Cristiano Zanin em sabatina no
Senado (Foto: Evaristo Sá/AFP) |
Com perspectiva de uma aprovação
sem percalços, o Senado iniciou na manhã desta quarta-feira (21) a sabatina de
Cristiano Zanin, 47, primeiro indicado do presidente Lula (PT) para uma vaga no
STF (Supremo Tribunal Federal).
Em seu discurso inicial aos
senadores, antes de se iniciarem a etapa das perguntas, Zanin se defendeu de
ser chamado de termos como “advogado pessoal” e “advogado de luxo”.
Zanin é amigo pessoal de Lula e
advogou para ele em processos da Operação Lava Jato, mas também tem um
histórico de atuação como representante jurídico de grandes empresas e de
outros políticos. A proximidade com o presidente levantou críticas à indicação
entre opositores e em círculos do mundo jurídico, mas o advogado tem a
aprovação de ministros do STF e de grande parcela de políticos.
“Sou advogado. Alguns me rotulam
como advogado pessoal, porque lutei contra interesses pessoais, sempre
respeitando as leis brasileiras e a Constituição”, afirmou.
“Também me classificam como
advogado de luxo, porque defendi, estritamente com base nas leis brasileiras
causas empresariais de agentes institucionais importantes para a economia e que
empregam milhares de pessoas. Ainda me chamam de advogado de ofício, como se
fosse um demérito.”
“Repito sempre que procurei
desempenhar minha função lutando com maestria acreditando no que é mais caro
para qualquer profissional do direito: a Justiça”, disse o advogado indicado
por Lula.
Ainda sobre o tema, Zanin afirmou
que sempre em suas atuações como advogado seguiu “premissas análogas à de um
juiz” por se manter “em equilíbrio emocional e intelectual, mesmo nas horas de
grandes desafios”, e por “ter senso de justiça, sem nunca desacreditar nas leis
e nas instituições”.
O discurso inicial na sabatina
durou pouco mais de 20 minutos. Após a sabatina da CCJ (Comissão de
Constituição e Justiça), o colegiado realizará uma votação secreta do nome de
Zanin, na qual o resultado é apenas simbólico. Depois, a decisão passa ao plenário.
Caso seja aprovado, Zanin poderá
ficar no STF até novembro de 2050, quando completa 75 anos, idade da
aposentadoria compulsória de ministros da corte. Se aprovado pelo Senado, ele
ocupará a vaga do ministro aposentado Ricardo Lewandowski na corte.
Ao longo da semana passada, o
indicado de Lula fez um périplo pelos gabinetes do Senado para se aproximar dos
parlamentares e angariar apoio mesmo entre evangélicos e opositores do atual
governo. No último dia 15, o senador Veneziano Vital do Rego (MDB-PB) leu seu
relatório sobre a indicação de Zanin e afirmou que o advogado atende aos
pré-requisitos para ocupar a vaga.
Veneziano ressaltou os artigos
publicados e a carreira dele de 25 anos como advogado empresarial,
internacional, na área de comunicação e eleitoral, além da “construção e
manutenção de nossa jurisprudência constitucional, por meio da subscrição de
várias Reclamações Constitucionais, a fim de velar pela autoridade das decisões
da Supreme”.
A imagem de um garantista
convicto conquistada nos embates com o ex-juiz Sergio Moro e outros integrantes
da Lava Jato é um dos principais fatores que deixaram o governo Lula otimista
para a aprovação fácil de Zanin no Senado.
Com parte dos senadores
investigados e outra parte em busca de blindagem para evitar problemas
judiciais, a avaliação é que a postura jurídica de observar com atenção o
respeito às garantias dos investigados terá grande peso no voto da maioria dos
parlamentares.
Na articulação para ser aprovado,
o advogado contou com a ajuda de ministros do STF que têm boa relação com o
mundo político, como Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes, e até dos indicados
do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para a corte, como Kassio Nunes Marques e
André Mendonça.
Zanin ficou conhecido em sua
carreira sobretudo por ter feito uma defesa aguerrida, porém técnica, de Lula.
Acabou se tornando alvo inclusive do próprio PT por sua estratégia durante a
prisão de 580 dias do presidente. Em agosto de 2019, por exemplo, a Justiça de
São Paulo determinou que Lula fosse transferido da carceragem da Polícia
Federal em Curitiba para o presídio de Tremembé (SP).
Pessoas ligadas ao PT defenderam
uma petição ao Tribunal de Justiça de São Paulo para que Lula fosse mantido na
PF. Zanin insistiu em ir diretamente ao Supremo e teve de bater o pé para
avançar. Sua manobra se mostrou a mais acertada porque, rapidamente, o STF
decidiu pela manutenção de Lula em Curitiba. Um mês depois, o mesmo grupo
tentou convencer Lula a pedir um habeas corpus humanitário e prisão domiciliar.
Zanin foi até a prisão em
Curitiba e reclamou para Lula das bolas nas costas que vinha recebendo na
condução dos processos. Deu um ultimato e saiu da cadeia com a carta na qual o
petista fincou o pé e avisou que não trocaria sua “dignidade” por sua
“liberdade”. O recado era o de que Zanin mandava no caso.
Desde o início deste ano, Lula já
dava sinais de que indicaria Zanin à corte. Ao anunciar a sua escolha, o
presidente disse achar que “todo mundo esperava” que o advogado seria o
escolhido. “[Indiquei] não só pelo papel que teve na minha defesa, mas
simplesmente porque eu acho que Zanin se transformará num grande ministro da
Suprema Corte desse país”, disse o presidente.
“Conheço as qualidades como
advogado, conheço as qualidades dele como chefe de família e conheço a formação
dele. Ele será um excepcional ministro do STF se aprovado pelo Senado, e
acredito que será, e acho que o Brasil vai se orgulhar de ter o Zanin como
ministro da Suprema Corte”, afirmou.
Imparcialidade
Na sabatina desta quarta-feira,
questionado pelo senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB) se o fato de ter sido
advogado de Lula pode constrangê-lo em julgamento ou comprometer sua
imparcialidade, Zanin afirmou que, uma vez nomeado, vai se guiar pela
Constituição e não estará subordinado “a quem quer que seja”.
“Em minha visão, e acredito que
também é a visão do presidente da República que me indicou, um ministro do
Supremo Tribunal Federal só pode estar subordinado à Constituição da
República”, afirmou. “Uma das marcas da minha carreira foi a busca da
imparcialidade nos julgamentos que participei. A questão da imparcialidade para
mim é fundamental e é um dos elementos estruturantes da Justiça.”
Lula teve condenações anuladas na
Operação Lava Jato porque o Supremo considerou parcial o ex-juiz Sergio Moro,
hoje senador, a partir de um recurso apresentado por Zanin.
(José Marques-Folhapress)
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