Em 2022, o país consumiu 5,1 milhões de toneladas de gás de cozinha em botijões de até 13 quilos (Foto: divulgação) |
A escalada do preço levou o
consumo brasileiro de botijões de gás de até 13 quilos, mais usados em
residências, a fechar 2022 no pior patamar em dez anos, segundo levantamento
feito pelo OSP (Observatório Social do Petróleo). O consumo per capita, de
43,25 metros cúbicos para cada mil habitantes foi o pior desde que os dados
passaram a ser compilados pela ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e
Biocombustíveis), em 2001.
O setor defende maior rigor na
aplicação do vale-gás, benefício concedido pelo governo para a compra de
botijões por famílias de baixa renda e que hoje não é carimbado para a
aquisição do produto, ou seja, as famílias podem usar o dinheiro para outras
finalidades. O benefício é pago a cada dois meses, no mesmo dia do pagamento do
Auxílio Brasil, que passará a se chamar Bolsa Família.
Em 2022, o país consumiu 5,1
milhões de toneladas de gás de cozinha em botijões de até 13 quilos. O volume
representa uma queda de 2,59% em relação ao verificado no ano anterior. Com
algum aumento do consumo em outros vasilhames, as vendas totais do produto
caíram 0,85% no ano. “O principal fator explicativo para isso é o preço”, diz o
economista Eric Gil Dantas, do OSP e do Ibeps (Instituto Brasileiro de Estudos
Políticos e Sociais). Em 2022, o botijão de 13 quilos foi vendido, em média, a
R$ 109,86, o maior valor desde o início da divulgação dos dados pela ANP, mesmo
considerando a inflação.
Ele lembra que o consumo de
botijões manteve-se praticamente estável entre 2007 e 2017, começando a cair em
2018 -com exceção de 2020, quando as vendas cresceram 5,1% impulsionadas pelo
isolamento social. “O preço real (descontada a inflação) de 2022 é 49% superior
à média de 2007-2017”, afirma Dantas, em comunicado distribuído pelo OSP.
A escalada do preço do gás de
cozinha acompanhou valorização das cotações internacionais do petróleo após o
período mais crítico da pandemia, em 2020. Foi alvo de críticas da oposição e
levou o governo a instituir um benefício para minimizar os impactos sobre os
mais pobres. O produto tem grande peso sobre o orçamento das famílias de baixa
renda e, diante do elevado desemprego e da escalada dos preços, muitos tiveram
que trocar o fogão a gás por lenha para preparar alimentos.
Representante das distribuidoras
de GLP (gás liquefeito de petróleo, como é conhecido o gás de cozinha), o
Sindigás vem defendendo que o valor pago pelo governo como vale-gás seja
direcionado apenas para a compra do produto. “O setor considera que o alvo de
ações sociais não deve ser as vendas de botijões, mas sim garantir que o
Auxílio Gás seja direcionado para combater a lenha na matriz energética
residencial”, diz o presidente da entidade, Sergio Bandeira de Mello.
Parte da queda do consumo em
botijões pode ser explicada pelo aumento em outros vasilhames, com a abertura
de novos mercados para embalagens maiores no comércio, indústria e residências
mais modernas com centrais de gás.
Mas ainda assim, especialistas
veem dificuldades dos governos para lidar com a chamada “pobreza energética”,
que o pesquisador da UFRJ Richarde Junior classifica como a dificuldade de
acesso a recursos energéticos seguros, modernos e sustentáveis devido à
condição de vulnerabilidade social. Em seu último Balanço Energético Nacional,
por exemplo, a EPE (Empresa de Pesquisa Energética) estima que o consumo
residencial de lenha aumentou 3,2% em 2021, atingindo o maior patamar ao menos
desde 2012.
(Nicola Pamplona/Folhapress)
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