Possibilidades de investimentos
para cumprir a reserva constitucional não faltaram. O que faltou foi certamente
um gerenciamento mais racional desses recursos obrigatórios. |
Não se pode ignorar o contexto
que está permitindo muitas prefeituras do país o pagamento de abonos que variam
de R$ 2 mil a R$ 16 mil ao magistério neste final de ano. Analisados
superficialmente, os valores que destoam dos concedidos em anos anteriores são
um afago à categoria que viveu na pandemia um dos períodos mais desafiadores para
a educação, o que não foi uma exclusividade brasileira, por razões óbvias. Mas,
ao se posicionar uma lupa sobre a situação desses municípios, o que se revela
de forma amplificada é o planejamento deficiente dos gastos com o setor.
O ano de 2021 prolongou, por um
período mais curto, é verdade, o afastamento das escolas iniciado em 2020,
quando a Covid-19 tomou o planeta de assalto. O ensino remoto, executado a
duras penas sobretudo na rede pública, provocou uma queda nos gastos com o
custeio das escolas, esvaziadas. Situação que não alterou uma imposição
constitucional: a de que 25% da arrecadação dos municípios sejam aplicados em
educação, com foco na manutenção e no aprimoramento do ensino.
Durante esse período excepcional
para a educação, os ovos que não precisaram ser colocados na cesta das despesas
com a manutenção escolar (água, energia elétrica, materiais de consumo,
transporte escolar etc.) poderiam ter sido depositados em outras: não somente a
reforma das estruturas físicas aproveitando a ausência de alunos e
profissionais, mas sobretudo direcionando recursos para aprimorar a qualidade
do ensino remoto, com equipamentos e capacitação de professores. Tudo para
reduzir os danos na aprendizagem. Diagnósticos realizados pelo governo estadual
e prefeituras já apontaram o impacto negativo que o afastamento da escola teve
sobre os alunos em 2020.
Possibilidades de investimentos,
portanto, não faltaram. O que faltou foi certamente um gerenciamento mais
racional desses recursos obrigatórios. O resultado desse planejamento falho se
materializa agora no pagamento desses abonos, para cumprir a reserva
constitucional. Vale reforçar que melhores salários para professores também
resultam em investimentos em educação, mas nunca de forma assoberbada e mal
planejada. Não se trata de uma política salarial permanente; da forma que é
feita, tem mais um caráter populista do que de preocupação com a qualidade do
ensino.
A mudança no Fundo de Manutenção
e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da
Educação (Fundeb) em 2021, com a obrigatoriedade de que 70% da verba sejam
utilizados para o pagamento de pessoal, também foi justificativa dos gestores
para o abono. Mas na prática em anos anteriores algumas prefeituras já atingiam
esse percentual.
É sugestivo o interesse político
quando gestores municipais, para não terem suas contas rejeitadas por
descumprirem a cota de investimento em educação, destinam o montante ao
pagamento do abono. Sendo que a educação pública de fato precisa de um ganho gerencial,
que equalize salários justos com um investimentos bem direcionados com foco na
qualidade do ensino. A educação básica é o pilar da formação escolar e da
capacitação dos futuros profissionais do país. O gerenciamento desses recursos
precisa ser tratado com mais seriedade, em qualquer contexto.
(Com texto
adaptado - Opinião da Gazeta)
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