Ceará Acontece: Consórcio Nordeste aponta ‘provável crescimento da transmissão’ de Covid-19 no Ceará

sábado, 24 de outubro de 2020

Consórcio Nordeste aponta ‘provável crescimento da transmissão’ de Covid-19 no Ceará

 


O Ceará apresenta tendência de alta com relação aos casos de Covid-19, segundo relatório do Comitê Científico de Combate ao Coronavírus do Consórcio Nordeste, divulgado nesta sexta-feira (23), que alerta para uma possível segunda onda da pandemia no estado. Porém, a análise do Comitê também reconhece que o estado “segue tendência de evolução com baixa de risco”.

 

O G1 tentou contato com a Secretaria da Saúde do Estado (Sesa) para confirmar se a pasta trabalha com a possibilidade da nova onda de Covid-19 no Ceará, e aguarda resposta.

 

O relatório aponta um risco epidêmico de transmissão entre 1,01 e 1,50, ou seja, indicando que uma pessoa pode transmitir o vírus para mais de um indivíduo, dado considerado um importante indicativo para uma segunda onda da doença.

 

O Ceará concentra, até a tarde desta sexta-feira, 269.255 casos confirmados de Covid-19 e 9.245 mortes em decorrência da enfermidade. Os dados são da plataforma IntegraSUS, da Secretaria de Saúde do Ceará (Sesa), atualizada às 16h55. O número de pessoas recuperadas chegou a 230.203.

 

Conforme o relatório do Consórcio, os valores de taxa de transmissão superiores a 1 são classificados como altos, "o que indica provável crescimento da transmissão de casos no Estado". "R(t) > 1 é consistente, segundo modelo MOSAIC-UFRN, com uma nova onda, ou uma mudança na metodologia de distribuição dos dados", diz o boletim. A análise foi elaborada pelo Subcomitê de Modelagem do Comitê Científico-NE.

 

O médico e neurocientista coordenador do Comitê Científico do Consórcio Nordeste, Miguel Nicolelis, defende que o modelo de análise é "muito preciso".

 

"A tabela do número de reprodução está em 1,50, e é uma média de sete dias. Esse é um modelo muito preciso, ele tem sido muito bom até agora. Em boletins anteriores, o resultado das nossas previsões foi comprovado na vasta maioria das vezes", concluiu.

 

Apesar da abertura das atividades do estado ter sido realizada de forma gradual e controlada, o Comitê ressalta que um salto de casos neste momento “é preocupante”. Prevendo, porém, “baixo risco” na evolução das próximas semanas.

 

Considerações do boletim sobre o Ceará:

O pico de casos confirmados já ocorreu, mas há uma retomada de crescimento de casos;

Com relação às hospitalizações, o relatório do Comitê aponta o pico no mês de junho, e tendência de queda para as próximas semanas;

E sobre os óbitos decorrentes da doença, também há indicativos de que um pico de óbitos já ocorreu, e há uma tendência de decaimento de óbitos diários para as próximas semanas.

O relatório destaca, ainda, a testagem da população no Ceará como um ponto positivo, tendo um aumento significativo no último mês. “Os modelos mostram números consistentes entre indivíduos testados e previstos”, acrescenta.

 

Relaxamento e campanhas eleitorais

Para o Comitê Científico, os riscos da nova onda da pandemia de coronavírus, já sentidos em países europeus como Itália, França, Espanha e Reino Unido, são resultantes, em geral, do “acomodamento da sociedade com a diminuição do número de casos e o relaxamento exagerado nas medidas de prevenção do espalhamento do vírus”.

 

Além disso, o Comitê responsabiliza a realização das campanhas eleitorais como um dos fatores para o aumento de casos.

 

“Certamente, um dos fatores que mais contribuem para esses aumentos é a campanha eleitoral, que tem gerando inúmeras aglomerações em todos locais, onde pessoas desprezam todas as normas sanitárias indicadas pela Organização Mundial de Saúde e outras consideram que o uso de máscara é segurança total contra a transmissão da Covid-19.”

 

Reforçando a importância do distanciamento entre pessoas, o relatório cita trabalho recém-publicado na revista Science (Airbone transmission of SARS-CoV-2), em 16 de outubro.

 

“Indica que o vírus em forma de aerossol com tamanho inferior a 100m pode permanece no ar por algumas horas. Invariavelmente, nas aglomerações o risco desse tipo de contaminação aumenta consideravelmente, gerando a expectativa de que, no período pós-eleição, possa ocorrer uma segunda onda da epidemia”, alerta o Comitê.

 

 

Turismo no Nordeste

No Nordeste, há ainda a preocupação das consequências da atividade turística. “Em vista de o Nordeste atrair turistas de países europeus no nosso verão, há um risco real de que nos próximos meses tenhamos um fluxo de portadores do Sar-cov-2", frisa o relatório.

 

Para minimizar os possíveis efeitos, o Comitê recomenda aos governos estaduais que sejam tomadas medidas para prevenir uma nova onda de infecção da Covid-19. Dentre elas:

 

Implantação em todos aeroportos de estandes sanitários

Obrigatoriedade de quarentena de 14 dias para os turistas que não apresentem atestados

Com relação a toda a Região Nordeste, o relatório aponta que o “risco da volta do aumento dos níveis da pandemia (efeito bumerangue) ainda não está descartado”.

 

E que o número de infectados está decaindo nos estados, possivelmente, por conta da infecção de pessoas assintomáticas subnotificadas, das medidas de isolamento social (lockdown) efetivas e de mais hospitais equipados para enfrentar a pandemia.

 

Além disso, o Comitê ressalta que abertura de escolas para crianças de forma irrestrita é “um grave erro”, pois estudos científicos mostram que, mesmo na idade muito baixa, as crianças têm alta probabilidade de serem infectadas e são potenciais transmissores da Covid-19 mesmo que não apresentem sintomas.

 

O Consórcio Nordeste destaca, ainda, a falta de padronização dos dados coletados com as secretarias de Saúde estaduais, “o que induz nos dirigentes e na população a ilusão de que a pandemia está se encerrando, bem como aumenta o grau de incerteza na modelagem da pandemia por Estado”.

 

E recomenda às secretarias que enviem os registros de número de infectados e óbitos correspondentes ao real dia em que ocorreram, e não quando passaram a constar nos exames laboratoriais.

*(G1)

 

 

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