitando a eles
novamente atuarem".
Para além destas intervenções,
o especialista adverte haver uma imediata necessidade de controlar o acesso à
duna. Ele não menciona, no entanto, a "limitação de turistas", mas a
criação de uma área limite até aonde os visitantes poderiam se aproximar.
"Não é restringir o acesso, isso não é necessário neste primeiro momento,
mas melhorar a visitação. Quando o sol se põe, muitos turistas descem a duna
por uma faixa onde acelera, ainda mais, o processo de degradação. Essa areia é
jogada ao mar dia após dia. Então, se houver um direcionamento, um trabalho de
educação ambiental, somado às técnicas de manejo, poderemos, sim, reverter esse
processo de erosão que avança a passos largos", explica Gustavo.
Ainda segundo ele, com todas
essas propostas sendo executadas, a previsão é de que, já no primeiro ano após
a instalação, a Duna do Pôr do Sol deixe de erodir e, a partir do segundo ano,
estima-se que os corredores eólicos já consigam garantir mais sedimentação do
que erosão.
Em quase quatro décadas, a Duna
do Pôr do Sol perdeu metade de sua altura -FOTO: BRUNO GOMES
*DN/Regional
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