O governador Camilo
Santana (PT) decretou que a partir deste sábado (13) todo o Estado está incluso
nas normativas mais restritivas de circulação e funcionamento do comércio - Foto:
Natinho Rodrigues |
Pela primeira vez nesta pandemia,
todas as 184 cidades cearenses entraram simultaneamente em lockdown. Na
quinta-feira (11) a noite, o governador Camilo Santana (PT) anunciou que a
partir deste sábado (13), todo o Estado estaria incluso nas normativas mais
restritivas de circulação e funcionamento do comércio. A decisão tem o objetivo
de reduzir a transmissão do vírus e, consequentemente, desafogar as unidades de
saúde que estão à beira do colapso.
A medida foi elogiada por uns e
criticada por outros. A Associação dos Municípios do Ceará (Aprece) e o
Conselho de Secretarias Municipais de Saúde (Cosems), defendem que o decreto é
necessário para tentar conter o avanço do coronavírus. O prefeito de Chorozinho
e presidente da Aprece, Júnior Castro, frisou que “a decisão do governador foi
amparada em avaliação técnica e necessária para diminuir a circulação do vírus
para dar fôlego aos hospitais que estão lotados”.
Ele pediu “a adesão de todos os
prefeitos e o apoio e compreensão dos moradores e empresários para o momento
difícil que o país atravessa”. O gestor destacou ainda que o cenário é grave e
delicado, uma vez que “a onda atual ocorre de forma geral, diferentemente do
ano passado, quando iniciou de forma mais regionalizada
A secretária da Saúde de Iguatu e
presidente do Cosems, Sayonara Moura Cidade, também avalia de forma positiva a
nova determinação. “Concordamos com o decreto e, infelizmente, não há outro
caminho, porque, se essa medida não fosse adotada, a situação iria piorar ainda
mais”.
A gestora acrescenta que decisões
conjuntas tendem a ter mais resultados do que as medidas individuais. “Se um
fizer, mas os vizinhos não adotarem, não vai ter impacto na evolução dos
casos”. Essa evolução preocupa a presidente do órgão. Ela destaca que a
evolução da doença nesta segunda onda tem sido rápida e mais letal. “Vidas
serão perdidas e muitos não terão sequer acesso ao atendimento nos hospitais, a
situação é delicada”.
Apoio ao decreto
O prefeito de Iguatu, Ednaldo
Lavor, garantiu que “o decreto será cumprido” e considerou “as medidas mais
rígidas de isolamento social importantes e indispensáveis”. O assessor da
Prefeitura de Icó, Fabrício Moreira, lembrou que desde o início desta semana
que “o município já vive sob a adoção de medidas rígidas, uma espécie de
lockdown, e a fiscalização será intensificada”. Moreira observou ainda que “os
doentes não param de chegar ao hospital e que o número de óbitos também vem
crescendo”.
Em Várzea Alegre, o prefeito Zé
Hélder, também já se reuniu com a equipe e planejou ações mais intensas de
fiscalização. “Concordamos e aderimos ao decreto”, pontuou.
A presidente da Câmara Municipal
de Jucás, Dora Cunha, pontuou que o lockdown será cumprido ao passo em que
ressaltou que “a situação ficará ainda mais difícil para as empresas pequenas e
médias existentes no interior”. No entanto, Dora pediu apoio dos moradores.
O prefeito interino de Martinópole,
Betão Souza, em entrevista ontem a Fanpage do Ceará Acontece, disse que mesmo
ciente que alguns não concordam com o lockdown o município também seguirá as
normas do governo o Estado. “Entendo que alguns não irão gostar do Martinópole
no lockdown, mas que todos compreendam e colaborem, é para o bem de todos,” frisou
o prefeito.
Sem bebidas alcoólicas
Ricardo Silveira, prefeito de
Quixadá, maior cidade do Sertão Central, considera que as medidas mais rígidas
decorrem de um “momento sem precedentes”. Ele concorda com o lockdown e
acrescenta que “tem sido feitas muitas ações para frear seu avanço, como a
criação da Lei Seca, que baniu o consumo de bebidas alcoólicas no período do
nosso decreto, o que nos permitiu ter uma redução significativa no número de
casos em jovens do nosso município”.
Apesar das medidas adotadas em
Quixadá desde a semana passada, Ricardo considera que não está sendo suficiente
para conter a transmissão do vírus. “O Estado do Ceará está vivendo, realmente,
uma pandemia que está trazendo um colapso na saúde com superlotação nos
hospitais. Não existe uma outra possibilidade ou alternativa, a não ser seguir
a recomendação por parte do Governo do Estado. Sei que não é uma coisa fácil,
mas precisamos seguir acatando essas decisões, porque nosso objetivo maior é
continuar salvando vidas”.
