Depois do repúdio de vários
setores do funcionalismo à fala do ministro da Economia, Paula Gurdes, que
classificou o servidor público de “parasita” os diplomatas resolveram avisar
que também não gostaram de serem chamados assim. A presidente da Associação e
Sindicato dos Diplomatas Brasileiros (ADB Sindical), embaixadora Maria Celina
de Azevedo Rodrigues, “insultada, revoltada e indignada” por uma “classificação
tão injusta”.
A ADB representa 1.600 diplomatas
brasileiros em todo o mundo. Maria Celina disse que a entidade está preparando
um pronunciamento para rechaçar a declaração de Guedes. A diplomata lembrou que
o Fórum Nacional Permanente de Carreiras Típicas de Estado (Fonacate), do qual
a ADB faz parte, também deve recorrer à Justiça contra o que chamaram de
“assédio institucional” do ministro.
Para Maria Celina, a intenção do
governo de realizar uma reforma administrativa no serviço público não justifica
esse tratamento dado à categoria, que, segundo ressaltou a diplomata, em sua
maioria trabalha corretamente e de forma dedicada. Ela disse que atribui essa
postura do ministro Guedes “ao desconhecimento total” do que é o trabalho de um
diplomata e dos servidores de um modo geral. “Quantas vidas já não foram salvas
em hospitais públicos por ‘servidores parasitas’ que estão de plantão? Quantos
médicos trabalham em situação de penúria total? Conheço muitos que pegam do
dinheiro próprio para comprar coisas básicas”, comentou.
“O ministro não podia ter sido
mais infeliz – do ponto de vista dos diplomatas do que ele foi agora – neste
momento em que a gente teve três colegas que saíram de Pequim dirigindo seu
automóvel, sofreram acidente (mas estão bem), e foram para Wuhan para ajudar a
coordenar a partida dos brasileiros que queriam sair do país”, contou Maria
Celina, se referindo a uma equipe de diplomatas que trabalhou diretamente no
resgate dos 34 brasileiros da China para Anápolis (GO) por causa do novo
coronavírus.
Hoje, o ministro de Relações
Exteriores, Ernesto Araújo, fez uma postagem nas redes sociais parabenizando o
trabalho dos três diplomatas – João Magalhães, Flávio Pazeto e Germano Corrêa –
que, segundo Araújo, dirigiram 1.600 quilômetros em estradas com neve na China
para organizar o embarque em Wuhan.
Maria Celina apontou ainda que
esses diplomatas fizeram todo o processo de retaguarda, localização e
organização da pessoas para que a missão brasileira chegasse a Wuhan e tudo
tivesse pronto. Os diplomatas também ficarão em quarentena (mas na China),
assim como os resgatados, porque tiveram contato com a região do surto. “Esses
diplomatas, os militares, os médicos, todos são servidores”, lembrou.
“Então chamar de parasita quem
está arriscando sua própria vida, me desculpa… Esses meninos (os três
diplomatas) foram com coragem, mas são parasitários, supostamente porque o
ministro quer fazer uma reforma. Eu confesso que me senti insultada, juntamente
com todos os outros colegas diplomatas e com todos os outros servidores
públicos”, afirmou. “Parasita? Essa é a ideia (que o ministro tem) do
funcionário público? Você pode entender que eu esteja revoltada e indignada”.
A representante dos diplomatas
disse que essa generalização feita pelo ministro é ruim. “No Ministério dele,
os servidores são todos parasitas? Eu não posso aceitar nem como diplomata
aposentada nem como presidente da ADB uma classificação tão injusta de uma
forma coletiva para todos os servidores públicos, onde talvez tenha
(profissional ruim), mas o número de pessoas que faz seu trabalho de forma
correta é muito maior”.
A declaração de Guedes foi feita
na última sexta-feira em palestra do ‘Seminário Pacto Federativo’, promovido
pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) no Rio de Janeiro. “O funcionalismo teve
aumento de 50% acima da inflação, tem estabilidade de emprego, tem
aposentadoria generosa, tem tudo. O hospedeiro está morrendo. O cara (servidor
público) virou um parasita e o dinheiro não está chegando no povo”, disse o
ministro.
Guedes disse que a aprovação de
uma reforma administrativa é necessária para fazer com que mais recursos possam
ser direcionados a áreas essenciais. “80% da população brasileira é a favor,
inclusive, de demissão do funcionário público, estão muito na frente da gente.”
O governo ainda não enviou ao
Congresso sua proposta de reforma administrativa do Estado. Pelo que já foi
divulgado, haverá redução no número de carreiras e também no salário inicial do
servidor, além de mudanças na chamada estabilidade – que hoje, na prática,
impede que os servidores sejam demitidos.
Outras categorias, como auditores
fiscais e policiais federais, também já protestaram contra a fala de Guedes.
Além da reação do setor, a declaração do ministro irritou até políticos que
apoiam o governo, o que levou o Ministério da Economia a divulgar ainda na
sexta-feira uma nota para se explicar. Segundo a pasta, a fala “foi retirada de
contexto”.
*Ceará Notícias- AE
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