No momento em que Bolsonaro abre espaço para o Centrão, em busca apoio para tentar se reeleger, as três legendas pregam unidade (Foto: reprodução) |
Dois meses após a vitória de Arthur Lira (PP-AL) na disputa pelo
comando da Câmara dos Deputados, dirigentes do DEM, PSDB e MDB intensificaram
as conversas sobre as eleições de 2022 e subiram o tom no discurso de oposição
ao presidente Jair Bolsonaro. A relação entre os três partidos ficou abalada
após a eleição para da Casa, quando Lira recebeu 302 votos e venceu Baleia
Rossi (MDB-SP) no primeiro turno com apoio de deputados do DEM, que liberou a
bancada, e do PSDB.
No momento em que Bolsonaro abre espaço para o Centrão, em busca apoio
para tentar se reeleger, as três legendas pregam unidade no ano que vem em
torno de um nome competitivo que possa quebrar a polarização entre o ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva e o Palácio do Planalto. O assunto foi tratado em um
almoço na semana passada em Brasília que reuniu o presidente do PSDB, Bruno
Araújo, do DEM, ACM Neto, e os líderes das duas bancadas, Rodrigo Castro
(PSDB-MG) e Efraim Filho (DEM-PB).
Lideranças do DEM e do PSDB estiveram no centro da articulação do
manifesto em defesa da democracia que reuniu seis presidenciáveis nesta semana.
O movimento consolidou a percepção de que esse consórcio partidário deve estar
afinado com as outras forças do chamado “polo democrático”. Esse é o nome do
grupo de WhatsApp que reúne os seis signatários do manifesto, além do ex-juiz
Sérgio Moro.
“A união entre DEM, MDB e PSDB fortalece o campo democrático para as
eleições de 2022 e une partidos cujas lideranças têm pensamentos muito próximos
e relações profundas”, disse o governador João Doria ao Estadão.
Por ora, ainda não há consenso em relação aos nomes que estão
colocados à mesa: os governadores João Doria (SP) e Eduardo Leite (RS), do
PSDB, o apresentador Luciano Huck, e os ex-ministros Sérgio Moro e Luiz
Henrique Mandetta (DEM).
O DEM tem mantido conversas também com o ex-ministro Ciro Gomes (PDT),
mas o nome dele sofre resistências entre os tucanos. Os demais signatários do
texto, à exceção de Ciro, já mantinham conversas reservadas bilaterais sobre a
necessidade de apoiar uma alternativa eleitoral para o ano que vem.
O manifesto marcou um pacto de não agressão entre os presidenciáveis,
e é tratado como o embrião de uma possível aliança, embora eles reconheçam os
obstáculos para confirmá-la.
“Os líderes na Câmara estão procurando conversar para atuarem juntos
na agenda econômica no Congresso”, disse Efraim Filho. Já Baleia Rossi, que é
presidente do MDB, tem mantido conversas bilaterais sobre 2022 com ACM Neto,
Mandetta, o vice-governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (DEM), o governador
João Doria (PSDB) e os deputados Arnaldo Jardim (Cidadania) e Luciano Bivar,
presidente do PSL. “O MDB quer uma terceira via”, disse Baleia Rossi.
A casa do governador João Doria em São Paulo tem sido um ponto de
encontro de lideranças que tentam construir uma aliança para 2022. No último
sábado, 27, o tucano ofereceu um jantar a Rodrigo Garcia e Rodrigo Maia, que
está de saída do DEM e planeja filiar-se ao MDB. Antes disso, foi o presidente
do DEM, ACM Neto, quem esteve na casa do tucano.
Nas duas ocasiões, Doria disse que é importante “proteger” o DEM. Dois
temas são considerados delicados: a possível ida do vice-governador paulista
para o PSDB, sigla pela qual disputaria a reeleição caso o tucano seja
candidato à Presidência, e a ida de Maia para o MDB. Se concretizados, esses
movimentos podem implodir o DEM em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Enquanto discutem cenários para 2022, PSDB, MDB e DEM estão alinhados
nas críticas a Bolsonaro. Documento assinado pela executiva do MDB afirma que o
governo “perdeu-se em falsos problemas”, como questionar as vacinas produzidas
pela China. O documento também diz que a gestão Bolsonaro demonstrou uma
postura “míope” nas negociações com a farmacêutica Pfizer para a compra de
imunizantes, e que autoridades deram um “mau exemplo” ao não usarem máscaras.
O PSDB também tem divulgado notas e postagens duras contra o governo.
O partido destacou que Bolsonaro foi “punido por indisciplina na década de 80”,
ao comentar a troca de comando nas Forças Armadas.
O presidente do DEM, ACM Neto, passou a adotar um tom crítico a
Bolsonaro. Em fevereiro, ele divulgou uma nota na qual considerou “lamentável”
que seu aliado João Roma tenha aceito o convite para assumir o ministério da
Cidadania. ACM Neto disse que o convite a Roma era uma tentativa do Palácio do
Planalto de intimidá-lo. No entanto, foi de ACM Neto a decisão de liberar a
bancada do DEM na Câmara para votar em Lira, o que levou à saída de Rodrigo
Maia. O episódio pode ser um entrave para uma eventual aliança com o MDB de
Baleia Rossi, derrotado na eleição.
*Via Ceará Noticias
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