Na indústria de vestuário e
acessórios, mais de 80% dos empresários pretendem reduzir o quadro de
funcionários nos próximos três meses. Na indústria têxtil, mais de 60% dos
empresários declararam em maio que farão ajustes entre seus empregados no curto
prazo, segundo dados coletados pela Sondagem Empresarial do Ibre/FGV em maio.
Embora os subsetores em pior
posição sejam do ramo industrial, a situação também é preocupante em segmentos
de serviços, construção e comércio de automóveis e autopeças. Segundo a FGV, não
há expectativa de que a situação se reverta no curto prazo, ou seja, que passe
a haver mais empresários planejando contratar do que planejando demitir.
“Algumas dessas empresas são
grandes e de alguma forma até conseguem reduzir o quadro de pessoal sem
precisar demitir, fazendo plano de demissão voluntária, não substituindo algum
aposentado. A gente sabe que neste momento vai ter muita demissão. Mas a gente
não pode confundir com a magnitude da demissão. Pode ter 90% das empresas
dizendo que vão demitir, mas elas não estão dizendo quanto será essa redução do
quadro de pessoal. A gente assume que existe uma relação histórica com esse
saldo. Geralmente, quando há mais gente querendo demitir, há mais demissões”,
lembrou Aloisio Campelo Júnior, superintendente de Estatísticas Públicas do
Ibre/FGV.
Considerando toda a amostra da
Sondagem Empresarial, um terço dos empresários pretende reduzir o número de
funcionários nos próximos meses, 33,1% do total. Uma melhora na intenção de
contratações ainda depende de a pandemia evoluir favoravelmente e as medidas de
socorro do governo surtam efeito, explicou Capelo Júnior.
“Mesmo que a economia volte, a
gente vai ver o nível de atividade retomando, mas ainda abaixo de uma situação
de normalidade, então as empresas vão ficar um tempo na balança, ainda vendo
quanto dá para se sustentar, porque já gastaram as reservas que tinham”,
ressaltou Campelo Júnior, defendendo a importância de injeção de capital via
crédito ou pelo programa de sustentação do emprego “para fazer essa ponte entre
a situação pior da crise e uma situação mais próxima da normalidade”.
Segundo ele, algumas ainda
precisarão demitir para ajustar as contas, e o emprego se recuperará de forma
mais lenta do que a atividade econômica. “Pode haver certa heterogeneidade
entre os segmentos, alguns vão demorar um pouco mais para reagir, vão ter
outros com uma adaptação um pouco mais rápida à medida que houver afrouxamento
(do isolamento social)”, acrescentou Rodolpho Tobler, economista do Ibre/FGV,
também responsável pelo estudo.
Ele espera melhora, na melhor
das hipóteses, apenas no fim do ano. “No curto prazo a gente não tem uma
expectativa de que esse número salte para o patamar positivo (mais empresas
prevendo contratar do que demitir), como a gente vinha operando no fim do ano
passado”, completou Tobler.
No levantamento da FGV, os dois
únicos subsetores que previram em maio aumentar o quadro de funcionários num
horizonte de três meses foram a indústria farmacêutica, com 8,7% do
empresariado prevendo contratações, e hipermercados e supermercados, com 1,9%
dos empresários planejando aumentar o número de empregos.
O levantamento do Ibre/FGV
ajustou sazonalmente a série de respostas dos que planejam contratar e dos que
planejam demitir, antes de fazer o saldo de demissões, neutralizando assim os
movimentos característicos de contratações e dispensas que marcam o mercado de
trabalho a depender da época do ano.
*CN
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