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O argumento usado pelos
municípios é o de que não havia no que investir, já que as escolas ficaram
fechadas quase o ano todo, reduzindo os gastos, por exemplo, com limpeza,
transporte e material escolar. Para educadores, no entanto, o recurso deveria
ter sido usado em tecnologia, infraestrutura para a volta presencial e na
recuperação da aprendizagem.
A estimativa de 81% dos
municípios fora da regra é da Frente Nacional de Prefeitos (FNP), que também
calcula o montante não aplicado: ao menos R$ 15 bilhões deixaram de ser
investidos na educação básica (infantil, fundamental e médio, de 0 a 17 anos)
desde o início da pandemia. O total se refere a 2020 e 2021 – no ano passado,
35% das prefeituras não aplicaram o mínimo constitucional. Os números foram
tabulados a partir dos dados mais atuais do Sistema Integrado de Planejamento e
Orçamento (Siop). Até outubro, 698 prefeituras informaram quanto tinham
investido no ensino ao longo de 2021 – dessas, 569 não alcançaram 25%.
“O ensino passou a ser online.
Ficamos assim por quase dois anos, o que reduziu drasticamente os gastos”, disse
o prefeito de Aracaju e presidente da FNP, Edvaldo Nogueira Filho (PDT). Outra
dificuldade foi que a Lei Complementar 173/2020 impediu reajustes salariais e
novas contratações durante a crise sanitária.
A entidade também tem cálculos
que mostram que a receita deste ano veio acima do previsto – e não havia
planejamento para o uso desse dinheiro extra. A receita dos municípios para
investimentos em educação é formada por 25% de todos os impostos arrecadados,
além de transferências do Estado e da União.
Disposto a pressionar os
deputados, Nogueira Filho comandará uma comitiva a Brasília na quarta-feira
para defender a aprovação da Proposta de Emenda Constitucional (13/2021). O
texto impede a aplicação de punição civil, administrativa ou criminal a
gestores locais que não cumpriram o mínimo em 2020, 2021 ou nos dois anos. Além
disso, prevê que os recursos não aplicados no período sejam obrigatoriamente
investidos em educação em 2022 e 2023.
A PEC também impede, segundo
Nogueira Filho, gastos deliberados no fim do ano. “Tem gente trocando
ar-condicionado que está bom só para gastar. É isso que a gente quer evitar. O
gasto deve ser um bom gasto. Não é para torrar o dinheiro só para cumprir a
regra.”
Segundo o deputado Silvio Costa
Filho (Republicanos-PE), escolhido relator da PEC na Câmara, a matéria deve ser
votada pela Comissão de Constituição e Justiça na quarta-feira. “Depois, a
ideia é que siga direto para o plenário, entre os dias 13 e 14, a tempo de ser
promulgada ainda este ano. E que a gente mantenha as mesmas bases do relatório
do Senado para que não corramos risco de voltar para lá.”
LISTA
O Estadão teve acesso a uma
planilha da FNP que revela o baixo investimento em capitais (Manaus, Teresina e
Palmas), cidades médias (Valinhos, SP, e Garanhuns, PE) e pequenas (Mercês, MG,
e Pirenópolis, GO). A reportagem apurou que somente a capital paulista deixou
de aplicar R$ 1,5 bilhão de 2020 pra cá. Tabulação do Tribunal de Contas do
Estado de São Paulo, indica que 478 das 644 cidades não investiram os 25%.
“Se teve um período em que o investimento
em educação foi mais necessário foi durante a pandemia. Esses prefeitos foram
eleitos no meio dela, eles já sabiam que uma das suas missões seria reduzir os
impactos na educação”, disse a presidente executiva do Todos pela Educação,
Priscila Cruz.
Estudos nacionais e
internacionais têm mostrado que os alunos brasileiros devem regredir em décadas
de aprendizado por causa da covid-19. O Brasil foi um dos países que mais tempo
ficaram com escolas fechadas no mundo, muitas vezes por decisões de prefeituras.
A maioria do ensino público retomou aulas presenciais no segundo semestre.
Para Priscila, o baixo
investimento demonstra que a área “ainda não é prioridade” para os gestores.
Ela argumenta que os municípios poderiam ter aberto mais turmas em ensino integral
para que as crianças, de volta ao presencial, pudessem recuperar o tempo que
ficaram fora da escola. Também ressalta que era preciso investir em tecnologia
para propiciar o ensino híbrido, reformar escolas para permitir mais ventilação
e investir em um processo intenso de recuperação, com avaliação diagnóstica.
“Isso custa dinheiro.”
Mas, apesar da crítica, Priscila
defende que o dinheiro permaneça na educação – assim como o consultor e
especialista em financiamento, Binho Marques. “Já que isso ocorreu, por
incompetência da gestão pública, que o recurso seja gasto nos próximos anos de
uma maneira mais planejada e não agora em qualquer coisa.”
Ex-secretário de Educação do Acre
e de Articulação no Ministério da Educação, Marques diz que muitas vezes quem
decide sobre a verba é o prefeito ou o secretário de Finanças. “Em geral, o
secretário da Educação, que entende de ensino e saberia no que investir, não
controla o dinheiro e não sabe de gestão.”
SAÚDE
Segundo o secretário de Educação
de Teresina, Nouga Cardoso, ninguém gosta de tirar dinheiro da educação, mas
justifica a ação pela demanda da Saúde. “A primeira preocupação tinha que ser a
vida. O município precisava manter os hospitais funcionando”, justificou. Até
outubro, a cidade tinha gasto 17% no ensino. Os 92 mil alunos da rede voltaram
às escolas em 16 de setembro e ainda fazem revezamento. As informações são do
jornal O Estado de S. Paulo.
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