Bolsonaro é pré-candidato à reeleição Foto: Pablo Jacob/Agência O Globo |
A maioria dos principais partidos
de oposição e independentes afirma que os recentes ataques de Jair Bolsonaro
(PL) ao sistema eleitoral e a ministros das cortes superiores representam um
comportamento golpista que precisa ser levado a sério.
A reportagem procurou nos últimos
dias os chefes dos três Poderes, de tribunais superiores, do Ministério Público
Federal e dos principais partidos políticos, além dos presidenciáveis e
entidades representativas do empresariado e da sociedade civil.
Nenhuma das autoridades da
República quis se manifestar sobre o assunto, entre elas os presidentes da
Câmara, Arthur Lira (PP-AL), do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), do Supremo
Tribunal Federal, Luiz Fux, além do chefe do Ministério Público Federal,
Augusto Aras.
Entre os principais partidos
políticos e os presidenciáveis, os presidentes do PT, Gleisi Hoffmann, União
Brasil, Luciano Bivar (também presidenciável), PSDB, Bruno Araújo (que disse
preferir o termo “ameaças ao Estado de Direito” a “golpe”), do MDB, Baleia
Rossi, do PSB, Carlos Siqueira, e do PDT, Carlos Lupi, além dos pré-candidatos
Simone Tebet (MDB), Luiz Felipe d’Avila (Novo) e Vera Lúcia (PSTU)
classificaram as declarações e ações de Bolsonaro como um preocupante
comportamento golpista.
Esses políticos concordam que o
país deve se preocupar com a possibilidade de o presidente tentar um golpe
eleitoral. Eles se dividem, entretanto, ao serem questionados se isso
representa que as eleições estejam sob risco. Gleisi, Tebet, d’Ávila e Vera
Lúcia dizem que sim, e os demais, que não.
Já o presidente do PSD, Gilberto
Kassab, marcou na enquete elaborada pela Folha a opção de que as declarações do
presidente da República são apenas blefe, em sua avaliação, mas que mesmo assim
o país deve se preocupar com a possibilidade de Bolsonaro tentar golpear as
eleições.
Somente o presidente do PSC,
Marcondes Gadelha, marcou a opção de que Bolsonaro faz críticas dentro de sua
liberdade de expressão e assim o tema deve ser tratado.
Os partidos que comandam o
centrão (PP, PL), grupo que dá sustentação ao governo, não responderam, assim
como outros pré-candidatos à Presidência.
Além das autoridades e políticos,
a Folha fez os mesmos questionamentos a entidades representativas do
empresariado e da sociedade civil. De 12 entidades, 2 responderam.
Entre as que silenciaram estão a
OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil), a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), a CNA
(Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) e a Febraban (Federação
Brasileira de Bancos).
Bolsonaro têm mantido desde a
campanha de 2018 um discurso em que, sem nenhuma prova, coloca dúvidas sobre o
sistema eleitoral brasileiro. Em várias ocasiões ele deu a entender que não
aceitará outro resultado que não seja a sua vitória em outubro.
No último dia 5, por exemplo,
afirmou que uma empresa será contratada pelo PL, o seu partido, para fazer uma
auditoria privada das eleições deste ano. E sugeriu, em tom de ameaça, que os
resultados da análise podem complicar o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) se a
empresa constatar que é “impossível auditar o processo”.
À reportagem a pré-candidata
Simone Tebet afirma que a base do discurso golpista de Bolsonaro está nas fake
news (como de que há o inimigo comunista a ser combatido ou nos questionamentos
infundados à ciência) e que essa é uma tentativa dele de corroer as
instituições democráticas.
“Ele conseguiu colocar uma
instituição contra as outras e a sociedade contra as instituições. Ele busca
fragilizar o Judiciário, porque é o STF tem o poder nato de dar a palavra final
na análise da legalidade e constitucionalidade dos atos”, afirma a emedebista.
Luiz Inácio Lula da Silva (PT),
que lidera as pesquisas, não respondeu à Folha, assim como Ciro Gomes (PDT),
que está em terceiro, e que em live na semana passada cobrou união entre os
presidenciáveis para denunciar as evidentes indicações de que há um golpe
antidemocrático em elaboração por Bolsonaro.
Carlos Siqueira, presidente do
PSB, diz concordar que o Judiciário tem sido um “bastião” de proteção à democracia
nesse contexto e diz que sua maior decepção é com a atuação da
Procuradoria-Geral da República.
Afirma ainda que não vê chance de
os militares embarcarem no discurso golpista enquanto a defesa da democracia
for a opinião hegemônica da sociedade em geral.
“Acho que, no meio militar, o
Bolsonaro deu passos importantes quando destituiu o ministro da Defesa e trocou
os três comandantes, que eram explicitamente defensores da legalidade e do
respeito à Constituição, e colocou três nomes e um ministro da Defesa aliados
incondicionais seus.”
“Não é suficiente para cumprir o
intuito dele, mas são passos importantes, porque, se um dia a maioria da
sociedade apoiá-lo, ele teria os dispositivos militares dispostos a
acompanhá-lo”, afirma Siqueira.
O presidente da União Brasil
afirmou ter convicção de que é preciso estar atento e que a situação é
preocupante.
“A gente espera que tanto a
sociedade civil, quanto a classe política e o Judiciário estejam muito
precavidos e cautelosos para que não haja uma ruptura. Temos que ter muito
cuidado, é um momento crucial que vive a República brasileira devido a
insanidade que hoje permeia o Planalto”, diz Luciano Bivar.
Vera Lúcia diz que Bolsonaro
deseja impor uma ditadura no Brasil.
“Por isso, buscou construir um
governo sustentado pelos militares, saudosos do golpe de 1964. Suas ameaças
golpistas precisam ser levadas a sério e combatidas com toda a nossa força, com
mobilização direta nas ruas.”
(Folhapress)
Nenhum comentário:
Postar um comentário