Foto: Marcelo Camargo/Agência
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Pesquisadores da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Universidade Federal do Estado do Rio de
Janeiro (UniRio) descobriram que a proteína Spike do SARS-CoV-2, quando
injetada no cérebro de camundongos, induz alterações de memória. Essas mudanças
ocorrem de forma tardia, em torno de 20 a 30 dias após a infecção, tal como
acontece com seres humanos infectados pelo vírus da covid-19.
“Imita bem o que acontece na
doença. Quando isso ocorre, a gente está na frente de um bom modelo
experimental”, disse nesta segunda-feira (10) a neurocientista Claudia
Figueiredo, da Faculdade de Farmácia da UFRJ, uma das líderes da pesquisa. O
artigo foi publicado no periódico internacional Cell Report.
Pesquisas clínicas com pacientes
que tiveram covid-19 mostraram que, depois que passa a fase aguda da doença,
eles têm um prejuízo da memória que aparece meses depois. Segundo Claudia
Figueiredo, o experimento mostrou que não era necessário ter o vírus replicado
nos camundongos, mas bastava a proteína estar disponível no cérebro para causar
prejuízo de memória. “A gente avançou na caracterização do mecanismo. E isso é
superimportante porque, quando a gente descobre o mecanismo, abre portas para
fazer terapias mais direcionadas”. Para a avaliação da função de memória dos
camundongos, os pesquisadores usaram diferentes estratégias comportamentais,
incluindo testes de reconhecimento de padrões e do labirinto aquático.
Bloqueio
Ao mesmo tempo, os 25
pesquisadores das duas instituições identificaram moléculas que, quando estão
inibidas, não há esse prejuízo de memória. Para bloquear as moléculas que
causavam as perdas de memória, foram usados animais geneticamente modificados
que tinham deleção, ou remoção, de uma proteína. “Nós vimos que animais que
tinham uma deleção nessa via não desenvolviam o prejuízo de memória. Foi usado
então um inibidor dessa via e viu-se que, quando se inibe a via, a proteína
Spike não exerce essa patogênese sobre a memória, através dessa proteína. Essa
descoberta pode ser um caminho para a prevenção desse prejuízo de memória”,
explicou Claudia.
A neurocientista informou que já
existem medicamentos no mercado, usados para tratar artrite reumatoide, que
poderiam ser testados em pacientes com covid-19 ou que já tiveram a doença,
para ver se é possível prevenir essa perda de memória. “Pode ser uma situação
de reposicionar fármaco”, apontou. Ela advertiu, no entanto, que para que esses
medicamentos sejam usados em seres humanos, é preciso que se realizem ensaios
clínicos nos pacientes.
Testes clínicos
A ideia, a partir de agora, é que
outros grupos de cientistas que trabalham com pesquisa clínica se dediquem a
testar essas ferramentas, para que fiquem disponíveis para os pacientes, uma
vez que os fármacos disponíveis no mercado para outras doenças já passaram pela
fase de avaliação de toxicidade. “Deve ser testado em pacientes que tiveram
covid e têm maior chance de desenvolver prejuízo de memória ou em pessoas que
têm fatores de risco para desenvolverem essas perdas de memória”. Segundo
Claudia Figueiredo, é importante que os testes sejam feitos logo depois de o
paciente ter covid-19, como maneira de prevenir. “Não dá para esperar o
prejuízo de memória se instalar”, ressaltou.
O estudo foi financiado pela
Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Rio de Janeiro (Faperj) e
pelo Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino.
*(Agência Brasil)
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