Antônio José da Costa teria
sido torturado até a morte por PMs, conforme denunciam. PMs negam acusação. CGD
investiga o caso. (Foto: Arquivo Pessoal)
|
As circunstâncias da morte de
Antônio José da Costa, de 23 anos, são investigadas pela Polícia Civil. O jovem
morreu na quarta-feira, 29, após uma abordagem policial, na localidade de
Timonha, em Granja (a 328 km da Capital). Conforme a família dele, Antônio José
foi morto durante sessão de tortura, que contou com sufocamento por saco
plástico e afogamento induzido em baldes de água. PMs envolvidos no caso negam.
Familiares
de Antônio contaram a versão com base no relato de testemunhas. Conforme
narram, o caso ocorreu por volta do meio-dia, no momento em que Antônio
esperava para voltar ao trabalho, em um depósito de construção. Ele estava
sentado em um bar, onde almoçou, quando os policiais o abordaram.
Primeiramente, os militares perguntaram quem era o dono do bar. Foi após
Antônio ir para dentro do estabelecimento chamar o proprietário que houve a
imobilização. Conforme narra, cerca de quatro PMs cercaram o bar.
Antônio teria sido conduzido
algemado para a própria casa, onde teria ocorrido a tortura. Conforme
denunciam, foram ouvidos gritos na casa e barulhos indicando que ele estava
sendo afogado. As agressões teriam durado cerca de uma hora, conforme estimam.
Em determinado momento, um vizinho teria pedido para as agressões pararem, mas
foi ordenado que voltasse para dentro de casa. Após o fim da sessão de tortura,
ele foi levado, na viatura, para uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), onde
foi constatada a morte. Os familiares ainda contam que o corpo de Antônio
apresentava inchaço no rosto, compatível com agressões.
Fabrícia Rodrigues, irmã de
Antônio, manifesta revolta com o caso e cobra justiça. Ela diz não entender por
que o irmão foi morto, já que ele não tinha envolvimento com crimes e só ia de
“casa para o trabalho”. “Eu sei que não posso trazer ele de volta, mas eu quero
justiça. O que fizeram com ele foi uma injustiça. Já disseram que pegaram ele
com droga, só que mesmo que tivesse pegado ele com droga, não podiam ter feito
isso. Eles não podem tirar a vida de um ser humano. Eles estão ali para ajudar,
para defender o ser humano. Se ele tivesse com droga, que tivessem levado ele
preso. Tenho certeza que ele já estaria solto, mas para onde ele foi, não tem
mais volta”.
PMs envolvidos negam tortura
Em depoimento, os PMs negam a
acusação de tortura. Segundo contaram, denúncias apontavam que Antônio
traficava drogas. Quando foi visto no bar, ele foi abordado, momento em que
teria sido encontrado uma pequena quantidade de maconha. Após isso, os
policiais foram até a casa de Antônio em busca de mais drogas.
Teriam sido encontrados no
local balança de precisão e saquinhos com drogas. Enquanto as buscas eram
feitas, Antônio foi colocado sentado, algemado. Neste momento, ele teria
conseguido deixar o local e corrido em direção ao quintal. Os policiais o
encontraram se afogando em uma cisterna de cerca de três metros de
profundidade. Os PMs, então, tiraram Antônio da cisterna e tentaram reanimá-lo.
Em seguida, o levaram para a UPA, onde foi constatado que ele já estava sem
vida. “Uma das possibilidades ventiladas pelos policiais foi que Antônio tentou
sobrepor o muro, mas como estava algemado para trás, se desequilibrou e caiu
dentro do reservatório. Outra possibilidade seria a tentativa de Antônio se
esconder na própria cisterna, vindo a afogar-se."
O comandante da 3ª Companhia do
3º Batalhão de PM, o coronel Eduardo de Sousa, afirmou que inquéritos foram
abertos tanto pela Polícia Civil, quando pela Polícia Militar — já que se
vislumbra crime militar. Segundo ele, as investigações caminham “normalmente”,
já tendo, inclusive, sendo colhidas oitivas de testemunhas. “A PM não compactua
com ilegalidade. Temos total interesse que o caso seja esclarecido. Se os PMs
envolvidos tiverem responsabilidade, eles serão punidos”.
A Polícia Militar do Estado do Ceará (PMCE), por meio de nota, limitou-se
a afirmar que o caso está sendo investigado pela Controladoria Geral de
Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário (CGD).
Em blogs da região, o
comandante do 4º Pelotão da 3ªCompanhia do 3º Batalhão de Policiamento de
Rondas e Ações Intensivas e Ostensivas (BPRaio), ao qual pertenciam os PMs,
enviou nota de esclarecimento, informando que “todas as medidas necessárias
para o esclarecimento da ocorrência policial no distrito de Timonha estão sendo
tomadas”.“Algumas pessoas estão se aproveitando do fato para tentar manchar a
imagem, construída com muito suor e dedicação, do Raio na cidade de Granja”,
diz trecho do texto, que ainda pede que a população “aguarde a apuração dos
fatos e não se deixe levar pelo sensacionalismo e mensagens com suposições não
comprovadas até o momento”.
*O POVO
Nenhum comentário:
Postar um comentário