Já o chefe do executivo de Crato,
Zé Ailton Brasil, conta que os prefeitos das principais cidades da região do
Cariri se reuniram na tarde desta sexta-feira (12) para discutir o cumprimento
do decreto, principalmente intensificando a fiscalização e monitorando os casos
suspeitos e confirmados da doença. Além disso, prevê um novo decreto municipal
que dedica uma atenção para evitar aglomerações nas agências bancárias. “Os
bancos passam a ser responsáveis. Terão que eliminar as filas, manter o
distanciamento. Esse vai ser um dos pontos centrais do nosso decreto, além do
cumprimento do que foi definido pelo Estado”.
Protesto de comerciantes
Na região do Cariri, que por
decisão dos prefeitos não teria lockdown, os comerciantes receberam com
protesto o novo decreto do Governo do Estado, que determina o isolamento social
rígido. Na tarde desta sexta-feira (12), alguns veículos trafegaram na Rua São
Pedro, principal via comercial de Juazeiro do Norte, convidando lojistas e
ambulantes para se manifestarem contra o fechamento dos serviços considerados
não-essenciais.
A vendedora ambulante Fátima
Soares já temia que o comércio fechasse. Há dois meses, sem trabalho, decidiu
vender doces caseiros no Centro da cidade. "Não sei como vai ser daqui pra
frente. Foi o que encontrei para conseguir me sustentar”, desabafa. Gerente de
uma loja de calçados, Rafael Leandro acredita que novamente terão que se
adaptar, trabalhando com o serviço de delivery. “É uma forma de evitar
demissões, já que muitas famílias dependem disso”, acredita.
O prefeito de Juazeiro do Norte,
Gledson Bezerra, se mostra contrário ao decreto. Segundo ele, a intenção era
editar medidas mais restritivas, mas sem instituir o lockdown. “Por exemplo,
com relação a proibição da venda de bebidas alcoólicas, queríamos achatar a
curva de contágio, evitar festas clandestinas com aglomerações de pessoas e os
acidentes de trânsito, que, por consequência, agravam a lotação nas unidades
clínicas e de UTI”, explica.
Já para o prefeito de Saboeiro e
presidente do Consórcio Regional de Saúde, Marcondes Ferraz, considera que a
medida rígida é “aceitável para as grandes cidades”, mas que não se encaixa com
as pequenas. O gestor disse que irá “adaptar o novo decreto à realidade do
município”. “Não podemos comparar Saboeiro com Juazeiro, somos uma cidade
pequena”, justificou. Ele, no entanto, não especificou quais adaptações seriam
estas, uma vez que o decreto estadual estabelece que as medidas ali
determinadas não podem ser relaxadas.
Situação grave nos hospitais
A diretora do Hospital Regional
do Cariri (HRC), Demostênia Coelho, que gerencia a unidade referência para toda
a macrorregião, entende que a decisão do lockdown é “polêmica”, mas que para o
atual momento da pandemia “se faz extremamente necessária”. “Não só na
tentativa de barrar a transmissão do vírus, mas de reduzir o tráfego e, por sua
vez, reduzir a quantidade de acidentes, possibilitando que as estruturas
hospitalares consigam ampliar a oferta de leitos para o atendimento à covid”,
justifica.
Segundo os dados da plataforma
IntegraSUS, da Secretaria de Saúde do Estado(Sesa), a macrorregião de Saúde do
Cariri está com uma taxa de ocupação nos seus leitos de UTI de 86,86%, enquanto
os leitos clínicos aparecem com 55,38%. Porém nas vagas apenas de leito adulto
de UTI a situação é mais grave, estando com ocupação de 94,4%.
No caso do HRC, de suas 44 vagas de UTI, 43 estão preenchidas. Na enfermaria, todos os 25 leitos também estão ocupados. “O Governo do Estado não tem medido esforços para ampliar nossa rede hospitalar. No entanto, na medida que ampliamos, percebemos que a ocupação é muito rápida. Só na última semana, conseguiu ampliar mais 25 leitos para atendimento Covid”, ressalta a diretora da Unidade. “Porém, a responsabilidade de vencer essa luta é de todos nós. Ampliaremos ainda mais. Mas contamos com o apoio da população no tocante a prevenção. Se protejam, protejam quem vocês amam, fique em casa”, suplica Demostênia.
*Com informações
DN/Região
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