(Foto: Ton Molina /Fotoarena/Folhapress) |
Por 21 votos a 5, a CCJ (Comissão
de Constituição e Justiça) do Senado aprovou o nome de Cristiano Zanin, 47,
para o STF (Supremo Tribunal Federal). Zanin é o primeiro indicado por Lula
(PT) no atual mandato e é amigo do presidente, para quem advogou nas ações da
Operação Lava Jato. Agora, a aprovação será analisada no plenário do Senado.
A proximidade com o presidente
levantou críticas à indicação entre opositores e em círculos do mundo jurídico,
mas o advogado tem a aprovação de ministros do STF e de grande parcela de
políticos. Caso seja aprovado, Zanin poderá ficar no STF até novembro de 2050,
quando completa 75 anos, idade da aposentadoria compulsória de ministros da
corte. Ele ocupará a vaga do ministro aposentado Ricardo Lewandowski.
Ao longo da semana passada, o
indicado de Lula fez um périplo pelos gabinetes do Senado para se aproximar dos
parlamentares e angariar apoio mesmo entre evangélicos e opositores do atual
governo.
A sabatina transcorreu sem
sobressaltos e com elogios ao advogado, inclusive de opositores do presidente.
Senadores se manifestaram de forma positiva, sobretudo, ao perfil garantista de
Zanin –ou seja, que reforça o direito de ampla defesa de acusados e
investigados. Com parte dos senadores investigados e outra parte em busca de
blindagem para evitar problemas judiciais, a avaliação nos últimos meses foi de
que a postura jurídica de observar com atenção o respeito às garantias dos
investigados teria grande peso no voto dos parlamentares. Quase metade da atual
composição do Senado já foi alvo de inquérito ou de processo criminal conduzido
pelo Supremo.
Em seu discurso inicial, antes de
iniciar a etapa das perguntas na sabatina desta quarta, Zanin se defendeu de
ser chamado de termos como “advogado pessoal” e “advogado de luxo” de Lula.
“Sou advogado. Alguns me rotulam como advogado pessoal, porque lutei contra
interesses pessoais, sempre respeitando as leis brasileiras e a Constituição”,
afirmou. “Também me classificam como advogado de luxo, porque defendi,
estritamente com base nas leis brasileiras causas empresariais de agentes
institucionais importantes para a economia e que empregam milhares de pessoas.
Ainda me chamam de advogado de ofício, como se fosse um demérito.”
Questionado pelo senador Veneziano
Vital do Rêgo (MDB-PB) se o fato de ter sido advogado de Lula pode
constrangê-lo em julgamento ou comprometer sua imparcialidade, Zanin afirmou
que, uma vez nomeado, vai se guiar pela Constituição e não estará subordinado
“a quem quer que seja”. “Em minha visão, e acredito que também é a visão do
presidente da República que me indicou, um ministro do Supremo Tribunal Federal
só pode estar subordinado à Constituição da República”, afirmou.
O advogado disse ao senador
Sergio Moro (União Brasil-PR) que irá analisar caso a caso os processos da Lava
Jato antes de se declarar impedido ou suspeito. A esperada interação dos dois
na sabatina girou em torno da possibilidade de o advogado julgar processos da
operação e ocorreu sem sobressaltos.
Zanin e Moro têm rusgas desde que
o advogado defendeu Lula na Lava Jato, da qual Moro era juiz. “Num passado
recente, quase tudo o que funcionava em varas especializadas criminais muitas
vezes recebia a etiqueta de Lava Jato. Isso não é para mim um critério para um
controle jurídico, mas sim aquele que a lei prevê, que é analisar as partes e o
conteúdo”, afirmou. “Uma vez identificada uma hipótese de impedimento e
suspeição, não terei o menor problema em declarar o impedimento ou a suspeição
e não participar do julgamento.”
Durante a sua carreira como
advogado de Lula, Zanin ficou conhecido por questionar a imparcialidade dos
juízes que julgavam as ações contra o presidente, muitas vezes apontando o que
considerava serem relações suspeitas. Lula teve condenações anuladas porque o
Supremo considerou parcial o ex-juiz Sergio Moro, a partir de um recurso
apresentado por Zanin.
Na articulação para ser aprovado,
o advogado contou com a ajuda de ministros do STF que têm boa relação com o
mundo político, como Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes, e até dos indicados
do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para a corte, como Kassio Nunes Marques e
André Mendonça.
Na sabatina, o senador Flávio
Bolsonaro (PL-RJ) usou sua fala para fazer críticas ao julgamento do seu pai
Jair Bolsonaro no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e ao inquérito aberto pelo
ministro Alexandre de Moraes. Uma das perguntas feitas nesta quarta-feira (21)
por Flávio foi sobre o que Zanin pensa da “famigerada prática de ‘fishing
expedition'”. “É uma pescaria, como chamado no mundo jurídico, na qual se joga
uma rede, puxa e se vê o que é que vem agarrado nela, mesmo sem fundamento
nenhum”, explicou o termo. “Sabe como é que é, quando se diz que vai buscar o
cartão de vacinação na casa de alguém para pegar o telefone celular?”,
continuou.
A referência de Flávio é à
investigação sobre fraudes no cartão de vacinação de Bolsonaro, que apreendeu o
celular do tenente-coronel Mauro Cid, que foi ajudante de ordem do
ex-presidente. Em resposta, Zanin disse que a prática do fishing expedition
deve ser condenada. “O estado não pode eleger alguém como alvo e depois buscar
provas contra esse alvo”, afirmou, acrescentando que essa prática tem levado à
anulação de processos.
Flávio também comparou o processo
que pode levar à inelegibilidade do seu pai no TSE, sobre o encontro com
embaixadores no qual repetiu mentiras sobre urnas eletrônicas, ao que absolveu
a chapa Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB) em 2017. “Eu quero crer que o
TSE, em especial o ministro Alexandre de Moraes julgará uma ação movida pelo
PDT com a mesma lisura que julgou a ação do PSDB em 2017, que manteve Temer no
poder e, graças a isso, Alexandre de Moraes hoje é ministro do Supremo Tribunal
Federal”, acrescentou. E perguntou: “O senhor entende que processos instruídos
sem o devido processo legal, contraditório ou com provas fora do prazo legal
são passíveis de nulidade?”.
Zanin disse que não conhece o
caso concreto e que não comentaria um caso concreto. Mas acrescentou que “de
modo geral, os processos têm um rito e cada fase que é encerrada não pode ser
reaberta”. Zanin ficou conhecido em sua carreira sobretudo por ter feito uma
defesa aguerrida de Lula. Acabou se tornando alvo inclusive do próprio PT por
sua estratégia durante a prisão de 580 dias do presidente.
Desde o início deste ano, Lula já
dava sinais de que indicaria Zanin à corte. Ao anunciar a sua escolha, o
presidente disse achar que “todo mundo esperava” que o advogado seria o
escolhido. “[Indiquei] não só pelo papel que teve na minha defesa, mas
simplesmente porque eu acho que Zanin se transformará num grande ministro da
Suprema Corte desse país”, disse o presidente. “Conheço as qualidades como
advogado, conheço as qualidades dele como chefe de família e conheço a formação
dele. Ele será um excepcional ministro do STF se aprovado pelo Senado, e
acredito que será, e acho que o Brasil vai se orgulhar de ter o Zanin como
ministro da Suprema Corte”, afirmou.
*(José Marques/Folhapress)
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