Os governadores sabem o que os espera. Mas não se previnem - Imagem: Divulgação/Governo do Estado do Ceará |
A crise das polícias, que se
irradia do Ceará para vários estados, é um pesadelo antigo do qual o Brasil não
consegue acordar. Só há uma notícia boa no ar: não se verifica no descalabro
atual nenhum aumento da taxa de insensatez. A falta de juízo continua nos
mesmos 100%.
Nos últimos anos, esse tipo de
crise começou, evoluiu e terminou do mesmo jeito. Há uma sequência de irresponsabilidades.
Os governadores sabem o que os espera. Mas não se previnem. Quando o caldo entorna,
chamam as tropas federais. Na sequência, alguns governadores dobram os joelhos.
Outros erguem a coluna vertebral.
No final, há muitos cadáveres,
enormes prejuízos e poucas punições de amotinados. Quando a anormalidade volta
ao normal, aprovam-se anistias no escurinho do Congresso. E o ciclo recomeça.
No Ceará, houve 51 assassinatos
nas primeiras 48 horas do motim. Mais de um cadáver por hora. Antes da crise, a
média de homicídios era de 6 por dia. Com a anistia, a lógica morre junto com
os brasileiros que desceram à cova por falta de proteção policial.
Há duas novidades na crise
atual: o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, do time dos que se ajoelham,
entregou um reajuste salarial de 41,7% aos policiais. Coisa que não orna com a
ruína das arcas mineiras. A generosidade de Zema tornou mais difícil a vida dos
governadores que desejam lidar com os seus amotinados com a coluna ereta.
A outra novidade é a
superpolitização das polícias. Basta verificar o que se passa no Ceará para
entender a natureza do fenômeno. O porta-voz dos PMs amotinados na cidade de
Sobral é o vereador Sargento Ailton, eleito pelo partido Solidariedade.
Quem registrou em nome dos
policiais o boletim de ocorrência contra o senador Cid Gomes, o insensato, foi
o deputado federal cearense Capitão Wagner (Pros). Ele estava acompanhado de
dois deputados federais de outros estados: o capitão Alberto Neto
(Republicanos-AM) e a Major Fabiana (PSL-RJ).
Essa é a turma que se enrolará
na bandeira da próxima anistia. Que será defendida no Congresso pela bancada da
bala. E, se aprovada, será sancionada sem hesitações pelo capitão Jair
Bolsonaro.
Enquanto essa lógica não for
modificada, o Brasil continuará exercendo na plenitude o privilégio de escolher
o seu próprio caminho para o inferno.
*POR JOSIAS DE SOUZA / COLUNA
UOL
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