Lojas fechadas são reflexos do
menor consumo no varejo cearense e do alto índice de desemprego - Foto: Honório
Barbosa
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O Ceará foi o Estado brasileiro
que mais fechou lojas do varejo com vínculo empregatício no primeiro semestre
de 2019. De janeiro a junho, o setor perdeu 313 estabelecimentos, segundo
levantamento da Confederação Nacional do Comércio (CNC).
O economista da entidade, Fábio
Bentes, aponta que o saldo negativo está relacionado aos resultados locais
ruins de venda do varejo nos primeiros seis meses do ano, mas que não deve ser
uma tendência para o restante do ano.
Segundo Bentes, o Ceará vinha
mostrando uma tendência de melhora desde 2017. “Chegou a ser positivo no
segundo semestre de 2018 em 42 lojas, depois de seis semestres com saldo
negativo. Agora, voltou a ser negativo – 313 lojas fechadas é ruim, mas na
segunda metade de 2015, foram 1.619 lojas fechadas no Estado”, ressalta.
Já o saldo em todo o Brasil, de
janeiro a junho, foi positivo com 3.328 estabelecimentos criados. “Esse
fechamento no Ceará é muito fácil de ser associado ao comportamento do varejo.
Enquanto no País as vendas do setor de janeiro a julho cresceram 1,2% (segundo
a Pesquisa Mensal do Comércio, do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística – IBGE), no Ceará, encolheram 1,1%”, destaca o economista.
Ele acrescenta que, na maioria
dos estados do Nordeste, foram observados saldos negativos neste primeiro
semestre, o que possivelmente tem relação com a taxa de desemprego. “O mercado
de trabalho tem apresentado resultados bastante fracos, principalmente na
primeira metade do ano. A perda de força do varejo ao longo desse início de ano
ficou muito marcante na região Nordeste e no Ceará”, afirma.
Empregos
De acordo com dados do Cadastro
Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgado pela Secretaria Especial
de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, o comércio fechou 4.704
postos de trabalho no Ceará de janeiro a junho deste ano. O saldo é resultado
de 43.228 admissões contra 47.932 desligamentos. No período, o comércio foi o
setor que mais fechou vagas de trabalho no Estado.
O presidente da Federação do
Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Ceará (Fecomércio-CE),
Maurício Filizola, ressalta que é preciso aprofundar o estudo e ter noção do
porte das empresas que foram fechadas, fator que, segundo ele, interfere
diretamente no impacto gerado em termos de faturamento e de empregos no setor.
“É preciso fazer essa análise,
porque se tiverem sido encerradas 200 Microempreendedores Individuais (MEI), o
impacto vai ser pequeno. Agora, se tiverem sido fechadas cem empresas de porte
pequeno a médio, a consequência vai ser maior”, argumenta.
Para o presidente do Sindicato
do Comércio Varejista e Lojista de Fortaleza (Sindilojas), Cid Alves, o
desemprego causado pelo saldo negativo só não foi maior por conta do equilíbrio
das contas do Estado e do Município. “Isso gerou uma segurança para servidores
públicos e suas famílias, por exemplo, evitando que a queda no consumo tenha
sido ainda maior”, avalia.
Ele pontua que o fechamento de
lojas foi puxado pelo setor de confecções, que tem sofrido com os efeitos de
alguns casos de concorrência desleal no setor. “O Ceará sempre teve um polo de
confecções muito pujante, mas vem sofrendo com alguns fatos que interferiram na
condução desses negócios. Toda a cadeia produtiva foi afetada, por isso o
impacto foi tão representativo. Só não foi pior pelo equilíbrio”, ressalta
Alves.
Expectativa
Na avaliação do economista da
CNC, Fabio Bentes, a perda de lojas no varejo cearense não deve ser uma
tendência para o restante do ano. “O Estado vinha reduzindo seu saldo negativo
ao longo dos semestres. Além disso, teremos liberação de recursos para consumo,
como o FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), 13º salário e PIS/Pasep.
Isso deve fazer não que lojas sejam abertas, mas que algumas adiem o plano de
fechamento por conta de um segundo semestre melhor. Então, o saldo do Ceará
pode ser positivo, sim, no segundo semestre do ano”, estima Bentes.
O presidente da Fecomércio-CE,
Maurício Filizola, também acredita em um segundo semestre mais punjante. “O
próprio Governo Federal está trabalhando em medidas que gerarão uma
reestruturação e uma consequente melhora na economia de um modo em geral”, diz
o presidente.
O presidente do Sindilojas, Cid
Alves, também compartilha do mesmo sentimento e estima um crescimento entre 5%
e 6% no segmento para o fim do ano. “Nós devemos ter uma evolução totalmente
diferente das observadas nos segundos semestres de anos anteriores. Agora, nós
temos uma massa de desempregados estável, inflação menor e perspectivas bem
mais otimistas para o cenário econômico”, diz Alves.
Taxa de juros
O economista Fabio Bentes
acrescenta que a nova redução da taxa básica de juros, a Selic, tende a
baratear o crédito para consumidores e para empresários, facilitando a tomada
de capital de giro, por exemplo. “No entanto, isso não é uma certeza. Ao longo
do primeiro semestre, nós tivemos redução de juros já para o novo piso
histórico e as taxas de juros na ponta, ou seja, aquelas que a gente percebe no
banco, não acompanharam essa queda, essa estabilidade nova”, pontua.
Bentes ressalta que é
importante que o esforço para fazer uma taxa de juros menor tenha uma
contrapartida na queda dos juros reais, os juros do dia a dia. “De qualquer
forma, inflação está baixa, isso também ajuda o consumo na segunda metade do
ano”.
*DN/Negócios
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