Diante do aumento nos casos
graves, os insumos necessários para intubação de pacientes começam a faltar no
mercado - Foto: Tiago Gadelha |
A alta demanda de internações de
pacientes infectados pela Covid-19 em Unidades de Terapia Intensiva fez com que
o uso de medicamentos necessários para intubação crescesse de forma exponencial
em todo o País de modo a ameaçar a manutenção de seu estoque. Em vários estados
o insumo já começa a faltar.
No Ceará, segundo Sayonara Moura
Cidade, presidente reeleita do Conselho das Secretarias Municipais de Saúde do
Ceará (Cosems-CE), "pelo menos 80% das cidades com leitos de UTI estão em
criticidade". Atualmente, conforme a Secretaria da Saúde do Ceará, 18
municípios possuem leitos de UTI. Antes da pandemia, em 2019, eram apenas
quatro (Fortaleza, Sobral, Barbalha e Juazeiro do Norte).
Esses municípios, ainda segundo o
Cosems, têm estoque suficiente para no máximo duas semanas. Ao todo, 22
medicamentos compõem o chamado "kit intubação". Deste total, Sayonara
relata que os insumos que estão próximos de se esgotarem são os bloqueadores
neuromusculares e anestésicos.
"A situação é desesperadora.
A luta e o sofrimento para adquirir esses medicamentos são enormes, mas está
difícil. A falta total de alguns desses itens já é uma realidade",
reconhece a gestora.
Ainda conforme a gestora, o
panorama mais crítico é dos hospitais públicos, que dependem de licitação para
compra dos medicamentos. "As unidades com leitos particulares podem
recorrer a outros fornecedores. Se não tem em um, eles buscam em outros.
Diferente dos leitos públicos. Quando a licitação é feita, temos apenas dois ou
três fornecedores específicos. Desta forma, o pedido é feito, mas a entrega é
60, 70% menor, devido a falta dos medicamentos", acrescenta.
ESTOQUE LIMITADO
A Secretaria da Saúde do Ceará,
por sua vez, garantiu que não há falta de medicamentos do kit intubação nas
unidades de UTI geridas pelo Estado. A Sesa acrescentou ainda que "se
planejou com antecedência e tem garantido os fármacos essenciais para o tratamento
da Covid-19 em sua rede hospitalar".
Em Crato, no Sul do Estado, o
Hospital São Camilo - que possui leitos Covid custeados pelo Estado- confirma o
risco de desabastecimento e diz que tem estoque suficiente apenas para os
próximos cinco dias.
Conforme Marcelo Vasconcelos,
diretor administrativo da unidade, "há pedidos pendentes que não foram
entregues pela fornecedora. Até sexta-feira (26) se não recebermos, ficaremos
desabastecidos". O Hospital conta com 10 leitos de UTI, cuja taxa de ocupação
"tem sido quase sempre de 100%", segundo Marcelo.
Em Iguatu, a direção do Hospital
Regional de Iguatu (HRI) também afirma que o estoque está aquém da alta
demanda. Segundo Glícia Alencar, coordenadora da unidade, caso não ocorra
reposição, os insumos só duram até "o fim de semana". O hospital tem
10 leitos, também mantidos pelo governo do Estado.
"Estamos a todo momento
tentando conseguir mais insumos com os fornecedores. Está difícil, no momento
não estamos conseguindo estocar", pontua Glícia.
Já o Hospital Regional Cariri
(HRC), referência no atendimento de mais de 45 cidades do Sul do Estado, não
detalhou a atual situação do estoque dos medicamentos que integram o kit
intubação. A assessoria da unidade limitou-se a informar que "o estoque
está sendo monitorado diariamente para que não falte".
ARTICULAÇÃO
Apesar de negar a falta dos
insumos, a Sesa reconhece a crescente demanda desses insumos e diz que
"articula uma forma de agilizar a aquisição imediata para os municípios
cearenses". Ontem (21), o titular da Sesa, Dr. Cabeto, participou de
reunião virtual com o presidente da Fecomércio-CE, Maurício Filizola, e com
gestores da indústria e distribuição de medicamentos do Estado.
O objetivo do encontro foi
"alinhar medidas alternativas para garantir o estoque e o fornecimento de
medicamentos aos municípios". Diante do risco de desabastecimento,
conforme fora apontado pelo Cosems, a Sesa informou que "se prepara para
centralizar as compras dos medicamentos e ajudar as unidades hospitalares de
responsabilidade das prefeituras e secretarias municipais, agilizando o
processo de aquisição" dos insumos do kit intubação.
Fonte: DN/Regional
Nenhum comentário:
Postar um comentário