Por João Victor Mascarenha
Mais uma vez em Parazinho se cumprirá a
tradição secular de festejar a padroeira, Nossa Senhora do Livramento de
Parazinho; este ano em especial a festa marca os 320 anos do povoado, sendo
marco referencial a doação de terras em sesmarias aos Machado Freire, entre
eles Domingos Machado Freire que se instalou às margens do riacho Pará (hoje
denominado riacho Jaguarapi - Açude Parazinho) em sítio do mesmo nome no
povoado de Nossa Senhora do Livramento ou Nossa Senhora do Livramento do Pará
(carece de fontes). Domingos era português natural da província de Minho e
recebeu por provisão de 03 de agosto de 1702 as terras que hoje compreendem
Parazinho, sendo que o mesmo é tido como o construtor da igreja primaz que
ainda hoje vemos no centro de Parazinho (Educandário).
Embora Monsenhor Vicente Martins da Costa em várias ocasiões tenha citado uma capela erigida em 1650 mais ou menos em Parazinho, anterior a chegada de Domingos Machado Freire, e que esta foi depois reconstruída e aumentada; e o Deputado Guilherme Teles Gouveia tenha assinalado em 1974 no livro "Assentamentos Históricos do Município e a Festa Religiosa de N. S. do Livramento do Parazinho " que: " A notícia mais remota e de indiscutível autenticidade, há de ser a que consta no pedido de terras por Sesmaria, as ilhargas das anteriores doações à margem do rio Coreaú, em cujo documento os peticionários, futuros sesmeiros, em princípios do Século XVIII, fazem menção a uma Capela onde se celebram os ofícios divinos". Mais tais afirmações carecem de fontes mais detalhadas.
Encontramos citações do Barão de Studart, Dom José Tupinambá da Frota e Monsenhor Sadoc alusivas a Capela de Parazinho, como sendo construída na época do vicariato do Pe. João de Matos Monteiro que nesta região residiu de 1712 a 1724, segundo estes Domingos Machado Freire teria construído a Capela e também várias citações a batismos, visitas e fatos importantes como a escolha da fazenda Caiçara (Sobral) como sede do curato. Entretanto a Oralidade alude a um Naufrágio que aconteceu no litoral norte do Ceará, em que uma nau teria em meio a uma procela vindo a pique, escapando somente três tripulantes, estes fizeram voto a Nossa Senhora do Livramento que se escapassem dos índios e animais selvagens, no local onde encontrassem gente mansa que lhes prestassem auxílio, iriam construir uma capela. Depois de andarem muitas léguas, resolveram repousar sob a copa de um Juazeiro, de lá escutaram um barulho, que segundo os mais antigos era um índio que havia flechado uma onça, este índio os acolheu, dando pouso, alimentação e proteção. Os náufragos cumpriram sua promessa construindo uma pequena casa de oração que segundo os antigos anciãos foi anos após reconstruída e hoje constitui a nave central da igreja velha que vemos hoje.
Após a construção desta capela, incríveis
histórias de milagres começaram a se espalhar pela região, e até hoje Parazinho
é ponto de convergência de milhares de católicos de todo o Brasil e além fronteiras.
Um dos mais antigos registros que se tem sobre a festa do Parazinho data de
1862, no jornal Pedro II, denota um grande comparecimento, muitas festas, missa
cantada e procissão, sendo que já nesta época todos os dias foram acompanhados
pela banda de música. Não se sabe o motivo nem o ano preciso, mas na segunda
metade do século XIX a data da festa foi alterada para o 1° domingo de julho,
sendo re-fixado o dia 02 de julho em 1900 pelo Pe. Leandro Teixeira Pequeno que
muito contribuiu para o luzimento da festa. Essa data somente foi interrompida
em 1958, quando a igreja foi interditada devido desobediência ao decreto
episcopal que proibia a realização de festas dançantes e mais recente no ano de
2020 quando foi comemorada no dia de finados.
A Partir de hoje, milhares de pessoas irão
passar por Parazinho para acompanhar os atos religiosos aos pés da belíssima e
milagrosa, mais que bicentenária imagem de Nossa Senhora do Livramento,
romeiros de todo Brasil com destaque para os Estados do Ceará, Piauí, Maranhão,
Pará e Mato Grosso.
A festa deste ano tem um sabor
especial aos admiradores da história desta distinta e graciosa paragem, o fato
anteriormente apontado dos 320 anos de fundação do povoado que hoje é a
freguesia de Nossa Senhora do Livramento de Parazinho; nestes três séculos e
duas décadas aconteceram tantos fatos importantes e tantos vultos por aqui
passaram que julgo inapropriado citar nesta nota histórica, desde a chegada de
Domingos Machado Freire até nossa chegada nestas terras abençoados pela mãe de
Deus muitas histórias e muitas graças foram alcançadas. Hoje quem vem ao
Parazinho além da igreja primitiva se confronta com o Santuário atual
construído em tempo recorde de um ano e meio (18 meses), obra construída pelo
povo sob liderança do saudoso Monsenhor Manoel Vitorino de Oliveira e abençoada
a 16 de janeiro de 1944 por Dom José Tupinambá da Frota de venerável memória
que a fez Santuário; o açude público, barragem centenária que corta o antes
denominado riacho Pará, hoje riacho Jaguarapi, obra idealizada pelo magnífico
Monsenhor Vicente Martins da Costa que contou com o apoio do deputado Luiz
Felipe de Oliveira. Outros pontos que merecem destaque, e muita atenção de
todos, é o abrigo dos romeiros, igual a este só há em Canindé e Juazeiro; e a
estátua de Nossa Senhora do Livramento que foi instalada na década de 80.
Parazinho como um todo precisa de mais atenção, por parte da igreja, do governo do Estado e do próprio povo. O autor destas linhas escreveu ao Bispo Diocesano pedindo em nome da comunidade algumas mercês e posições mais firmes da igreja em relação ao Parazinho, quando a isso estamos segurados na ação pastoral do operoso Exmo. Revm. Dom Francisco Edimilson Neves Ferreira, devoto e propagador da devoção à excelsa Senhora do Livramento de Parazinho. Há pouco tempo escrevemos para os setores do governo pedindo melhorias nas estruturas quase inexistentes para o acolhimento dos Romeiros. Temos feito o possível para trazer o progresso, mas isso não depende exclusivamente de nossa vontade, o povo deve embarcar nesse barco com a firme esperança que nossa padroeira não nos deixará naufragar.
Para a festa deste ano de 2022 a paróquia
organizou uma programação simples, com missas e novenas, no dia 02 a missa
solene que deveria ser celebrada pelo bispo e pela tarde a tradicional
procissão em louvor a gloriosa Nossa Senhora do Livramento de Parazinho.
Sintam-se todos convidados para
este forte momento de fé, esperança e amor que é a tradicional e secular festa
de Parazinho, terra de muitas bênçãos, belezas e milagres.
Nenhum comentário:
Postar um comentário