O Ceará apresenta tendência de alta com relação
aos casos de Covid-19, segundo relatório do Comitê Científico de Combate ao
Coronavírus do Consórcio Nordeste, divulgado nesta sexta-feira (23), que alerta
para uma possível segunda onda da pandemia no estado. Porém, a análise do
Comitê também reconhece que o estado “segue tendência de evolução com baixa de
risco”.
O G1 tentou contato com a Secretaria da Saúde do
Estado (Sesa) para confirmar se a pasta trabalha com a possibilidade da nova
onda de Covid-19 no Ceará, e aguarda resposta.
O relatório aponta um risco epidêmico de
transmissão entre 1,01 e 1,50, ou seja, indicando que uma pessoa pode
transmitir o vírus para mais de um indivíduo, dado considerado um importante
indicativo para uma segunda onda da doença.
O Ceará concentra, até a tarde desta
sexta-feira, 269.255 casos confirmados de Covid-19 e 9.245 mortes em
decorrência da enfermidade. Os dados são da plataforma IntegraSUS, da
Secretaria de Saúde do Ceará (Sesa), atualizada às 16h55. O número de pessoas
recuperadas chegou a 230.203.
Conforme o relatório do Consórcio, os valores de
taxa de transmissão superiores a 1 são classificados como altos, "o que
indica provável crescimento da transmissão de casos no Estado". "R(t)
> 1 é consistente, segundo modelo MOSAIC-UFRN, com uma nova onda, ou uma
mudança na metodologia de distribuição dos dados", diz o boletim. A
análise foi elaborada pelo Subcomitê de Modelagem do Comitê Científico-NE.
O médico e neurocientista coordenador do Comitê
Científico do Consórcio Nordeste, Miguel Nicolelis, defende que o modelo de
análise é "muito preciso".
"A tabela do número de reprodução está em
1,50, e é uma média de sete dias. Esse é um modelo muito preciso, ele tem sido
muito bom até agora. Em boletins anteriores, o resultado das nossas previsões
foi comprovado na vasta maioria das vezes", concluiu.
Apesar da abertura das atividades do estado ter
sido realizada de forma gradual e controlada, o Comitê ressalta que um salto de
casos neste momento “é preocupante”. Prevendo, porém, “baixo risco” na evolução
das próximas semanas.
Considerações do boletim sobre o Ceará:
O pico de casos confirmados já ocorreu, mas há
uma retomada de crescimento de casos;
Com relação às hospitalizações, o relatório do
Comitê aponta o pico no mês de junho, e tendência de queda para as próximas
semanas;
E sobre os óbitos decorrentes da doença, também
há indicativos de que um pico de óbitos já ocorreu, e há uma tendência de
decaimento de óbitos diários para as próximas semanas.
O relatório destaca, ainda, a testagem da
população no Ceará como um ponto positivo, tendo um aumento significativo no
último mês. “Os modelos mostram números consistentes entre indivíduos testados
e previstos”, acrescenta.
Relaxamento e campanhas eleitorais
Para o Comitê Científico, os riscos da nova onda
da pandemia de coronavírus, já sentidos em países europeus como Itália, França,
Espanha e Reino Unido, são resultantes, em geral, do “acomodamento da sociedade
com a diminuição do número de casos e o relaxamento exagerado nas medidas de
prevenção do espalhamento do vírus”.
Além disso, o Comitê responsabiliza a realização
das campanhas eleitorais como um dos fatores para o aumento de casos.
“Certamente, um dos fatores que mais contribuem
para esses aumentos é a campanha eleitoral, que tem gerando inúmeras
aglomerações em todos locais, onde pessoas desprezam todas as normas sanitárias
indicadas pela Organização Mundial de Saúde e outras consideram que o uso de
máscara é segurança total contra a transmissão da Covid-19.”
Reforçando a importância do distanciamento entre
pessoas, o relatório cita trabalho recém-publicado na revista Science (Airbone
transmission of SARS-CoV-2), em 16 de outubro.
“Indica que o vírus em forma de aerossol com
tamanho inferior a 100m pode permanece no ar por algumas horas.
Invariavelmente, nas aglomerações o risco desse tipo de contaminação aumenta
consideravelmente, gerando a expectativa de que, no período pós-eleição, possa
ocorrer uma segunda onda da epidemia”, alerta o Comitê.
Turismo no Nordeste
No Nordeste, há ainda a preocupação das
consequências da atividade turística. “Em vista de o Nordeste atrair turistas
de países europeus no nosso verão, há um risco real de que nos próximos meses
tenhamos um fluxo de portadores do Sar-cov-2", frisa o relatório.
Para minimizar os possíveis efeitos, o Comitê recomenda
aos governos estaduais que sejam tomadas medidas para prevenir uma nova onda de
infecção da Covid-19. Dentre elas:
Implantação em todos aeroportos de estandes
sanitários
Obrigatoriedade de quarentena de 14 dias para os
turistas que não apresentem atestados
Com relação a toda a Região Nordeste, o
relatório aponta que o “risco da volta do aumento dos níveis da pandemia
(efeito bumerangue) ainda não está descartado”.
E que o número de infectados está decaindo nos
estados, possivelmente, por conta da infecção de pessoas assintomáticas
subnotificadas, das medidas de isolamento social (lockdown) efetivas e de mais
hospitais equipados para enfrentar a pandemia.
Além disso, o Comitê ressalta que abertura de
escolas para crianças de forma irrestrita é “um grave erro”, pois estudos
científicos mostram que, mesmo na idade muito baixa, as crianças têm alta
probabilidade de serem infectadas e são potenciais transmissores da Covid-19
mesmo que não apresentem sintomas.
O Consórcio Nordeste destaca, ainda, a falta de
padronização dos dados coletados com as secretarias de Saúde estaduais, “o que
induz nos dirigentes e na população a ilusão de que a pandemia está se
encerrando, bem como aumenta o grau de incerteza na modelagem da pandemia por
Estado”.
E recomenda às secretarias que enviem os
registros de número de infectados e óbitos correspondentes ao real dia em que
ocorreram, e não quando passaram a constar nos exames laboratoriais.
*(G1)
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