Foto: (Alece / Divulgação) |
Sobre as informações publicadas
pelo O Otimista nesta segunda-feira (26), na matéria intitulada “Para rolar
dívida, Governo Elmano prepara o maior empréstimo estrangeiro da história do
Ceará, de R$ 2,6 bilhões”, parlamentares avaliam como preocupante o cenário
fiscal do Estado. O deputado estadual Felipe Mota (União Brasil) afirma que
esse endividamento remonta à gestão anterior e resvala hoje no Governo de
Elmano de Freitas (PT).
“Eu acho que o Camilo Santana
endividou o Estado para poder eleger o governador Elmano e o presente que ele
ganha é administrar essa dívida”, declarou. Para Mota, operações de
refinanciamento de dívidas comprometem a reputação fiscal do Ceará junto a
outros credores e enfraquece a capacidade do Estado em realizar investimentos
necessários ao desenvolvimento da economia.
“O Estado está insolvente e
caminha para um modelo de gestão em que nós vamos perder a categoria de um
Estado bem alinhado com nossas finanças. Cada vez que o Ceará fica mais
endividado, nós perdemos condições de investimento em políticas públicas
sociais e o povo fica mais pobre”, explica o parlamentar.
O deputado elenca setores que
podem perder investimentos conforme o Estado vai se endividando, como melhoria
tecnológica na agropecuária, duplicação de estradas para escoamento de
produção, ou ainda o desenvolvimento social, com a construção de escolas, por
exemplo.
“O Ceará vai pagar um preço
enorme no futuro. Enquanto isso, as cadeias produtivas estão todas em
dificuldade. Estamos vendo a questão da intersetorialidade em investimentos do
Governo não acontecendo. Você já parou para imaginar como vai ser para o futuro
governador daqui a quatro ou oito anos, a dificuldade que ele vai ter?”,
questiona.
Para Mota, a curto prazo, uma das
principais consequências da contratação de empréstimos para rolagem de dívida é
perder reputação em relação à política fiscal. O deputado afirma que, além da
solicitação de R$ 2,6 bilhões, divulgados pelo O Otimista, outras ações
recentes do Governo contribuem para o desequilíbrio fiscal do Estado.
“R$ 900 milhões em empréstimos ao
Banco do Brasil para rolar dívida, criação de 15 novas secretarias em um
momento de dificuldade financeira, aumento de 2% do ICMS: tudo o que não se
pode fazer em equilíbrio fiscal o governador Elmano fez”, aponta o deputado.
Orçamento
Para o deputado estadual Queiroz
Filho (PDT) a contratação de um segundo empréstimo para rolagem de dívida,
ainda no primeiro semestre de governo, levanta preocupações. De acordo com o
parlamentar, até agora, o Estado aplicou apenas 10% do orçamento previsto para
investimento no Ceará.
“Essa solicitação demonstra que o
Estado está em uma situação delicada, mas que não assume por ser um governo de
continuidade. O Ceará enfrenta uma crise fiscal e financeira e age como se não
tivesse. Só fez aumento de gastos e não teve o cuidado de redução de despesas
no início do governo”, afirma o parlamentar.
Na avaliação de Queiroz Filho, o
cenário sugere uma crise gerencial, especialmente diante das obras ainda
inacabadas no interior do Estado, e uma crise financeira que exige que o
Governo contraia novas dívidas.
De modo similar, o deputado
estadual Antônio Henrique (PDT) entende o Executivo estadual deveria ser mais
transparente em relação à real situação fiscal do Ceará. Para ele, os sinais
apresentados para o Governo é de dificuldade de honrar compromissos que já
constavam na conta do Estado.
“Como é um governo de
continuidade, a minha avaliação é que a gestão atual talvez não queira falar a
verdade. Se fizer isso, ele vai estar atingindo o governador que sucedeu e que
foi o seu principal padrinho”, afirma Antônio Henrique.
Para o deputado, há uma
preocupação de que o Estado reduza os investimentos nas obras públicas e que,
com o desdobramento dessas dívidas, comprometa, inclusive, o pagamento de
servidores públicos.
“O Governo dá a entender que está
tendo dificuldade de honrar os compromissos e o custeio da máquina pública. A
preocupação aumenta porque, se o Estado não tem essas condições, ainda assim
ele aumentou mais ainda a sua folha de pagamento e o gasto com pessoal quando
criou diversas secretarias”, declarou o pedetista.
O deputado estadual Carmelo Neto
(PL) avalia que o atual endividamento do Estado repercute a gestão anterior, do
ex-governador Camilo Santana (PT). O parlamentar afirma que votou contra a
contratação do empréstimo junto ao Banco do Brasil, no valor de R$ 900 milhões.
