Onda de fake news sobre massacre
deixa escolas, famílias e policia em alerta - (Foto: reprodução) |
O padrão é o mesmo: o aluno picha
em algum lugar da escola, normalmente no banheiro: "Massacre dia X".
A maioria tira foto, apaga a frase e depois publica nas redes sociais ou
distribui em grupos de WhatsApp, usualmente em um perfil anônimo.
A veiculação da mensagem acaba
por chegar aos pais e à escola, provocando um clima de apreensão. Seria uma
ameaça real? Para se precaver, os colégios acabam fazendo um boletim de
ocorrência, deixando a investigação a cargo das forças públicas.
Na maioria das vezes não é
possível identificar o pichador e o caso fica sem solução. Nem mesmo as câmeras
de segurança ajudam, uma vez que é proibido colocar monitoramento nos
banheiros. Já em casos em que os responsáveis foram descobertos, todos deram a
mesma explicação: uma brincadeira para assustar a comunidade escolar.
Essa onda de fake news a respeito
de massacres em escolas surgiu nos Estados Unidos, em dezembro passado, quando
grupos passaram a divulgar essas mensagens pelo aplicativo TikTok. Lá, no
entanto, são comuns esses atos de violência, como o ocorrido recentemente em
uma escola em Uvalde, no Texas, quando um jovem de 18 anos matou a tiros ao
menos 19 crianças e 2 adultos.
Em dezembro, muitas escolas
americanas cancelaram suas aulas após ameaças, principalmente as de cidades do
interior do país, e a polícia aumentou seu efetivo. O TikTok chegou a divulgar
uma nota afirmando que trabalha para identificar fake news e mensagens
ofensivas.
"Lidamos com os rumores de ameaças com a maior seriedade, razão pela qual estamos trabalhando com as autoridades policiais para investigar as advertências de possíveis atos de violência nas escolas", disse a empresa no comunicado. "Não encontramos evidências de que tais ameaças se originaram ou se espalharam pelo TikTok", acrescentou.
No Brasil, o caso que mais deixou
os pais e os funcionários dos colégios preocupados se deu na Escola Estadual
Professor Manoel Abreu, em Linhares (ES). Dois adolescentes, de 13 e 15 anos,
postaram em grupos de WhatsApp a ameaça ao colégio. Um deles chegou a publicar
uma foto de um revólver que, segundo a polícia, seria do irmão dele.
Os alunos prestaram depoimento na
delegacia, juntamente com seus responsáveis e representantes do Conselho
Tutelar. "Com todo o procedimento de investigação das polícias civil e
militar, os dois alunos foram identificados e falaram que postaram as ameaças
em contexto de brincadeira", conta o diretor Jean Carlos Borghi de
Andrade, 30, revelando que a punição dos dois foi a transferência compulsória
para outro colégio.
Para tentar coibir novos casos,
Andrade diz que a escola passou a controlar o uso de celulares pelos estudantes
em suas dependências.
Na cidade de Granja (CE), a 328 km de Fortaleza, funcionários de uma Escola Profissionalizante encontraram várias pichações “ameaçadoras” no banheiro masculino. Conforme colheu o Ceará Acontece, a polícia foi acionada, policias militares do Raio e do P.O.G, realizaram rondas e vistorias no interior da escola e passaram todo o dia de prontidão naquela unidade escolar, sendo que nenhuma anormalidade a mais foi registrada.
Outro colégio que identificou os
estudantes foi o Nossa Senhora das Graças, o Gracinha, do Itaim Bibi, zona sul
da capital paulista. Segundo o diretor Wagner Cafagni Borja, 59, quatro alunos
foram identificados e alegaram estar seguindo um desafio de um grupo do Tiktok,
de como parar sua escola por um dia.
"Os estudantes foram punidos
de acordo com nosso regimento. Foram suspensos por quatro dias, durante os
quais fizeram três encontros com a direção/orientação, dois dos quais na
presença das famílias, e estão produzindo um trabalho sobre a questão das mídias
sociais e o comportamento das massas", conta Borja.
No Colégio Universitário USCS, de
São Caetano do Sul (SP), a pichação foi na porta de um dos banheiros da
universidade, a que os alunos do colégio têm acesso. Por isso, até mesmo alunos
de graduação pediram para que as aulas fossem suspensas, o que não aconteceu.
"O termo 'massacre', escrito
na parede de um dos banheiros (apesar da compreensível aflição causada junto à
comunidade acadêmica) mostrou-se ser apenas isso: uma pichação de banheiro",
diz o colégio em nota à reportagem.
Na cidade de Primavera do Leste
(MT), a 234 km de Cuiabá, uma estudante de 12 anos criou um perfil falso no
Instagram para disseminar as mensagens de massacre no colégio particular San
Petrus. No entanto, a Polícia Civil conseguiu sua identificação.
"A menor foi localizada e
conduzida à delegacia, onde foi ouvida. Na presença da sua mãe, ela confessou
que criou o perfil com a intenção de fazer uma 'brincadeira', assustando as
pessoas", afirma a Secretaria de Segurança Pública de Mato Grosso, em
nota.
Primavera do Leste é uma das
várias cidades pequenas que sofreram com ameaças em escolas recentemente.
Nesses casos, a população acaba sendo afetada mais diretamente, e as
autoridades precisam se pronunciar para acalmar os pais. Foi o que fez o
prefeito de Passos, no sul mineiro.
Diego Rodrigo de Oliveira (PSL)
recorreu às redes sociais para explicar o ocorrido. "Trata-se realmente de
uma fake news. Você pai, você mãe, pode ter certeza que seus filhos estarão
seguros em nossas escolas. E, qualquer tipo de afronta às nossas escolas, as
forças de segurança já estão preparadas", alertou.
Na cidade de Atibaia, a 66 km de
São Paulo, foi a Secretaria de Segurança Pública da prefeitura que divulgou um
comunicado nas redes sociais informando que "não há qualquer evidência de
suspeita de real ocorrência, considerando os estudos já realizados em todo o
país de fake news gerados por adolescentes com o intuito de provocar pânico
entre os pais e alunos".
Comunicado da Secretaria de
Segurança Pública de Atibaia (SP) para acalmar a população depois dos casos de
pichação nas escolas do município Divulgação Comunicado da Secretaria de
Segurança Pública de Atibaia (SP) para acalmar a população depois dos casos de
pichação nas escolas do município **** Segundo os órgãos de segurança pública,
um dos maiores problemas desse tipo de fake news, além do terror que provoca na
comunidade, é a necessidade de deslocamento de grande aparato policial para a
investigação, tirando as forças de outras ações.
A Secretaria de Segurança Pública
de São Paulo, em nota, diz que todas as denúncias são investigadas e o trabalho
de campo dos policiais tem constatado a improcedência das ameaças. O órgão
destaca que esse tipo de fake news é crime.
"Os responsáveis por
denúncias falsas às polícias podem responder por ato infracional, se o autor
for menor de idade, ou crime de ameaça, caso alguém se sinta lesado e resolva
representá-lo", diz ainda a nota.
A Secretaria da Educação do
Estado de São Paulo, por sua vez, afirma que atua em parceria com os órgãos de
segurança pública em todo estado "para a conscientização das comunidades
escolares em relação à proliferação deste tipo de conteúdo".
"A Secretaria da Educação do
Estado de São Paulo conta com o Gispec (Gabinete Integrado de Segurança e
Proteção Escolar), que realiza estudos sobre a violência na área de segurança
das escolas e o planejamento de estratégias, e monitora diariamente as
escolas", diz a pasta.
*Com informações: FOLHAPRES e Camocim Policia 24hs
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