A pouco mais de um ano das eleições municipais
de 2020, o Governo Camilo Santana (PT) já está tendo dificuldades de lidar com
conflitos municipais em sua ampla base aliada, uma vez que, embora o arco de
aliança governista compreenda 39 dos 46 deputados estaduais, muitos são
adversários nos municípios. Em embates públicos e nos bastidores, aliados vêm
brigando pela paternidade de obras, disputando inaugurações e cobrando mais da
gestão estadual.
Na semana passada, o Governo do Estado precisou
remarcar a inauguração de uma Areninha em Uruburetama, em meio a conflitos entre
grupos políticos. Leonardo Araújo (MDB) e Romeu Aldigueri (PDT) são aliados do
governador, mas adversários no município. Após a recente mudança na gestão
municipal pelo afastamento do prefeito, José Hilson de Paiva, que está preso, o
clima pesou com o Governo: o emedebista reclamou a auxiliares de Camilo por não
ter sido convidado para o evento de inauguração.
"Fui com o governador lançar a pedra
fundamental e tive conhecimento pela oposição que o atual prefeito estava
inaugurando. Reclamei e tiveram o cuidado de remarcar para o dia 20",
relata Leonardo. Romeu, por sua vez, diz que a Areninha faz parte de um
programa do Governo do Estado e que a obra não é "mérito" de um
deputado. "É muita briga por pouca coisa", alfineta.
Assim como ocorre em Uruburetama, o Governo tem
na base aliada muitos deputados que se enfrentam em outros municípios e
disputarão o apoio do governador às suas lideranças em 2020. Reeleito com quase
80% dos votos, Camilo Santana é tido como um dos principais cabos eleitorais no
Estado.
Em público
Diferente de Uruburetama, onde o mal-estar
ficou nos bastidores, a disputa na base pelo município de Tauá foi escancarada
nas últimas semanas. O motivo também foi a paternidade de obras na região. O
deputado Audic Mota (PSB) disse, em discurso na Assembleia Legislativa, que o
prefeito da cidade, Carlos Windsor, seu primo, foi quem conseguiu verbas com o
Governo para a construção de estradas.
Rival de Audic, a deputada Patrícia Aguiar
(PSD) rebateu e disse que os recursos foram articulados pelo filho, o deputado
federal Domingos Neto (PSD), com o governador, na época em que ela era prefeita
de Tauá. O assunto gerou polêmica e Audic Mota subiu o tom contra a
parlamentar.
Patrícia Aguiar chamou o debate na Casa de
"miúdo" e pediu ao Governo do Estado que "monitore" os
aliados. "Para que não chegue a limites grosseiros, de falta de respeito,
principalmente com as pessoas. Espero que tudo isso sirva de ensinamento para
que os colegas, e aí é natural porque vai se aproximando o calendário
eleitoral, observem os limites prudenciais".
Para Audic Mota, no entanto, as questões
políticas locais não deixarão de ser reivindicadas pelo fato de ambos estarem
na base de apoio do governador. "Quando você tem dois adversários dentro
de um mesmo guarda-chuva, vai chegar um momento que vai dar problema. Não posso
ver um adversário querendo apadrinhar um pleito que eu e meu grupo nos
dedicamos para conseguir", defende.
Outros municípios, como Camocim e Granja,
também são disputados na base pelos deputados Sérgio Aguiar e Romeu Aldigueri,
ambos do PDT. Em Camocim, a prefeita Mônica Aguiar é esposa de Sérgio, que
obteve mais de 17 mil votos na cidade no ano passado, enquanto Romeu, ligado à
oposição, somou 10.429.
Focos
Já no município de Granja, do qual Romeu já foi
prefeito e que é comandado, hoje, pela sobrinha, Amanda do Romeu (PDT), ele
teve 16.126 votos em 2018. O adversário pedetista, por sua vez, obteve 7.636
votos. Sérgio Aguiar avalia que o governador terá que tomar decisões sobre o
envolvimento dele nos municípios nas próximas eleições.
"A disputa pelo apoio do governador é
importante para os políticos municipais, mas vamos esperar o que vai ocorrer
até lá. Digo que o governador não participará ativamente (nos municípios), mas
que tenha apoio firme do Governo do Estado", pontua.
O município de Iguatu é outro cobiçado por
vários governistas. Na Assembleia, a família do deputado Agenor Neto (MDB),
ex-prefeito, e a família do deputado Marcos Sobreira (PDT), ex-vice-prefeito,
disputam influência na cidade. Agenor teve quase 19 mil votos; já Marcos, quase
18 mil.
Agora, eles enfrentam novo concorrente na
região: o grupo de Domingos Filho, presidente estadual do PSD, também
governista. Domingos se aproximou do prefeito de Iguatu, Ednaldo Lavor, que é
ex-aliado da família Sobreira.
Para Marcos Sobreira, o debate político na
Assembleia será "incontrolável" e o governador Camilo Santana terá
"peso" no cenário de 2020. "Hoje, o governador é o maior
transferidor de votos no Estado, a face dele apoiando um candidato tanto dá
prestígio institucional do Governo do Estado como a transferência de votos
diretos".
Em Novo Oriente, também tem disputa acirrada
entre o deputado Carlos Felipe (PCdoB), que teve 5.807 votos no município em
2018, apoiado pelo prefeito Vanaldo Moura, e o deputado Evandro Leitão (PDT),
que obteve 5.145 votos, e é ligado ao ex-prefeito Nenen Coelho. Em disputa com
governistas nesse e em outros municípios, Evandro diz que é preciso habilidade
do Governo com a base.
Apoio
"No meio político, existe uma ciumeira
muito grande. Você chega numa cidade onde não é votado e o deputado que é
votado pelo prefeito começa a ter ciumeira, mas tento fazer política de uma
forma que isso não me perturbe. O prefeito pode escolher dois, três deputados
para votar e não vejo problema", argumenta.
Outra dor de cabeça para o governador Camilo
Santana também deverá ser o município de Juazeiro do Norte. Além do prefeito
Arnon Bezerra (PTB), que pode tentar a reeleição, outros nomes da base aliada
são cotados para disputar a prefeitura. Entre eles, Nelinho (PSDB), Gilmar
Bender (PDT) e Fernando Santana (PT). O petista, por ora, não quer entrar na
disputa, e acredita na união em torno de um candidato governista.
"A depender dos nomes colocados, pode
haver uma grande união em benefício de Juazeiro. Compondo a base do Governo, o
prefeito (Arnon Bezerra) tem preferência à reeleição, mas tem vários outros
nomes que não estão colocados ainda. Tem muita água para rolar",
desconversa.
*Informações DN/Política
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