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Em fase morna nas redes sociais e
ofuscado por novos fatos na corrida eleitoral de 2022, o presidente Jair
Bolsonaro (sem partido) ficou estável em popularidade digital, segundo ranking
da consultoria Quaest, mas manteve a dianteira entre a última semana de outubro
e a primeira quinzena deste mês.
No balanço mais recente do IPD
(Índice de Popularidade Digital), Bolsonaro só foi derrubado da liderança no
penúltimo dia do período analisado. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
(PT) chegou ao topo na segunda-feira (15), com 1,87 ponto de vantagem. Na terça
(16), tinha 63,9 pontos, contra 57,9 do rival.
O levantamento mostrou ainda um
crescimento da pontuação do ex-juiz Sergio Moro em meio ao evento para sua
filiação ao Podemos, que confirmou a entrada no páreo eleitoral. Ele encostou
no ex-ministro Ciro Gomes (PDT) e, na terça-feira, quando o relatório foi
concluído, estava em terceiro lugar.
Pelos
números do IPD, o acirramento das tensões nas prévias do PSDB, com o
afunilamento da disputa entre os governadores João Doria (SP) e Eduardo Leite
(RS), foi insuficiente para catapultar a presença digital dos tucanos, que
fecharam o ciclo em patamar inferior ao dos outros quatro adversários.
A métrica do IPD avalia, desde
2019, o desempenho de personalidades da política nacional nas plataformas
Facebook, Instagram, Twitter, YouTube, Wikipedia e Google. A performance é
medida em uma escala de 0 a 100, na qual o maior valor representa o máximo de
popularidade.
São monitoradas seis dimensões
nas redes: fama (número de seguidores), engajamento (comentários e curtidas por
postagem), mobilização (compartilhamento das postagens), valência (reações
positivas e negativas às postagens), presença (número de redes sociais em que a
pessoa está ativa) e interesse (volume de buscas no Google, YouTube e
Wikipedia).
Em suma, o quadro revelado agora
pela Quaest reflete em parte as últimas pesquisas de intenção de voto. Bolsonaro
e Lula são os que têm maior destaque no IPD neste momento, com leve vantagem
para o atual ocupante do Planalto, dono de um histórico mais consolidado nas
redes.
O mandatário, que esteve perto de
bater o martelo sobre sua filiação ao PL, preservou seus índices no ranking
mesmo após a informação de que estava “99% fechado” com a legenda do centrão,
conforme o próprio anunciou no dia 8. Após reviravoltas, o ingresso dele na
sigla ficou em suspenso.
Bolsonaro se manteve na casa dos
58 pontos, apesar do cenário de enfraquecimento político, com a pauta do
governo estacionada no Congresso e o agravamento da crise social, com inflação
disparada, descontrole nos preços de combustíveis e previsões econômicas
pessimistas.
Apesar do mau estágio, o
presidente desfruta de posição confortável no histórico do índice de
popularidade desde 2019. Bolsonaro é, entre os presidenciáveis e atores
políticos, quem tem o maior IPD médio, embora sua liderança seja ameaçada por
oponentes em algumas ocasiões.
Já o petista, que nas sondagens
de voto para 2022 lidera as preferências, encontra terreno instável no ambiente
digital. A recente subida detectada no IPD coincide com a repercussão da viagem
dele a países da Europa, iniciada no dia 11 e recheada de encontros com líderes
políticos da região.
O maior salto na pontuação
ocorreu na segunda-feira passada, quando Lula discursou no Parlamento Europeu,
ao participar da Conferência de Alto Nível da América Latina, promovida pelo
bloco social-democrata. O petista ganhou 12 pontos em relação ao dia anterior e
virou o líder.
Para o cientista político Felipe
Nunes, que é diretor da Quaest e responsável pelo IPD, Bolsonaro tem se
beneficiado, de certa maneira, da recente mudança de tom nas redes,
provavelmente em consequência do cerco a contas dele pelas plataformas e da
remoção de conteúdos com desinformação.
“Esse estilo mais calado está
contribuindo para mantê-lo no pelotão de cima, mas sem grandes volatilidades,
como costumava acontecer com ele no IPD nos últimos tempos”, diz.
No caso de Lula, Nunes avalia que
a repercussão majoritariamente positiva do giro europeu está relacionada à
elevação de pontuação, mas é preciso esperar para ver se o petista será capaz
de sustentar o desempenho quando estiver com exposição menor ou sob ataques.
No dia 5, pouco antes de
desembarcar na Europa, o ex-presidente estava em seu pior momento no último
período observado pelo IPD (outubro/novembro), com 36,1 pontos. Seu resultado
iniciou então uma trajetória de alta, que culminou na marca de 63,9 no dia 15
—uma diferença de 27,8 pontos.
Fora da rixa polarizada no topo
do gráfico, a novidade é o fôlego tomado por Moro, com uma dimensão agora
comparável à de Ciro. O ex-juiz da Operação Lava Jato e ex-ministro da Justiça
do governo Bolsonaro cresceu na época em que confirmou sua entrada formal na
política.
O pré-candidato ao Planalto, que
aderiu ao Podemos no último dia 10 com discurso de pré-candidato à Presidência,
fechou o período considerado pela Quaest com 30,7 pontos, à frente dos 28,9
pontos do pedetista, que se mantinha firme nesse patamar graças a uma
estratégia forte nas redes.
“Moro assumiu a terceira
colocação no IPD e teve uma evolução considerável, principalmente se lembrarmos
que no dia 25 de outubro a pontuação dele era de 17,2. Sua candidatura tem
chamado a atenção e gerado engajamento e mobilização digital”, analisa Nunes.
Doria e Leite, por outro lado,
“não empolgam”, observa o diretor da Quaest. Os dois tucanos concorreram neste
domingo (21) na votação interna para escolher o pré-candidato do PSDB ao
Planalto e tiveram uma intensa visibilidade nas últimas semanas, com fartas
ações para valorizar seus passes.
Apesar da movimentação, o
paulista ficou em nível próximo dos 20 pontos, ora caindo ao nível dos 15.
Encerrou o período, na terça (16), com 18,4 pontos, empatado com o gaúcho e
seus 18 pontos. Leite vinha de uma sequência levemente mais vantajosa —teve
pico de 25 pontos—, mas recuou.
Moro, Doria, Leite e Ciro
competem pelo eleitorado que deseja a chamada terceira via, ou seja, uma
candidatura alternativa a Lula e Bolsonaro. Os três primeiros tentam se cacifar
como forças da centro-direita, enquanto o quarto é ligado à centro-esquerda,
mas também busca aliança mais ampla.
O IPD monitorou ainda o
presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (MG), que migrou do DEM para o PSD a
convite do ex-ministro Gilberto Kassab, interessado em lançá-lo candidato à
Presidência. Pacheco tem presença tímida no meio digital e é pouco conhecido do
eleitorado, o que pesou em sua nota.
O senador tinha 13,7 pontos no
dia do fechamento do relatório do IPD, uma queda de 10 pontos em relação ao que
atingiu em meados de outubro, logo após confirmar sua mudança de partido.
(Folha SP)
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