Elky Barroso
foi uma entre os 45 indígenas candidatos este ano no Ceará e a única eleita
(Foto: ARQUIVO PESSOAL) |
Elky nasceu e se criou em
Aratuba, na comunidade Fernandes, que também abriga a comunidade indígena dos
Kanindé de Aratuba. Como outros tantos cearenses, aos 17 anos ela se mudou para
Fortaleza, com objetivo de trabalhar e estudar. Ficou na Capital até 2014,
quando retornou à comunidade.
"Na minha comunidade já
havia uma moça, casada com um primo meu, que trabalhava com política e não pôde
ser (candidata). Pela necessidade de ter um representante da comunidade, eu
acabei indo pelo fato de ser da comunidade, conhecer o pessoal e ser uma mulher
indígena. Minha campanha foi feita de casa em casa na localidade dos Fernandes
e na sede, em Aratuba."
Elky é casada com Carlos Alberto Colares Menezes, que foi candidato à prefeitura do município pelo PSD. Ele ficou em segundo lugar e perdeu por 44 votos de diferença.
Os Kanindé
No ano de 1993 foi realizada uma
assemblaia dos povos indígenas do Estado do Ceará com representantes dos povos
Kanindé, Pitaguary e Tremembé. Foi o primeiro contato dos Kanindés de Aratuba
com outras etnias. Foi nesse encontro que os Kanindé começaram a reafirmar sua
identidade. No entanto, havia medo de se autodeclararem, segundo Elky. Medo de
serem mortos, pois eram perseguidos por posseiros que viviam pelas extremidades
dos seus locais de moradias. Hoje, os Kanindés são reconhecidos como etnia pela
Fundação Nacional do Índio (Funai), que está a delimitar o território desse
povo em 1.793,01 hectares.
"Quando o movimento começou,
eu tinha uma tia, a tia Teresa Barroso, que me levava pros torés, pras danças.
A partir daí eu fui conhecendo e entendendo sobre minhas origens. Eu ainda me
culpo hoje pois, devido aos anos de ausência que tive da comunidade, eu não
estive presente em boa parte do movimento, pois estava em Fortaleza atrás dos
meus objetivos."
Hostilidades na campanha
Na campanha, Elky acabou sendo
vítima de calúnias disparadas pelo Whatsapp. "Já levei nome de rapariga,
imbecil… Fizeram um documento com fotos minhas de passeios e fizeram um
arquivo, criaram uma conta no Whatsapp e espalharam esse arquivo que dizia que
eu era prostituta em Fortaleza. Quando entrei na política me falaram pra me
preparar pra tudo, mas nunca pensei que chegaria a passar por isso." O
documento em questão tinha fotos da vereadora na praia com uma frase em letras
garrafais escrito "a garota de programa em Fortaleza quer ser vereadora em
Aratuba." Sobre esse caso, foi feita denúncia ao Ministério Público
Eleitoral (MPE).
Ela também passou por outras
manifestações de preconceito. "Teve gente que disse: "Ah, de onde que
são índios?'. Porque, para algumas pessoas, ser índio é estar no meio do mato e
aqui no interior existem pessoas que não aceitam, que acham que a nossa luta é
frescura… Infelizmente, ser índio é uma luta diária, principalmente para as
lideranças que ainda lutam pelo próprio espaço da comunidade."
(O POVO)
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