Para ele, isso reflete uma crise financeira e orçamentária que o atual
governador herda da gestão anterior.
“Essa é, na verdade, a conta da
campanha eleitoral, conta gestada por Camilo Santana que endividou o Estado e
fez de tudo para eleger seu sucessor. Agora essa conta chegou para o povo
cearense pagar”, afirma o parlamentar.
Para Capitão Wagner (União
Brasil), secretário de saúde de Maracanaú, o montante de mais de R$ 3 bilhões
de reais do somatório dos dois empréstimos que o Executivo contraiu pra
refinanciamento de dívidas denota problemas na atual gestão.
“Um Governo que deveria estar
trabalhando para resolver os problemas do Ceará, trabalha somente para
endividar ainda mais o Estado. Se dizia na campanha que o caixa do Estado
estava cheio de dinheiro e vemos agora que o povo foi enganado mais uma vez”,
afirma Wagner.
Máquina pública
O deputado federal Danilo Forte
(União Brasil) entende que a prática de rolagem de dívidas por meio da
contração de novas despesas cria uma situação insustentável para o Estado. A
prática indica uma crescente que pode fazer com que as contas públicas entrem
em insolvência financeira, ou seja, situação em que o devedor é incapaz de
pagar as suas contas.
“Quando se busca recursos para
fazer investimentos e eles começam a dar retorno, isso, por si só, paga os
financiamentos. Mas nós temos no Ceará um custo muito elevado de uma máquina
pública. A política do cabide de emprego nunca foi tão acentuada”, afirma o
parlamentar.
Para ele, a acomodação de várias
secretarias dentro do Governo, algumas com finalidades similares, aumenta os
gastos do Estado, sobretudo com folha de pagamento. Para ele, o cenário demanda
uma análise mais profunda de como os recursos estão sendo gastos.
“Nós não vamos resolver o
problema só rolando a dívida. Vamos resolver racionalizando os custos, dando
eficiência ao gasto público e fazendo com que as pessoas possam ter um
crescimento econômico, principalmente porque é visível o empobrecimento da
população cearense”, afirma.
O deputado entende que o atual
momento exige uma mudança na forma em que os gastos públicos são administrados,
sobretudo tendo em vista a manutenção da reputação fiscal.
“O Ceará foi um caso de sucesso
administrativo que vem de era passadas, desde a época do ex-governador Tasso
Jereissati, de garantir equilíbrio fiscal e da confiabilidade no quesito
finanças públicas. Estou preocupado em ver essa política de gastos excessivos
que não trazem retorno para a população cearense”, afirma.
Economia
Para Marcos Holanda, professor do
departamento de Economia Aplicada da Universidade federal do Ceará (UFC) e
ex-presidente do Banco do Nordeste (BNB), a solicitação de empréstimos junto a
instituições internacionais para refinanciamento de dívidas é um forte
indicador de problemas economia do Estado.
“A situação fiscal do Ceará tem
piorado. Nós construímos uma marca de disciplina fiscal importante ao longo de
vários governos, mas o cenário tem ficado preocupante. Se o Governo está aumentando
suas dívidas é porque as contas não estão bem gerenciadas, e porque o Estado
está tendo que financiar essas contas via novas dívidas”, explica o economista.
Holanda avalia que há uma
distinção importante entre empréstimos destinados a investimentos públicos e
aquele contratados para pagamento de dívidas já existentes. Para ele, esse tipo
de operação aumenta o endividamento do Estado. Isso porque o Ceará, de acordo
com o economista, “está refinanciando a dívida em um momento em que as taxas de
juros no mundo todo estão muito altas. Essa é uma dívida em dólar e com juros
altos”.
A reportagem do O Otimista
apontou que o valor destinado às dívidas pelo Governo do Ceará em 2023 é 40%
maior que o previsto para investimentos. A relação aponta um desnível entre a
aumento de receita e os gastos com amortização de despesas.
Holanda acrescenta que, de acordo
com relatório do Tesouro Nacional que avalia a evolução da renda corrente dos
estados nos primeiros quatro meses de 2023, o Ceará apresentou um aumento de receita
de cerca de 2% enquanto as despesas cresceram 19%.
Para ele, esses fatores —
crescimento de despesas em relação à receita e o Governo recorrer a
financiamentos para pagar dívidas — acendem um alerta na situação fiscal do
Estado.
“Ou o Estado vai ter que tomar
mais dinheiro emprestado, ou vai ter que gastar o caixa que ele acumulou. Eu
acho que é isso que vai acontecer, e, provavelmente, vai reduzir investimento,
principalmente nesse cenário em que as despesas estão subindo bem acima das
receitas”, afirma o economista.
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