A chinesa Higer enviou ao Qatar,
país sede da próxima Copa do Mundo, 1,8 mil ônibus elétricos para o transporte
dos torcedores das 32 equipes classificadas. No Brasil, os programas de
eletrificação da frota de ônibus urbanos devem avançar principalmente na
capital paulista.
A fabricante chinesa montou um
plano de negócios para ganhar as ruas do Brasil e fazer do país a porta de
entrada para os vizinhos das Américas do Sul e Central, como Peru e Colômbia.
Ela pretende disputar um jogo que tem como favoritas as grandes marcas que
dominam o mercado brasileiro, algumas há mais de 60 anos rodando no país.
Jovem quando comparada aos seus
concorrentes, principalmente os europeus, a Higer nasceu em 1998 e hoje tem
quatro fábricas na China, que alcançaram faturamento de US$ 5,5 bilhões no ano
passado. “Temos 50 mil ônibus elétricos rodando, a maior parte na China. Mas
também na Europa”, afirma Marcelo Barella, diretor para América Latina da
Higer. No Brasil, os chineses vão atuar pela TEVx Motors, que será a
importadora e distribuidora dos veículos.
A Higer montou um plano de
negócios no qual os operadores do sistema de transporte, sejam privados ou
públicos, não vão precisar comprar os veículos nem se preocupar com a
infraestrutura de carregamento. Tudo será alugado. O ônibus elétrico é 2,5
vezes mais caro quando comparado ao movido a diesel. “Um ônibus a combustão
fica em torno de R$ 900 mil. O elétrico chega a R$ 2,6 milhões”, diz Barella.
Para disputar o fornecimento de
ônibus elétricos em São Paulo, o maior mercado, ela fechou acordo com a
companhia italiana de energia elétrica Enel. A elétrica tem a concessão de
distribuição na capital paulista e mais 22 municípios na região metropolitana.
É a Enel que vai disputar a
licitação ou concorrência para fornecimento dos veículos. Caso vença, a
comoanhia compra os veículos da Higer, monta a estrutura de carregamento e
aluga todo o pacote para os operadores. A Higer fica responsável pela manutenção
dos ônibus e treinamento dos motoristas. Inclusive com pessoal próprio dentro
das garagens dos operadores.
“O sistema de aluguel permite que
a troca da frota seja feita o mais rapidamente possível. Se o operador tivesse
de comprar um ônibus elétrico, não sei se conseguiria o crédito para isso”,
avalia Barella. Ele lembra que São Paulo tem frota de 14 mil ônibus e planeja
chegar em 2028 com 12 mil deles movidos à eletricidade. Desse total, 2,6 mil
até 2024, sendo 600 unidades entre 2022 e 2023.
A Higer investiu US$ 10 milhões
para adaptar os ônibus às normas brasileiras. “Temos todo o ferramental pronto.
Se eu tiver uma encomenda de mil ônibus, tenho condições de atender.”
Se os planos da Higer caminharem
como esperado, a empresa estimar ter 300 funcionários em 2023 e atingir 500 em
2024. Seriam de oito a dez funcionários em cada garagem.
Movidos a bateria, a princípio os
veículos serão importados inteiros, mas a empresa negocia com o governo do
Ceará uma área em Pecém para instalar sua linha de montagem, com investimento
estimado de US$ 20 milhões. Com a unidade local, a ideia é importar os ônibus
em sistema de PKD (Partial Knock-Down). “A estrutura do carro vem pronta e aqui
colocamos vidros, assentos e motor”, conta.
Em um segundo momento, seria adotado
o SKD (Semi Knock-Down), com maior valor agregado local. Barella explica que
boa parte dos fornecedores da montadora na China já estão no Brasil e poderiam
atender as necessidades da Higer no Ceará. São fornecedores globais como
Siemens e Dana, para motores; ZF para suspensão; Bosch para caixas de direção;
ou Wabco para freios. As baterias são da CATL, que fechou acordo com a
fabricante brasileira de baterias Moura para serviços de pós-venda. A unidade
cearense também será a base de exportação para a região.
A escolha do Ceará revela o
próximo passo da estratégia da montadora para o Brasil: os ônibus a hidrogênio.
O Estado tem grande oferta de energia limpa e promessa de vários projetos para
produção de hidrogênio verde no médio prazo. A Higer já tem 400 ônibus a
hidrogênio rodando na China. Mas para o Brasil se trata de um projeto de mais
longo prazo.
(O Intrigante)
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