O Intercept revela
como os procuradores da Lava Jato em Curitiba programaram a divulgação da
denúncia contra Lula no caso do sítio em Atibaia fazendo um cálculo
corporativista e midiático. Os membros da força-tarefa decidiram acusar o
ex-presidente na tentativa de distrair a população e a imprensa das críticas
que atingiam a Procuradoria-Geral da República. É o que mostram as conversas secretas da Lava Jato,
material entregue ao Intercept por uma fonte anônima.
Em maio de 2017 a equipe do
então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, estava sob bombardeio por
causa de um áudio vazado da delação premiada da JBS que atingia em cheio o
presidente Michel Temer. Havia suspeitas de que o material havia sido editado.
Os chats mostram que a denúncia
do sítio já estava pronta para ser apresentada em 17 de maio de 2017, dia em
que o jornal O Globo publicou reportagem acusando Temer de dar aval a Joesley
para a compra do silêncio do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, do MDB
fluminense.
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As primeiras conversas dos
procuradores sobre a delação da JBS revelam um clima de excitação. “To em
êxtase aqui. Precisamos pensar em como canalizar isso pras 10 medidas”,
escreveu Deltan Dallagnol em 17 de maio. O procurador Roberto Pozzobon
aproveitou para recordar o ministro do STF, Gilmar Mendes, outra obsessão da
força-tarefa, ao lado de Lula. “Bem que poderia vir uma gravação do Gilmau
junto né?!”. Orlando Martello retrucou, pouco depois: “Defendo uma delação com
temer ou Cunha para pegar Gilmar”.
Passada a euforia, a
força-tarefa viu a gravação ser questionada na imprensa. Peritos entrevistados
ou contratados por veículos de comunicação identificaram cortes na gravação e
apontaram que poderia ter havido edição do arquivo.
Convencidos da integridade do
material, os procuradores esperavam que viesse a público o quanto antes um
laudo da Polícia Federal sobre o áudio. Foi aí que o procurador Carlos Fernando
do Santos Lima expôs seu plano no grupo Filhos do Januario 1, dia 21 de maio de
2017: “Quem sabe não seja hora de soltar a denúncia do Lula. Assim criamos
alguma coisa até o laudo”. Após seu chefe, Deltan Dallagnol, se certificar de
que o plano poderia ser posto em prática, ele comemorou, no mesmo grupo: “Vamos
criar distração e mostrar serviço”.
A denúncia contra Lula foi
apresentada à justiça e divulgada à imprensa no final da tarde do dia seguinte,
dia 22.
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